tráfego lento.

Ela era uma jovem, que se dizia cansada de tudo que já tinha passado. Que estava malandreada da vida, que algumas atitudes do mundo já não iludiam mais a cabeça dela. Era uma mulher tão segura do seu rumo, que parecia que nenhum problema no seu caminho parecia alterar o tempo de sua viagem, sabia sempre onde virar antes ou brecar longe do perigo. Como se além de evitar qualquer contratempo no caminho, parecesse que ela sabia aonde poderia encontrar um congestionamento. Era realmente difícil de surpreender aqueles olhos castanhos que seguiam acima do volante, por toda aquela velha e conhecida estrada. Sabia perfeitamente desviar antes que qualquer buraco a fizesse trepidar, tinha contado cada centavo para cada pedágio e não se irritava com congestionamento já há alguns anos.

Ela era uma jovem, que não parava no acostamento. Por maiores fossem as suas desventuras nas rodovias da vida, sempre teve a sorte de seu veículo nunca dar problema. Mas vira e mexe, quando o sol batia contra sua lataria acinzentada, era possível ver alguns pequenos arranhões, algumas batidas que pareciam ter sido melhoradas. Algumas estacionadas sem olhar pra trás com tanto carinho, alguém que passou falando algo que não devia e tomou a sua atenção e acabou levando um pequeno pedaço. Mas nada que acontecesse recentemente. Tudo apenas antigas marcas que não pareciam atrapalhar. Apenas passavam suas experiências para os veículos ao seu redor. Era bacana como tratava os avisos e sinais na sua vida. Então se dizia apta o suficiente de parar quando quisesse e seguir quando achasse conveniente. Chegava sempre no horário, mas um dia que entendesses que avisos são pra ser seguidos, talvez atrasasse demais.

Ela era uma jovem, que não pedia informação para algumas pessoas, que simplesmente preferia seguir alguns trajetos sem ter a total certeza do que estava fazendo do que parar para perguntar. Que ultrapassava pelo acostamento sem olhar para o lado, apenas rapidamente olhando para trás vendo se alguém a acompanhava. Gostava da atitude de ser seguida por algumas pessoas mesmo sem ser perguntada. Passava essa confiança de sempre saber o que estava fazendo e a segurança do que podia e não podia fazer. Ainda não havia sido parada, talvez não tivesse chegado a hora ou simplesmente não teve motivo.

Ela era uma jovem, que evitava sair na chuva. Pois na chuva os contratempos eram maiores. Ela odiava contratempos. Mas algumas coisas acontecessem com a gente, faça chuva ou faça sol. E de uns tempos pra cá, a gente não sabe o que o tempo quer, ou quando vai virar, de tanto que ele mesmo se contradiz. Ela saiu de casa com um sol forte que brilhava em seu retrovisor. Mas o céu se amontoava em nuvens negras no caminho da estrada que ela seguia. A chuva veio. A viagem foi ficando mais devagar. E nessas improbabilidades da vida o carro que vinha atrás não a viu. Simplesmente encostou. O barulho a assustou muito, mas o impacto não parecia ter sido tão grande. Olhando pelo retrovisor viu o carro que refletia era maior que o seu. Contra ao seu gosto teve que encostar e parar.

Ela era uma jovem, que já saiu do com um arsenal de ofensas. Mas foi interrompida pelo porte alto e os olhos pequenos que já lhe pediam desculpas e assumia o erro. Pensou em soltar todos os cachorros acumulados. Foi interrompida com um cartão, com o número da placa do carro já anotado em uma caneta preta e algumas palavras que diziam para não ficaram ali naquele acostamento por ser perigoso. Queria esbravejar, mas não tinha sido tão feio, alias nem tinha acontecido nada. Pegou o telefone, testou, viu que realmente era aquele. Recebeu uma mensagem minutos depois pedindo novas desculpas e dizendo que poderia até mesmo acompanhar durante o orçamento. Orgulhosa ignorou. Novamente procurada com ligações não deu resposta. E só respondeu com os dados para o pagamento. Foi prontamente atendida sem delongas. Se sentia poderosa por ter tomado as rédeas até mesmo do acaso.

Ela era jovem e achava que entendia da vida. Ele era jovem e só queria conversar e conhecer. Ela era vivida e o evitou. Ele tentou por mais algum tempo até que desistiu. Ele tentou a ajudar com o orçamento e tento convidar para um jantar. Foi grosseiramente respondido por tentar misturar as coisas. Ela se fechou pra ele como fechava os outros no trânsito. Ele deu farol ela ignorou. Ele foi diminuindo a velocidade até que encontrou outro carro e ela se perdeu na sua visão. O tempo se passou até que um belo dia ela o encontrou no banco do passageiro de uma amiga, que já estava perdidamente encantada pelo o roteiro dele. Ela deu de ombros e saiu em baixa velocidade pela estrada de sempre. Fazer o quê. Quando a estrada é muito longa, a gente vai aprendendo que é melhor estar acompanhado de afeto pra diminuir a distância. O orgulho só deixa essa via maior.

