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idas e vindas

Tanta coisa na cabeça, um bolo de palavras, imagens, vídeos, saudades, amores, dores, fome de conhecimento, raiva por saber demais. Quando desejamos entender o que não conhecemos abrimos uma lacuna dentro da nossa mente que ainda não delegamos uma equipe preparada para cuidar da sua chegada. É uma compra por impulso, daquelas que não tira capital do nosso bolso, mas que acreditamos que não precisamos substituir por nada. Um benefício que não ocupa espaço algum. Tolos.


Conhecimento é um móvel enorme, caro e pesado que vivemos empurrando e carregando para mobiliar por espaços desconhecidos. Espaços que por muitas vezes nunca pediram para receber tanta informação. O anseio por ocupar, contrasta com a nossa agonia pelo vazio. Pela bagunça que foi abandonada, pela construção pela metade que foi largada na nossa paisagem. Tudo que é inacabado possivelmente acabou com alguém. Das obras abandonadas na minha caminhada, minha memória sem dúvidas é meu pior credor. Projeta meus medos em pausas casuais. São encontros desnecessários dentro de mim, confrontos repetitivos que acontecem diante do meu reflexo frente ao espelho. Do banheiro ou do carro. No reflexo do mar e da piscina. Dentro de um choro ou dentro de um abraço. Ando me encarando muito pouco por medo de confrontar. Não tenho espaço para desabafos.


Prefiro fugir para o barulho. Para a confusão da informação excessiva, da vida que nunca foi minha. Corro com a velocidade de um animal enjaulado, a fome de quem não tem nada mas ambiciona o mundo dentro do prato. Pelo sonho do outro. Desejo do outro. Fome do outro. Me aconchego no barulho, faço do caos uma trilha sonora que controlo através do volume da minha paciência. Respiro fundo para alinhar as frequências e sintonizar meu vazio. Minhas páginas em branco. Páginas que deixei de escrever. Que abandonei por preguiça, que larguei pelo medo. Páginas que já foram paredes. Talvez, por esse desejo descontrolado de falar mais do que deveria. De odiar acumular informação, de não entender porque caralhos guardamos tanto. Fala que quer. Não diga que ama. Abrace forte. Não solte a mão. Corra junto, mesmo que você seja mais rápido que o urso.


Pense que o mundo pode acabar. Mas isso não pode ser um alívio. O caos tem que agradar a todos. Dançaremos durante a guerra, pediremos portas pela metade, páginas pela metade, saúde pela metade. Abraços pela metade. Direitos para alguns, música para todos. Para lembrarmos dos vivos distantes. Para brindarmos aos mortos. Renegocie suas dívidas. As que você pode pagar e as que você precisa conviver. Em curto prazo, quantos amores são deixados de lados por sonhos que são projetos que nunca foram projetados. Longo prazo. Longo papo.


Quando me debruço em papel e caneta, sinto vontade de correr para sempre. Não parar de digitar é uma forma de voar. Rabiscar os cadernos que encontro em branco. Ocupar os espaços. Deixo um tanto. Trago um pouco. Gosto quando perguntam se não darei final aos meus textos inacabados, mesmo que para mim, eles tenham chegado ao fim. Me divirto em entender que na verdade buscamos finais lógicos. Para que possamos adequar nas nossas caixinhas de finais. Acontece, e muito.


Eu não entendo muita coisa. Coisa que não falo, coisa que não escrevo. Coisa que não termino. Mas voltaremos a escrever, sobre aquele universo enorme de coisas que eu desconheço. Pois no vazio tem espaço imenso para o desconhecido. Sem se importar com tamanho, peso, cor ou preço. Vou ocupar o meu vazio com a curiosidade, pois a felicidade só ocupa quando o medo e a tristeza não estão. Receptividade de sentimentos é algo que entendo pouco, mas já escrevi muito.


Meus fantasmas que lutem com a minha curiosidade.

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desabar fardos

Dentro de nós uma enorme confusão.

