minhas pontuações

Só me deixa acordar tarde, encosta essa janela que esse sol fica batendo no meu rosto e me incomoda. Sai desse quarto sem bater a porta, por favor. Já leva sua toalha pra não ficar nesse entre e sai. Se quiser ficar, fica. Se quiser sair só avisa que hoje eu chego tarde no trabalho. Fala que meu pneu furou no caminho, sei lá, levei meu passarinho pra passear e ele fugiu. Mais tarde eu levanto e digo que eu não vou. Não sei se você vai voltar. Se não for deixa a chave na mesa e só encosta a porta. Bate a porta sem olhar pra trás, pelas experiências que já tive saindo da sua, dá menos vontade de voltar. Fecha com força, que o vento faz o som de vírgula. Só não tranca porque eu não pedi pra ouvir barulho de ponto final.

E a as suas dúvidas vão ser de quantas milhas as suas milhas podem te levar. Compra pra mim uma passagem desse lugar que você quer ir, me manda pra lá e fica por aqui. Quem se cansou daqui fui eu, você só se cansou de mim. Não vá pra longe se é pra longe que você quer me mandar. As coisas são assustadoramente trágicas quando começam a acontecer com a gente, exatamente da forma que antes controlávamos como acontecia nas pessoas. A grande sacada é que às vezes a gente esquece que a Terra é redonda, então ela gira e fica assim. Ai a gente fica com essa cara de paisagem com um enorme ponto de interrogação pendurado nas costas.

Mas quando eu paro pra pensar, vejo que com as letras do seu nome eu consigo formar pelo menos dez apelidos de amigos que vão suprir a sua ausência, caso você não volte. O que pra você é algo totalmente normal. Complicado é te afastar agora que o verão tá indo embora, ainda mais quando eu aprendi que você não se preocupa com o meu calor, se preocupa só em se esquentar. Eu também sinto frio. Mas se é pra ter um calor calado, aquele velho cobertor felpudo da minha vó já é naturalmente mudo. Quem saiba eu tenha me cansado desse teu jeito de deixar tudo no ar. Talvez seja quase a minha desistência de enjoar das tuas reticencias.

Nessa brincadeira tola de eu me rasgo com todas essas pontuações, finalizo as ideias e pulo desesperado para outro parágrafo. Pra nessa parte, chegar sem peso algum no coração, e na mão. Quase furando a folha enquanto passo o travessão, pra finalmente chegar numa conclusão. Chega de pensar em problemas, deixa a vidar levar as coisas um pouco, sem trilho ou cavaletes nas arestas. Aproveito e resolvo me apaixonar pelo reflexo do meu espelho. Então só deixa eu me amar pelo menos uma vez na vida. Ou pelo menos uma vez no ano.
Me deixa exclamar tudo isso. Vai fazer um bem danado pra mim.

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autor_jorge

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