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dose incerta

Eu cresci cheio de problemas respiratórios na minha vida. Tinha uma enorme coleção de “ites” na minha vida. Bronquite, rinite, sinusite. Mas confesso que de um tempo pra cá, o que mais tem tirado meu ar é a sua ausência. E de todos os remédios prescritos ou não, que tomei nessa minha vida para as minhas crises, você foi de longe o mais eficiente deles. Mas de uns tempos pra cá a falta que mais me sufoca é a sua. Fico me perguntando se é possível essa falta pesar tanto de um lado só, preciso dividir esse peso. Preciso dividir minha cama. Dividir qualquer coisa que só eu possa fazer pra te ver sorrir ao meu lado outra vez. Só não aguento mais me dividir no meio, sozinho e pesado. Ou então me desprende dessa sombra que me segue sorrateira. Desprende desse meu passado que eu tento esquecer ou me desprende do que me leva até você.

Queria ter coragem, ou então fôlego. Não sei se peço um cilindro de oxigênio ou se peço um cilindro de atitude. Pra dizer tudo que eu gostaria que você escutasse. Só que falar sem parar. Engolir você nas minhas palavras. Perder a respiração e soluçar. Não conseguir terminar uma frase porque as lágrimas vão embaçar a minha visão e me forçar a limpar rapidamente, me dando uns pequenos minutos de ar. Quero te segurar pelo pulso, enquanto você caminha em direção a porta dizendo que não vai voltar, quero conseguir falar pra você o quanto o meu coração acelera proporcionalmente ao quanto você se aproxima do meu corpo. Que no meio de todos esses perfumes que esse mundo ainda insiste em criar, nenhum se compara ao cheiro que cobre tudo que você toca.

Nunca fui pontual na minha vida, cheguei atrasado na maioria das vezes que combinei de te encontrar. Hoje vejo que atrasei comigo mesmo. E você não esperou dessa vez. Levantou e foi embora. Não quero saber qual é a fórmula que vai descobrir como salvar o planeta, nem saber quais são os números que vão ser sorteados na próxima loteria. Eu queria poder pedir desculpas por ter te entristecido um dia, ouvir seus sermões e ficar pequeno dentro do seu abraço. Eu queria um toque de telefone que acompanhasse seu nome no meu celular. E eu não ligo que o mundo esteja totalmente virado, cheio de tragédias e “toques de recolher”. Se pelo menos com você do meu lado eu estaria sempre dentro dos seus “toques de acolher”. Preciso tomar um pouco mais de você, só que essas doses homeopáticas de saudade estão me matando devagar.

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todo carnaval volta

Aqueles momentos tão aguardados quando disseram que você estava vindo, senti como se aguardasse minha escola de samba favorita invadir a avenida, sem ao menos te conhecer. Talvez fosse uma esperança tola, de um amor de carnaval. Eu só precisava ter os pés no chão, não agir com o coração. Simplesmente evitar mais um desapontamento carnavalesco. Quando olhei pelo fundo dos seus olhos no inicio daquele feriado de festa, tive a mesma sensação que tenho em todo Carnaval. Veria mais do mesmo, veria simplesmente mais do que me encanto todo ano e eu sei exatamente quando termina. A beleza e a maestria de todo o seu abre-alas, Todo o investimento feito na primeira impressão, nos primeiros quinze minutos. A comissão de frente na sua grande maioria das vezes, mais cordial do que propriamente sincera (ôôô Aurora).

Mas ó que bom você chegou (bem vinda a Salvador) e contrariando, positivamente, todas as minhas expectativas você foi assustadoramente simpática, enquanto falava rapidamente algum assunto que parecia já estar acontecendo entre as mensagens, parecia realmente preocupada em saber o que já se passava de assunto no ambiente. Puxando assunto com quem estava ao lado, sorrindo e brincando. Sem dúvida o seu segundo carro alegórico estava carregado de tamanha simpatia. Não tinha como não gostar. Mal pude notar as faltas das já tão famosas plumas e penas que qualquer passista usa para chamar a atenção. A forma como você arruma e brincava com a franja que repetidas vezes caiam sobre seu rosto naquela noite, sem dúvida era mais charmoso que qualquer balanço ou brilho que sua fantasia pudesse carregar.

Quanto mais o tempo passa, o público vai gradativamente se encantando por tudo que você transmite. É uma covardia falar que seu samba não toca o coração. Sem pressa, sabendo que o tempo para atravessar a avenida será cumprido, você brinca com o som da bateria. Nunca entendi como separar os sons daqueles tantos instrumentos que param e recuam sob a ordem de um simples apito. Mas vindo de você, tudo parecia tão suave e agradável. Que nem mesmo seus sustos ou agudos atrapalhavam a harmonia daquele som. Completamente vidrado pelo som quem embalava cada palavra dita, começo a me curvar diante dos meus próprios e pré-julgamentos e realmente entendo o quão tendencioso da escola anterior eu estava sendo. O meu problema foi no carnaval passado. Eu não errei de carnaval, eu errei de escola. E esse erro não parecia que iria se repetir.