Minha cabeça ainda revive alguns fracassos recentes, tentando sabotar meus sonhos românticos futuristas. É que ando numa alegria tão gostosa que eu começo a acreditar um pouco mais no impossível. Recupero esse meu pensamento otimista com a vida, toda vez que namoro você de longe do meu abraço, mas próximo da minha vista. Quando você veste minha camisa pela manhã, quando a gente conquista absolutamente tudo que a gente fala. Quando eu tenho uma impressão de que existe alguém que torce pela gente ouvindo as nossas conversas. Por dentro das nossas inseguranças existe nós.

Tudo bem estar nublado no início, algumas caminhadas são duras e cheias de curvas. Mais do que ninguém nos habituamos com as serras da vida desde cedo. Você com os pés na praia e eu com a cabeça na cidade. Eu maluco pela cabana no campo e você enlouquecendo com desejos cosmopolitas. Um zigue zague de ideias e ideais. Do jeito que a gente sempre souber ser, do jeito que você ensinou a acreditar que dava pra aproveitar. Que sempre tem espaço pra aprender um pouco mais.

Então pode tentar. Não tem problema, chuta a porta e vamos ver no que vai dar essa caminhada maluca. Começando a clarear a nossa visão e os buracos estão dentro do esperado. Tá tudo bem estar confortável no abraço do nosso sofá. Além de estar confuso o mundo lá de fora ele sempre assustou que não o enfrentou. Eu nunca vi você não retrucar alguém que afrontasse a suas certezas. Já deu certo. Deu certo quando você aceitou me acompanhar naquele bar. Depois naquela festa. Teve também aquela chuva. A pizza. O dia que eu perdi o horário das obrigações. Deu certo quando a gente foi pro nosso canto e quando voltou pro nosso berço. Nenhum tropeço inesperado, mas talvez as coisas mudem. Reavaliar já é uma forma de recomeço.

E não tem nada de trágico nisso. Coisas mudam. Pessoas mudam. Desejos também. Vou contar que já tem um bom tempo que seus desejos tem sido escritos com a minha tinta. Eu estou adorando essa sensação de poder desbravar um universo imenso de inseguranças agarrado na tua mão. Você traduz meus sonhos pois já falava a minha língua de outras vidas. Não deixa de tomar sua água, alonga esse pescoço. Arruma essa coluna e acelera muito pois você não nasceu pra ficar parada. Titânica. Você atropela parada, por gentileza, movimente-se.

Dos gostos que já deixou na minha boca, o que mais abre meu apetite é a esperança que você me faz beber todo dia um pouco. Quando deito ao seu lado, quando arranco tua risada, quando você briga comigo pelo óbvio e quando desperto antes de ti. Reforço meus escritos ditos em momentos de lazer e desespero. Me apaixono ainda mais nos momentos pouco ortodoxos em que vivemos. Vida longa para nossas raízes. Que mesmo de longe nos impulsionam para todas as batalhas diárias. Nos readequando e nos ajudando em toda essa trilha.

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encaixotados

Queria ter participado da reunião de valores morais dos tempos modernos, exatamente no momento em que acreditaram que era coerente se manter imóvel e exigir mudança. Mesclando a sensação de impotência recheada de dúvidas. Ancorado na tristeza, estático, aguardando de maneira nobre que a minha energia se desfaça aos poucos. Um pouco no controle da televisão. Um tanto na tela do celular. Rouco de silêncio, vejo minha expressividade coibida pelo medo do novo. Da proximidade, da imbecilidade. Da governabilidade da intolerância. Expansivo sempre fui. Atrapalhado além da conta.

Um elefante de quarentena numa loja de cristais.

Vejo em cada esbarrar do meu caminhar truculento, que talvez eu não tenha desaprendido, mas posso ter optado por esquecer. Reposicionei minhas frustrações dentro das minhas camadas de carisma. Abracei o mundo com o mesmo calor com a qual eu fui chutado em meus piores momentos. Ignorei minha ferida e acreditei que fosse humanamente possível trocar a roda do carro em movimento. E a obviedade tem uma maneira nada sútil de escancarar cicatrizes que o tempo ajudou a esquecer.