Então me livrei totalmente das memórias e resolvi deixar aquele que parecia seu último carro entrar na avenida, para coroar a mais bela de todas as apresentações que eu já tinha visto. Paro em sua frente e sinto que aquele seu abraço faz com que as minhas velhas engrenagens voltem a girar, as mesmas que só procuram por um toque que substitua aquele gravado de outros carnavais. A diferença é que já fazia um bom tempo que eu não lembrava o que eu continuava tentando esquecer. Mal te conheço e já posso detalhar cada traço seu. A forma como suas sobrancelhas ficam arqueadas quando você está realmente prestando atenção em algum assunto. É a mesma com a qual você me olha, enquanto tento mostrar que aprendi cada verso do seu samba enredo. Óbvio que erro. E você para minha felicidade acha graça. Descarta minha maior e minha menor nota e simplesmente me acompanha naquele bendito erro.

Amanhã quando as cinzas chegarem para encerrar o carnaval, eu estarei voltando para minha já habitual e cinzenta rotina. Longe e diferente da sua, que é harmônica e bela. Aniversários são apenas uma vez por ano, mas já começo a sentir mais saudades do meu carnaval do que propriamente do meu dia. Sei que é por um pequeno período de tempo. Mas no ano que vem, ao invés de me dedicar para ter uma data só minha. Vou voltar aonde me perdi esse ano, tentar te encontrar e aproveitar aqueles três longos dias para chamar aquela data de nossa.

Todo carnaval tem seu fim. Mas todo carnaval uma hora volta.

carni

autor_jorge

fantasiosa rotina

Tinha tudo pra ser um fim de tarde normal. Uma noite que parecia chegar trazendo uma chuva que não caia já algum tempo. Uma programação de TV sem surpresas, a mesma que pizzaria faria a entrega dali a algumas horas, os mesmos sabores e possivelmente com o mesmo entregador. Sentado na varanda, com as pernas esticadas sob um pequeno móvel, ele aguardava a chegada da lua lendo aquele livro que já o prendia em um mundo paralelo.

Ascendeu o narguilé que ficava em sua sala e o trouxe para perto no lado de fora, preencheu com o que restava daquela essência de maçã. A essência parecia vir junto com as lembranças daquela viagem, torcia para que as memórias não se acabassem como a essência. Era realmente estranho o fato de querer se controlar memórias, elas realmente de alguma forma se pareciam com aquele fumo, doce e suave. Lembranças e pensamentos que entravam brutalmente pelo corpo, acompanhando a tragada forte, uma sequência de memórias que atabalhoadas vinham com flashes e fotos. Com a fumaça que soltava, saiam algumas lembranças dissipadas pelo vento e sentia o gosto da fruta que embalava a essência percorrer meu corpo prazerosamente e parecia que gostava de permanecer.

O interfone tocando, levanta já procurando a carteira para pagar a pizza. Mas ele não pediu pizza, também não costuma ter visitas, pelo menos não visitas que não o avisassem previamente. Atendeu. Um nome comum, mas não tão próximo. Deixou subir. O tempo do elevador era demorado suficiente para um interrogatório ser feito, antes mesmo da porta de casa ser aberta. Mas aproveitou essa lentidão para ficar um pouco mais apresentável, é verdade que estava em casa mas não precisava estar tão largado, vestiu rapidamente uma camisa branca, uma bermuda esportiva preta que ficava pouco abaixo do joelho. Perfumou-se e molhou o cabelo rapidamente para poder abaixá-lo e fazendo isso não assustar a visita.
A campainha tocou. A porta foi aberta. O sorriso amarelo de quem não sabia o motivo da visita, se encontrou com olhos assustados que procuravam algo, mas não sabiam o que. Convidada para entrar. Entrou. Sentou. Aceitou uma cerveja para início de conversa. Sabia que não seriam muitas, pois tinham poucas e logo teriam de ir para o destilado. O que poderia acabar os levando para outro lado.

Tentava não tirar os olhos dos olhos dela, mas era tolice. Os olhos quase não se cruzavam, em meio às palavras dela ele não conseguia não percorrer a gota de cerveja, que ousada, escapou pelo pequeno espaço entre os lábios dela e a boca da garrafa, percorrendo rapidamente o delicado queixo, tocar cada parte do pescoço rapidamente, até começar a se perder pelo colo aberto. Parecia atrair seu foco de uma forma tão absurda que despertou uma tímida risada dela. Enquanto limpava com as costas da pequena mão o canto da boca. Os olhos ficavam pequenos, apertados, levados. Olhos que o chamavam para brincar. Olhos loucos para aprontar. Ele se envergonhava no seu sorriso, estava completamente dominado, totalmente preso por ela. Sem saber como sair daquela situação que travava, levantou abruptamente, como quem precisa sair de um lugar antes que comece a agir por impulso. Caminhou até a cozinha, perguntou se ela queria algo. Ela aceita, ele apronta o copo. Volta pra sala, não a encontra, busca pela casa, caminha no corredor silêncio, para na porta do banheiro, pergunta se esta tudo bem. Ela abre. Derruba o copo no movimento do corpo. O copo molha seu vestido. Ele oferece uma camisa. Ela aceita. Ele caminha até o quarto. Ela vai atrás.

Não são muitas opções dele que servem nela. Constrangido ele pega a sua menor camisa, que parece ficar um vestido nela. Ela aceita. Ele da um gole. Ambos parados se olhando. Ela sorri e pede licença. Ele sai se desculpando por não sair antes. Ela veste rapidamente a camisa seca, que tão macia parece que esquenta. Sai pelo corredor perguntando onde deixa o vestido. Ele diz pra ela seguir sua voz. Ela entra em um cômodo escuro. Ele a puxa. Ela vai. Com os corpos encostados apenas em silêncio as respirações ofegantes dialogam algo que vária entre razão, ação, atitude, vontade, curiosidade e todas as outras perguntas que o tempo fez questão de colocar dentro da cabeça deles. As mãos dele percorrem a nuca dela como se soubesse exatamente o que fazer. As mãos dela na altura da cintura dele sobem devagar pela camisa, arranhando devagar. O silêncio fala demais. Chegar a ensurdecer. Com as bocas próximas, porém sem se tocar, parecem aproveitar cada segundo daquele momento. Parecem querer entender como foram capazes de passar tanto tempo sem conversar tão perto. Os lábios se tocam. As línguas dançam perfeitamente descompassadas. Os braços se envolvem. Ele a vira contra a parede. E a ergue, para que fique na sua altura e com as pernas entrelaçadas na sua cintura. A camisa dele parece colada ao corpo, ela a tira. Os sussurros são trilhas sonoras enquanto delicadamente cada peça é retirada com harmonia do corpo. De todas as danças sem ensaios, aquela era uma das mais perfeitas valsas já dançadas por dois corpos desconhecidos. (…)

Com o barulho de chuva na janela, ele acordou durante a madrugada. A bebida ainda parecia fazer morada dentro de sua cabeça. Olhou para o próprio peito ainda deitado, onde ela repousava tranquilamente e sem preocupação alguma, apenas vestida com o lençol. O compasso dos suspiros cansados dela, soavam como sinfonia de uma belíssima festa feita por ele. Involuntariamente ela sorri enquanto dorme. Sem que ela veja ele responde da mesma forma. A mão que antes apertava a própria cabeça tentando espremer a própria dor interna. Agora acaricia os curtos cabelos que compõe a harmonia daquele retrato. Alcança sem sair do lugar um pequeno papel onde escreve: “Seu sorriso é lindo enquanto você dorme…”. Repousa o papel sobre o celular dela e volta a dormir. Acorda pra trabalhar ainda assustado. Não a encontra e nem escuta o barulho do chuveiro. Sai do quarto meio atrapalhado e meio bêbado, caminha pela casa vendo toda a bagunça da noite anterior. Caminha até a porta e se depara com o mesmo papel que deixou sob o celular dela durante a madrugada, com a resposta no verso: “… o seu também. Vai ver você costuma sonhar com coisas boas”. Ele sorri, agora sem vergonha, guarda o papel na carteira e caminha para o chuveiro pra começar mais um dia normal. Mas guarda além do papel, as lembranças da noite passada. Que ele não quer que se perca na mesma fumaça. Deseja apenas que ela chegue mais vezes juntos com o cair da noite.

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minhas pontuações

Só me deixa acordar tarde, encosta essa janela que esse sol fica batendo no meu rosto e me incomoda. Sai desse quarto sem bater a porta, por favor. Já leva sua toalha pra não ficar nesse entre e sai. Se quiser ficar, fica. Se quiser sair só avisa que hoje eu chego tarde no trabalho. Fala que meu pneu furou no caminho, sei lá, levei meu passarinho pra passear e ele fugiu. Mais tarde eu levanto e digo que eu não vou. Não sei se você vai voltar. Se não for deixa a chave na mesa e só encosta a porta. Bate a porta sem olhar pra trás, pelas experiências que já tive saindo da sua, dá menos vontade de voltar. Fecha com força, que o vento faz o som de vírgula. Só não tranca porque eu não pedi pra ouvir barulho de ponto final.

E a as suas dúvidas vão ser de quantas milhas as suas milhas podem te levar. Compra pra mim uma passagem desse lugar que você quer ir, me manda pra lá e fica por aqui. Quem se cansou daqui fui eu, você só se cansou de mim. Não vá pra longe se é pra longe que você quer me mandar. As coisas são assustadoramente trágicas quando começam a acontecer com a gente, exatamente da forma que antes controlávamos como acontecia nas pessoas. A grande sacada é que às vezes a gente esquece que a Terra é redonda, então ela gira e fica assim. Ai a gente fica com essa cara de paisagem com um enorme ponto de interrogação pendurado nas costas.