Seguimos descrevendo momentos irrelevantes com trilhas amorosas, fantasiando saudades invisíveis em corações desconhecidos. Por mais alta e longa que seja a trajetória de um avião, é necessário um espaço para o pouso. Outro pedaço de terra para que se possa descansar. Suspirando em segurança, por uma lembrança do instante que já faz parte de um passado. Adrenalina repousando no mesmo espaço que a ansiedade. Um permanente estado de alerta que educa e doutrina. Somos o que consumimos, mas nos perdemos nos rótulos pois eles nunca foram lidos. De produtos e pessoas.

Inesquecível passou a ser a palavra mais valorizada em mundo as pessoas não sabem o próprio número de telefone. Projetamos nossas dores em ombro de amores. Questionamos nossa felicidade enquanto seguimos nossa caminhada. Precisamos comprar. Precisamos mudar. Precisamos comer. O evoluído mascarado ainda olha torto para quem lhe pede comida e é contra a cota. Desacreditado do tamanho que a própria palavra lhe enforca. Bem vindos ao vale da arrogância baseada no achismo.

A desconstrução do novo mundo vai deixar mágoas, nas sensíveis aos sensitivos. Entretanto, são das lágrimas que teremos como engrenagem das novas máquinas. O tal pedaço de terra nunca foi teu. Quando foi nosso, já não era deles. Demarcados por proprietários autoproclamados. Herdeiros fogosos. Abastados pelo sangue alheio. Julgando o belo que canta suas lamúrias para a lua, por ser desprovido de um padrão de beleza. O barão que tanto maltratou a baronesa, usurpou a esperança de quem lhe servia e queimou o que não era seu. Mas foi um ótimo avô. Separemos o autor da obra. Pelo menos no nosso álbum da família.

Ariscos e incomodados. Subversivos e amedrontados, mas conectados de uma forma como nunca antes estivemos. Como sapatos novos, que guardados, aguardam o momento de serem pisados. Incomodados, com as poesias que não lemos e os amores que perdemos. Felinos encaixotados. Desesperados para cruzar com o novo. Fugir da caixa. Mijar em muretas, conversar com a lua. Sumir pela rua. Renascendo quantas vezes for necessário nas incontáveis-sete-mortes que temos nessa vida e caindo em pé.

O futuro que você acreditou que nunca fosse chegar bateu na tua porta.

Você precisa de rótulos que não lidos ou de números que não são lembrados?

Abre a mente. E a porta. Voltamos.

ensurdecimento de palpites

Certa vez, de maneira extremamente tola, acreditei cegamente em mim mesmo.

Fiquei surdo por um tempo indeterminado dentro da minha própria consciência.

O silêncio do meu inconsciente, já não me atormentava ao ponto de fechar meus olhos por um tempo tão longo que pudesse me incomodar. A escuridão então me fez companhia como jamais havia feito na vida. A solidez já não me assustava mais,  junto com vontade de deitar que já era maior do que a força para tentar manter os olhos abertos para o calor do mundo outra vez. Orgulho é um lugar perigoso que arde intensamente dentro da gente. Um cômodo vasto, desprovido de medos. Uma cela decorada de vazio.

Um sinal de alerta necessário, mas que toca mais do que normal dentro da minha cabeça.

Uma enorme crença no erro me arrastou para dias difíceis. Silêncios intermináveis e dúvidas que percorriam em círculos dentro da minha cabeça. Tardes muitas vezes escuras, mesmo com o sol quente ardendo sobre nossas cabeças. O calor que nos trazia para o chão através da transpiração. A parte mais difícil de aprender com nosso suor é aceitar que nossas dores são uma forma de aprendizagens da alma. Rastros de um conhecimento que depende apenas dos nossos movimentos para que possam crescer. Não da nossa opinião e sim do nosso esforço. Pouco importa o que você pensa e muito o que você faça.