Mas quando eu paro pra pensar, vejo que com as letras do seu nome eu consigo formar pelo menos dez apelidos de amigos que vão suprir a sua ausência, caso você não volte. O que pra você é algo totalmente normal. Complicado é te afastar agora que o verão tá indo embora, ainda mais quando eu aprendi que você não se preocupa com o meu calor, se preocupa só em se esquentar. Eu também sinto frio. Mas se é pra ter um calor calado, aquele velho cobertor felpudo da minha vó já é naturalmente mudo. Quem saiba eu tenha me cansado desse teu jeito de deixar tudo no ar. Talvez seja quase a minha desistência de enjoar das tuas reticencias.

Nessa brincadeira tola de eu me rasgo com todas essas pontuações, finalizo as ideias e pulo desesperado para outro parágrafo. Pra nessa parte, chegar sem peso algum no coração, e na mão. Quase furando a folha enquanto passo o travessão, pra finalmente chegar numa conclusão. Chega de pensar em problemas, deixa a vidar levar as coisas um pouco, sem trilho ou cavaletes nas arestas. Aproveito e resolvo me apaixonar pelo reflexo do meu espelho. Então só deixa eu me amar pelo menos uma vez na vida. Ou pelo menos uma vez no ano.
Me deixa exclamar tudo isso. Vai fazer um bem danado pra mim.

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tudo acaba bem.

Sonhei com você. E sim, foi lindo como sempre. Acordei feliz, mesmo sendo bem antes do despertador tocar. Acordei sorrindo o seu sorriso, afinal, sorrir ao acordar era algo tão comum e tão fácil de se fazer com quando acordava ao seu lado. Caminhei pela casa, rindo sozinho, comecei a arrumar a bagunça da noite passada. A camisa amassada ainda estava banhada pelo perfume que você me deu, que desde então não consegui parar de comprar. O relógio jogado no canto da mesa era aquele mesmo que você me deu. Mal começou o dia e eu já sabia que estava fadado a cruzar com lembranças tuas até o cair da noite. E acredite, eu estava absurdamente feliz com isso. Você sempre me fez tão bem.

Enquanto estou no banho o despertador do celular toca, saio correndo, escorrego, caio abrindo a porta do banheiro, corro e desligo todo atabalhoado para não acordar quem ainda dorme na casa. Molho não só a tela do celular, como também todo o caminho percorrido do box até a mesa de centro da sala. Tudo tão perfeitamente desastrado que parecia ser escrito por você em papel de pão com caneta rosa, deixado sob a mesa para ser seguido como um roteiro de cinema. Encantadoramente catastrófico, como fomos eu e você.

Aguardando o elevador do trabalho, segurei a porta para uma garota que estava visivelmente ansiosa. Não sei se com uma noticia que aguardava, ou algo que estava para acontecer. Dentro daqueles pequenos metros quadrados caminhou sem direção ou ordem, gesticulava e fala baixinho, quase mudo como se ensaiasse algo. Foi então quando me escapou um sorriso sincero, tímido e orgulhoso por ser o único espectador daquele monólogo louco que duraria exatamente vinte e seis andares até o térreo. Mal o elevador apitou que chegou, ela saiu em disparada, por algum momento pensei que as catracas haviam sido ignoradas, os cabelos ao vento, deixavam um rastro pelo ar, que tinha como linha de chegada os braços de um jovem de cabelo emaranhado, parado na porta de vidro do prédio, que a esperava de braços abertos. Um beijo rápido já é atrapalhado pelas palavras que parecem se atropelarem, no meio de beijos, respirações ofegantes ela mistura tudo e consegue dizer que conseguiu. Ele a abraça. De uma maneira tão perfeita, que parece perfeitamente que nasceram assim. Ela conquistou algo. Ele a conquistou. Ela era a maior conquista dele. E a maior conquista dela era poder ter ele ali para o que viesse.  Guardo você com os mesmos brilhos nos olhos e o mesmo abraço que o daquela garota. Era o melhor abraço do mundo. Mais uma vez naquele dia de sorrisos, eu sorri.

E fui voltando pra casa, o som suficientemente alto me faz companhia dando apenas espaço para as lembranças que me fazem conversar sozinho com você. Conforme vou descendo pela serra do mar vou fazendo praticamente o sol se pôr à força, vou vendo pouco a pouco o céu se forrar de estrelas e iluminar naturalmente a cidade. Entre sol e estrelas, curvas e músicas. Finalizo minha viagem solo ao som da música que chamávamos de nossa. Aumento e canto tão alto que posso ter certeza que você está me acompanhando nem que seja nas palmas, como você adorava fazer. E no embalo dela vou apenas ratificando o quanto tudo foi milimetricamente perfeito e necessário na nossa história. Inclusive o fim. Olhar o hoje e ver que você continua com a sua essência de menina. Sorrir com o que aconteceu, afinal, eu te amava demais para querer te estragar.