Aprendemos os principais valores do silêncio quando passamos por momentos de barulho incessante. Ruídos perturbadores que hora nos assustam, mas que em momentos de perigo também nos guiam. Elencar nossos medos de uma maneira transparente, é uma inteligente forma de evitar que corroam nossa esperança. Que clareemos nossa caminhada com nossa própria luz antes de seguirmos qualquer farol alheio. Paz nunca deixou de ser um investimento de valor alto, mas a carência de ambição nunca foi tão palpável em meio um universo tão intangível.

Sonhos são vivíveis. Mas precisam ser sonhados.

Dentro do nosso peito, carregamos porteiras pesadas presas com cadeados envelhecidos pelo tempo, que trancafiam memórias doloridas escondidas através de recordações ao invés de serem diluídas como um aprendizado. Um antidoto contra a infelicidade.

Que sejamos coerente com nossos próprios erros, uma maneira nobre de alcançarmos nossos verdadeiros valores dentro dos colos alheios. Fácil encontrar um abrigo no peito de outra pessoa com os ombros carregando carinho ao invés de mágoas e julgamento. Dos pesos que puder carregar, escolha momentos que possam ser  disseminados e se possíveis transferido para outros pontos de vistas. Derrube seus muros. Os de mágoas e os de novas ideias. Desate os nós e reforce teus laços.

Se houver espaço, ajoelhe na hora de pedir proteção. Dizem que a esperança não termina para aqueles tem a fé em chama constante combustão. Demonstre humildade se houver muitas queimadas pela floresta que desejar cultivar no coração alheio.

Atente para tua boca e ao teu ouvido.

Utilize-o na mesma proporção.

Seja feliz por ti,

pelo teu bem.

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autor_jorge

sobre continuar remando

Ei garota, desculpa a bagunça pela mudança repentina nesse mar.

Nem eu mesmo sabia que por dentro desse peito corria esse oceano de energia.

Já tem uns dias que eu fico fazendo carinho na tua foto, só pra ver se diminui essa saudade que tá grudada no meu travesseiro e vai pra cama comigo toda noite. Eu ainda não lavei as minhas roupas que você usou no tempo que esteve por aqui. Tô usando elas estrategicamente espalhadas pelo quarto, pra que esse meu feng shui da carência me ajude a conviver com esse pedaço de ti que eu não consigo carregar comigo o tempo todo. Deixo nossos pedaços espalhados por ai só pra lembrar de tudo que a gente fez.

Hoje eu sei que uma coisa que você faz muito bem é falta. Faz falta ouvir sua gargalhada gostosa aqui no outro cômodo. Essa falta que faz não sentir o teu perfume impregnado no quarto enquanto me apronto pela manhã. Se fazendo presente apenas nas minhas conversas, que misturam fantasia e romance, mas que seguem embargadas de carinho quando acompanhadas do seu nome.

O balanço desse nosso barco vai ser intenso, mas paisagem é maravilhosa. Acompanha uma maré que agita quando menos esperamos e algumas vezes a sensação de enjoar vai pairar sobre nosso horizonte. Não podemos esquecer de remar, nem de entender que a força que trouxe até aqui é o caminho para irmos além. Separados da preguiça, diluída com os medos e elevando os sonhos em potências que ainda nem imaginamos descobrir. As glórias são as mesmas, as desculpas que costumam inovar e evitam as  belas surpresas que podemos encontrar desde que não paremos de remar.

Maruja, segura esse timão pra gente, pois se os dois caírem na água ao mesmo tempo deixamos essas ondas carregarem nossos corpos pra longe dessa confusão, que sempre fica com esse povo atracado na costa. Toda essa segurança de que eles sabem tudo da nossa vida, por conhecerem nossas memórias através de lagrimas. Deixaram de anotar o valor dos sorrisos, quase ao mesmo tempo em que pararam de devolver o troco errado que vinha errado. Pararam de desejar um bom dia, mas hoje enxergam mais do que os olhos podem ver. Contam que sabem quem devemos amar, com uma base definida por naufrágios que assistiram confortavelmente em terra firme.

Entendidos de mergulho, que nunca ousam se molhar.

Que não nos falte a força pra remar aliada com o desejo de enxergarmos nossos corpos ardendo pelo mundo lado a lado. Que possamos entender que a gente também sente saudade ao ponto de dar frio na barriga antes do encontro. Que esse frio na espinha que tanto nos arde possa voltar mais intenso do que naquelas primeiras fagulhas que assistimos queimar esquentando nossos corpos. Que não nos falte vontade de traçar a nossa própria rota de navegação. Principalmente por esses mares que sempre soubemos que atravessaríamos Pois a única certeza que temos é que até mesmo as tormentas desse mundo, podem ser perpetuadas como uma boa esperança. Depende apenas do plano.

De quem escreve. E de quem lê.

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autor_jorge

velhos vícios

Uma tosse curta e um silêncio longo.

Dei de cara com uma saudade que a minha memória tinha decidido esconder

Tanta coisa engasgada pra falar ao mesmo tempo, que a gente fica com um nó de palavras entalado na garganta. Deixa que o silêncio converse um pouco, organize as prateleiras das lembranças. A guarda baixa ajuda a entender nossos corpos desprendendo de vaidades. A combustão dentro do corpo é incontrolável e peitos descobertos de mágoas não poupam abraços. Então sorrimos.

Encontro bom. Mesmo quando não planejamos ou então não queremos. A leveza do momento é sútil. Sentimos como é possível flutuar num mundo de pés no chão. Elevamos nossas energias através de carinhos aprisionados. Entendemos que entender o mundo é cada vez mais conhecer a si.  Que a volta mais bonita depois das que o mundo dá, é sem dúvida as que podemos dar entre nós e o lugar do outro. O sentimento delicioso e viciante, que por diversas noites senti falta. Das conversas longas e sem sentido, dos pontos de chegada que nunca existiram e sobre os de partida que foram arduamente detalhados.

Guardo com carinho na memória os momentos em que corri na tua direção. Quando a muralha que tanto me apoiou também era o único lugar onde eu conseguia descansar. Era onde eu poderia subir. Pra admirar, opinar ou pra fugir. Um refugo vazio e silencioso, quase mórbido. Uma folha de papel em branco infinita acompanhado de uma caneta carregada de memórias detalhadas. Os braços já cansados de carregar culpas que nunca foram necessárias teimam em não produzir. Quando sofrer parece não nos machucar, ferimos cada semente nossa que plantamos no jardim de alguém. Plantamos feridas. Longe dos nossos olhos, mas sentidas em diversos corações. Fantasiamos fantasmas do passado, para que possamos conviver com nossos medos. Legendamos nossas dores.

O problema de legendas é que cada cultura interpreta da maneira que quiser. Ou que aprendeu que era certo.

Em terra onde precisamos explicar que focinho de porco não é tomada, aprecio essa forma de leitura,  tanto para filmes como para rótulos. O cinema da vida resolveu nos mostrar direitinho tudo isso. Quando as coisas acontecem de maneira inesperada, sentimos as emoções correrem pelas veias da razão. A química inflamável faz explodir toda essa adrenalina repreendida. Se abrir ao desconhecido é uma maneira perigosa de semear os valores do passado, um mergulho num oceano desconhecido, armados de um egoísmo misturado com o oxigênio, desejando  que possamos transformar tudo aquilo que não conhecemos em algo que possamos controlar, ou ao menos prever.

Abraços curtos por fora e distantes por dentro.

Acatamos companhias necessárias, para que possamos enxergar o mundo através de outros olhos. Guardas abaixadas, para que possamos aceitar ajudar para descer do muro. Um lado novo, com histórias misturadas em sotaques, lembranças acompanhadas de novas trilhas. Jovens, ferozes e famintos. Misturando sabores por pura pressa, mas não por ingenuidade. Ganância de sentimentos ou de momentos. Engasgam aqueles que não mastigam e saboreando a gula é uma elegantemente vai  se engasgando no próprio o ego.

Afinal, nem tudo é disputa nessa vida, principalmente quando se trata de momentos marcantes.

Quem come quieto, até que  pode comer em dobro.
Mas ainda segue saboreando saudade.

bon appétit.