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até breve

Você não reparou, mas hoje no café da manhã eu não falei muito, fiquei quieto, tomando lentamente meu suco e te admirava. Calado, apaixonado e triste. Sorria sozinho admirando o quão bela você conseguia ficar sem fazer absolutamente esforço algum. Minha regata rasgada preta, que nunca ficou boa em ninguém, cai praticamente perfeita em você. O cabelo preso de qualquer forma, como quem acordou com pressa e apenas prendeu com  a caneta que uso para escrever todos as declarações que já fiz pra você mas nunca te mostrei. O sol que invade a sala nem ousa iluminar a mesa, se coloca categoricamente em sua direção. Ilumina as suas pernas cruzadas como índia na cadeira velha, até o seus olhos claros que se incomodam com a investida agressiva do maior dos astros. Você repara que eu vejo a briga injusta da luz com seus olhos e sorri envergonhada. Como aquela primeira noite em que te vi e precisei falar que não conseguiria passar a noite em paz se não dissesse que você era hipnotizante. Sua vergonha de não ter vergonha me encanta.

Quando você sai da mesa e entra no banheiro para começar o seu dia, volto em passos curtos para o meu quarto, pego o meu violão e já começo a cantarolar alguma música de perda ou saudade. Sofrendo lentamente como se adicionasse uma trilha sonora no momento que estava para acontecer.
Gosto desse fato de ficar me punindo por algo que ainda não aconteceu. Sofrer por antecipação, sentado na cama, sozinho no meu mundo paralelo enquanto você se seca pela última vez com a minha toalha, mas ainda não sabe disso.

Quando você entra no quarto tirando tudo do lugar, procurando suas coisas eu balbucio seu nome baixo, como quem precisa falar algo, mas não quer ser ouvido. Chamo rápido como um susto, mal completo seu apelido, apenas a primeira sílaba. Você olha assustada, peço que você se sente ao meu lado, na mesma cama que eu estou cantando minhas perdas, na mesma cama onde te abracei te protegendo e querendo que fosse pra sempre aquele momento, ali onde eu alcancei sem dúvidas uma das maiores sensações de paz, é ali que vamos voltar ao chão.

Antes de começar a falar, sinto o quanto meu coração se emaranha em meio as palavras. Ele quase sobe pela minha garganta, tentando tampar meu ar e com isso parar imediatamente tudo o que você escuta embasbacada. Sinto como se ele pensasse: “já que você não quer me ouvir eu não preciso sofrer pelo o que você quer dizer. Não é justo. Não é porque não falo que você não deve me escutar. Caralho cara, para.” Mas você diz, o coração não sobe, o ar não some, tudo que eu não queria dizer foi dito. Seus olhos claros se enchem d’agua e primeira lágrima custeia para escorrer, ela sabe que não merece cair e tenta se firmar ali pelo máximo de tempo que aguentar. Até que cai e percorre o seu rosto rapidamente, pausa na ponta do queixo e como se desse um último suspiro para, treme e cai. Quero chorar também, mas vou esperar você sair pra isso.

Eu te amo, posso sentir isso, mas prefiro que você não saiba nunca. Então vou me esconder aqui atrás do que todo mundo diz. Você é a garota certa, que eu infelizmente conheci na hora errada. Pode ter certeza que vamos viver uma história juntos algum dia, só que não agora. Prefiro que você lembre assim, é melhor que se convencer realmente do babaca covarde que eu sou.

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Projeto verão.

Já não aguentava mais aquelas dores no estômago, já não era mais o mesmo fazia um bom tempo, nem na rua, nem casa e principalmente nem na mesa de jantar. Fui descobrindo que estava acostumado a me alimentar absurdamente mal, que minha dieta era totalmente equilibrada em praticidade e na falta de qualidade. Mascarava a indigestão com qualquer coisa, um condimento que vestia bem o prato ou propriamente um bom vinho que acompanhava um prato não tão bom quanto. Precisava realmente voltar a ser o que era antes de conhecer o fabuloso mundo do fast-food. Não só para poder voltar a correr na orla da praia sem camisa com meu labrador em um sábado no final de tarde. Precisava voltar a viver bem, simplesmente para poder viver mais e melhor. Estava gastando cada vez mais energia fingindo me sentir bem, do que realmente sentindo.

Foi quando fui encontrando bons hábitos e mudando a minha forma de me alimentar, fui descobrindo que cada vez mais importante ler e conhecer mais o que você coloca pra dentro da alma, algumas vezes o maior peso não esta na barriga e não vemos na balança. Mas sim nas costas, que as vezes não são tão largas para as calorias da rotina cansativa e lamentável. Mas chega a hora que você muda, e começa a sentir o bem que essas mudanças vão fazendo no corpo. Vem também a notícia que seu corpo não é tão tolerante com aquele prato, ou vai saber, o prato não é tão tolerante a você. Foi quando o bom vinho que antes acompanhou o bom prato, daqui pra frente vai ser só o vinho. Ela fazia bem pro corpo, mais do que deveria, menos do que você queria. Mas ela não fazia bem pra você.