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autor_jorge

 

 

acreditar

Pra quem olha de fora, parece que tá tudo errado, mas calma.

Temos que aprender que pode ser certo sim, mas da maneira que a gente acredita.

Que tenhamos força pra defender o nosso bem, até a última gota do nosso suor. Abrir o peito com orgulho, pois nossa força que construiu nosso castelo, também nos dá coragem pra defender ele de todo mal. Colocaremos dentro do nosso reino quem torça pela nossa paz, quem cultive da melhor maneira as sementes por todos os espaços deixados vazios. Precisamos desistir de abandonar nossas crenças, por medos que nunca foram nossos. Canalizar nossa fé no peito de alguém que merece ser feliz também.

Não ser covarde com o mundo, mas aprender a semear a nossa coragem que vem de dentro.  Aprendemos a ser surdo, nem que seja pra poder peneirar o desejo alheio com as nossas vontades. O equilíbrio para entender que nem todo grito que vem de fora da nossa janela é incentivo, mas a malícia pra entender que nem todo gemido dessa vida precise ser de dor. Temos que ter forças nos punhos, pra aprender a não abrirmos mão. Dos nossos sonhos e do outro. Segurar firme e puxar pra perto. Desviar dos obstáculos ou curvar os aplausos, sem nunca desprendermos do nosso maior escudo.

Dessas coisas bonitas que a vida andou ensinando.

Aprendi que o amor só protege com a mesma força que você acredita nele.

Quando entendemos que a nossa felicidade pode ser refletida numa conquista que não é nossa. As fichas começam a cair naturalmente. Reparamos que nossos laços são maiores do que podemos controlar. Sentimentos uma corrente percorrer nosso corpo, por uma energia vinda exatamente da outra ponta das nossas mãos atadas. Apoiamos nossas armas e armaduras na mesma tábula.

Enfim, armados de flores e sorrisos.

Afogamos nossas hipocrisias em baldes de água fria, que podemos coletar com lágrimas. Criamos coragem para desabafar nossos medos, caminhamos nus e pedimos colo alheio. Oramos para que por alguns minutos os relógios tirem folga, só pra podermos justificar com firmeza que o tempo parece parar quando estamos nos braços de quem gostamos. Mergulhamos de mãos dadas em um mundo novo, moldado por sorrisos servidos em pares. Piadas prontas, que só fazem sentido, quando completadas por outra voz.

Assumimos mudanças enquanto mudamos.

Carregamos nossos melhores pedaços para decorar o início de uma nova história. Arrastamos nossos erros e entregamos no mesmo pedido. Abraçamos a imperfeição com alegria e agradecemos por termos quem nos entende tão bem. Despedaçados e descrentes, juntando seus cacos com a mesma matéria prima.

Um amor

Da maneira que a gente acredita.

Um amor da nossa maneira.

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aquela música

Às vezes toca aquela música do Pearl Jam na rádio. No primeiro acorde eu mudo de estação,ou desligo, ou penso em algum método rápido e indolor de morrer.
Apenas uma coisa é inevitável nesta situação: pensar em nós, aquele dia no bar.
Essa música começou a tocar e você, sempre tão espontâneo, chegou de repente e enlaçou meu corpo por trás – nunca vou esquecer dos pelos dos meus braços eriçados por sentir tuas mãos na minha cintura – e disse bem no pé do meu ouvido direito:
– Dança comigo?
– Eu danço com você até que meus pés estejam tão gastos a ponto de não conseguir me manter de pé. – era o que eu gostaria de ter respondido, mas, “vamos sim”, foi o que eu disse.
Você pegou na minha mão esquerda e me girou 180° para a direita, coloquei as duas mãos no teu peito, minha testa tocava teu queixo, olhei para cima, me vi nos teus olhos.
Você cheirou meus cabelos e fechou os olhos.
– Que tipo de homem hoje em dia faz isso assim, sem medo de ser visto? – pensei.
Cheirou, fechou os olhos, e sorriu um sorriso bobo, sem dentes, desses que derretem os corações mais frios e gélidos.
Depois abriu os olhos e segurou meu rosto nas mãos, com cuidado e delicadeza. Olhou por alguns segundos e sorriu novamente, sorriu como se nada no mundo pudesse deixá-lo mais feliz do que estar ali comigo, exatamente ali.
E assim ele desarmou todas as minhas defesas, derrubou meus melhores soldados e invadiu o meu castelo sem deixar resquícios do portão que outrora havia ali.
Dançamos a noite inteira e, vez ou outra, entre gargalhadas e olhares, pedíamos para repetir a música, a nossa música, nossa valsa.