Depois daquela noite, lavei os copos e os pratos da mesa posta para apenas esperar a comida esfriar, eu tentei de todas as formas do mundo tentar não saber onde você estava. Você nunca fez parte da minha rotina, mas quando eu fui começar a mudar o que eu chamava de hábito, fiz todo o possível pra não cruzar os meus novos com os seus de sempre. Infelizmente aconteceu.
Acontece que tudo tem um começo. Mas pra todo começo houve um final. E absolutamente para tudo que acaba deixa algo. Mágoa, saudade, fome, alegria, cicatrizes ou lembranças. Seja lá o que for algo é deixado, queiramos ou não.

Foi dai que eu comecei a tentar parar de deixar minha mente se perder em você. Mas pensava tanto em você ao ponto de sempre riscar o canto da agenda, a cada dia que passava. E aos que me perguntavam o motivo daquele traço sempre um dedo abaixo da data, eu respondia prontamente que era há quantos dias eu conseguia cumprir a dieta que estava seguindo. Era apenas uma mentira em partes, afinal, como qualquer dieta eu saberia que era para o meu próprio bem, que era para ter uma vida melhor. O único problema era que o motivo daquela reeducação alimentar não me fazia bem, mas pelo menos me fazia feliz.

Mas tudo bem, já perdi tanta coisa na vida, mas talvez esse peso tenha sido a mais difícil de uns tempos pra cá, mas vai sair não importa que seja na academia, num prato mais colorido ou numa corrida em torno de uma antiga igreja que enfeita uma antiga praça. Vou largar, seguir e vou me servir de coisas novas. Pra que eu tenha aquela sensação boa de quando me sentar na mesa mais uma vez e do outra lado da mesa cruzar com aquele meu novo e bom hábito. Nem que seja por uma lembrança que vai me fazer sorrir olhando os mesmos olhos oito vezes. Achando que aquele sorriso é pra mim, descobri que não é, e mesmo assim, olhar aqueles olhos pela nona vez e sorrir pra si.

Bom dia, bom apetite.

autor_jorge

desamarra.

Eu tentei entender alguma das justiças do mundo, mas sem dúvida alguma a maior delas é quando você não quer ter dúvidas e ela bate na sua porta.

E de todos os pontos que a vida me mostrou, o mais injusto deles sem dúvida alguma é o de interrogação. Era tudo mais fácil quando eu ainda era um nó aqui dentro. Cansei de olhar ele lá, quietinho, apertado, tão bem feito e tão firme, que eu realmente não sei se o respeitava de tão bonito que era, ou então, se tinha medo de desatar por não saber como começar depois. Confesso que nunca fui bom com cordas em nenhuma de suas artes. Demorei para aprender a amarrar o tênis, nunca soube fazer um nó de marinheiro, mesmo desde bem pequeno dormindo com aquele pijaminha do Popeye. Meu avô tinha um quadro de nós no seu quarto. Eram bem feitos, artisticamente preparados, arrisco a dizer que eram perfeitos.

Na lista de coisas que não sei fazer, gostaria de adicionar “andar na linha” também. Não sei se é por ela ser tão perfeitamente alinhada e eu assinar meu atestado de ser um eterno desalinho. Ou por total desequilíbrio da minha parte. Só não sei ainda se mental ou emocional, só sei que era em total desalinho. Mas de qualquer maneira, bastava eu entender que qualquer coisas que eu quisesse, seria sempre mais fácil de alcançar em duas mãos que eu nunca precisaria de ninguém. Ninguém pra caminhar, ninguém pra segurar a outra ponta, ninguém pra enrolar ou desenrolar. O pouco que eu sempre tive já era muito.

Só que o tempo foi passando, eu fui crescendo e aqueles nós não mexiam, não mudavam. Fui começando de pouco em pouco a construir o meu, mas em uma perfeita desordem como quem coloca um fone no bolso e quando tira se depara com aquele nó que parece que nunca vai se desfazer. Só que desfaz. E nessas idas e vindas da vida, de algumas grossas linhas que iam se apertando, eu cada vez mais fui construindo o meu nó. Fui deixando ele cada vez mais seguro, mais embolado e cada vez mais sem ponta. Até o dia você senta e não tem mais por onde passar. Não participa das brincadeiras, apenas olha os outros laçando seus respectivos nós que já fez tantas vezes.Se surpreende com aquilo que se dizia conhecer tão bem. Entende que o seu nó, está cheio de buracos, que o que você fez tá horrível. Que não precisa de força e sim jeito. Até que uma mão delicadamente lhe toca, desfazendo toda sua “cama de gato”. E aquilo que suas duas mãos nunca conseguiram desfazer ou fazer sozinho, simplesmente vai se desmantelando pouco a pouco.

Mas já que desfez, já que desenrolou todo esse enorme emaranhado que a vida fez sozinha, não deixa assim. Faz um belo laço e decora algo que você goste. Enfeita, abrilhanta. Ou faz o nó que estava outra vez e, deixa do jeito que encontrou. Só não deixa assim livre, liso, indefeso e sem sentido. Ter alguém puxando de um lado ou de outro sem nada pra proteger não faz bem. Nunca soube me equilibrar, já disse isso. Não custa ter uma ajuda pra aprender. Talvez o equilíbrio que faltasse tanto, não fosse um ponto para se focar e sim uma mão para se apoiar. A única linha linda e sem nós é o horizonte que eu enxergo todo dia. Aquele horizonte era o abraço que você nunca me deu. Era um momento novo, confesso que sensacional. E foi assim, que a matemática da vida foi me ensinando que só, na verdade é plural.

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autor_jorge

voa

Pensava em levantar, mas a cama era mais agradável. Não tinha obrigações de levantar cedo já fazia um bom tempo, menos tempo ainda que não saia tão cedo em pleno sábado. Preferiu virar para o outro lado e dormir mais. De qualquer forma, se saísse da cama naquele dia não poderia bater na porta do quarto do lado e perguntar se tinha mais alguém. Ele não estava mais lá, nem sozinho, nem com alguém. Era só um quarto ao lado, vazio, cheio de lembranças, cheio de memórias. Que aquela porta de madeira encostada, parecia guardar para não deixar com que se perdessem com o tempo.

Então em uma porta se abriu, mas do outro lado do mundo, adiantado para pegar seu voo com destino mais distante do que aquela porta de madeira pudesse abrir e puxar de volta. Saindo para buscar o que tanto sonhava. Longe de tudo que cuidou e cativou por aqui. Longe da garota que o encontrará de surpresa no aeroporto para dizer o quanto queria que ele ficasse, longe dos amigos, longe das noites da terra da garoa, longe do quarto ao lado.

Rindo como se soubesse que algo não estava certo, mas ainda deitado na cama ele ria do próprio orgulho, do por que não tinha ligado para a saudade, querendo saber o motivo de não ter recebido ligações, de não ter perguntado como as coisas estavam. Por dentro se mordia por saber que o tempo passava e aquela cerveja gelada, naquele famoso bar, daquela famosa vila, não aconteceria simplesmente por um simples orgulho bobo.  Então ele pega o celular com a intenção de já pedir desculpas e desejar boa viagem. O celular toca.

Inacreditavelmente aquele voo não subiu com todas as poltronas ocupadas. A poltrona que levaria a saudade subiu vazia. O tão pontual e organizado, se embananou com apenas um simples voucher que pedia apenas pontualidade. Pois é não deu, mas orgulhoso demais para assumir a culpa. Joga a culpa na companhia aérea, na desordem, a culpa só não é dele que deixou saudades, risadas, memórias e amores naquele quarto, mas o orgulho não. Tá ali com ele, sendo carregado na mala de mão. E o detector não apita com orgulho.

Lógico que não apita, orgulho passa na esteira do aeroporto, mas roda mais do que as outras malas na hora de pegar. Viaja truculento e desconfortável, como uma sonora dor de cabeça. E quem roda mais do que o resto, costuma ficar tonto. E como dizia meu avô, coçar a testa nunca foi um bom sinal.

Liga e fala que perdeu o avião, escuta a risada do outro lado. Que saudade da risada. Volta do aeroporto em direção daquela porta encostada no apartamento, como quem não se preocupa com o que acabou de acontecer, vê até como um ponto positivo de poder viver um pouquinho daquelas boas memórias. Corre bate na porta, abraça aquele velho amigo, senta e começa a despejar todas as merdas que fez enquanto estava longe. É prontamente respondido e rebatido do mesmo nível. Cerveja, cigarros, sorrisos, abraços. Haviam se passados três meses, pareciam três décadas, resolvidas em três minutos, três latas de cerveja, três lanches improvisados, três baseados, três palmos de porta aberta.

O orgulho se joga da varanda, já que aquelas redes de proteção só seguram quem merece, a porta de madeira que antes não se abria agora se escancara como se passasse uma eterna rajada de vento. Mas que assim seja. Que o orgulho não tenha forças para subir os oito andares, muito menos de alcançar seu avião. Que o sorriso que abre portas, continue conquistando corações. Que se saudade apertar, querendo lhe acompanhar, não vá desanimar, jamais se entregar. Um dia você encontra a felicidade. Se é que já não encontrou, mas até ai, um dia você volta pra buscar. Mas em caso de alguma turbulência de orgulho para assumir isso também, máscaras de oxigênio vão se desprender e cair na sua frente. Apertem os cintos, boa viagem e seja feliz.

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