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Kamila Drieli

desentalei

Acordei um pouco mais assustado do que o normal.

Dessa vez a ressaca parecia vir do coração ao invés da cabeça.

Uma maneira curiosa de explicar todo o vazio deixado pelas palavras na noite passada. Quando a gente desabafa, colocamos pra fora sentimentos que guardamos por alguma razão. De algo ou de alguém. Algumas mudanças demoram mais do que outras. O que se aplica muito bem para móveis, não sentimentos. Mas por algum cômodo, ou incômodo, acostumamos muitíssimo bem com nossos móveis sentimentais.

Acomodar pode ser perigoso. Costuma ser uma confusão irônica entre conforto e tranquilidade, caminhando de mãos dadas por uma pista oval. Mas nem sempre mudar parece ser uma opção tangível. Muitas vezes longe da gente, pertinho da preguiça. Tem sempre uma desculpa esfarrapada que parece decorá-la muito bem.  A gente vai deixando virar rotina. Vai ouvindo piadas fantasiadas de carinho. Sai debochando da nossa sorte.

Mudanças são necessárias e vazios são preenchíveis. Mas é que tanta coisa depende da gente, que mesmo sabendo, estranhamos, principalmente quando se livra. Liberta mas sofre. Buscamos experiências novas desejando conservar memórias. Sonhamos em acordar no passado pra poder contar do futuro. É assustador enxergar o quanto é possível reclamar do futuro e do passado, só pra poder apelidar nossas cegueiras momentâneas.

Mas dos prazeres dessa vida, descobri que o mais bonito deles, é de como podemos nos reconstruir.

Então adoro acreditar que construímos nosso conhecimento com nossas melhores memórias, mas precisamos buscar algum sentindo dentro do peito. Tem palavra que só sai da boca da gente quando fica apertada no abraço. Bota um coração de frente pro outro, deixa que eles harmonizem as batidas e respira devagar. Curtir o agora e aproveitar pra juntar nossos cacos também. Abraçamos direito. E então aprendemos a abraçar. Pessoas e sentimentos.

Preenche o silêncio de paz, enxergamos uma luz no fim do túnel e vamos deixando essa chama crescer dentro da gente. Diante dos olhos, enxergue o trajeto que você vai viver da maneira mais leve possível. Busque novas respostas, mas entenda que nem sempre devemos fazer exatamente as mesmas perguntas. Evolua primeiro por si, para depois poder entender que ninguém muda pelos outros.

Pois antes de qualquer tipo de amor.

O respeito é universal.

Vida que segue.

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piscar de ano

Ela acordou mais do que o normal e sozinha,

Era por opção, por costume e por adorar essa sensação.

Acordou e já encheu o dia de sorrisos, compartilhou com o espelho só pra poder multiplicar o brilho do ambiente que já era todo dela.  Das preguiças da vida, ela deixava conversando com seu travesseiro macio. Isso significa que também deixava alguns nomes, que não tinha vergonha de sonhar, como nunca houve problemas em se esquecer.  Amava café e também adorava o perfume que ele aplicava pelo ambiente durante a manhã.

Tinha prometido que levaria poucas coisas na mala, mas não significa que teria organizado na noite anterior. Juntou o que mais gostava para o final de semana, pois a semana seria corrida, portanto não adianta tentar sabotar as vontades do futuro, teria de voltar pra casa. Tinha um hábito maravilhoso de sorrir enquanto conversava sozinha. Ou falava tão rápido ás vezes que talvez estivesse em dois tempos. No passado e no futuro. Mas indiscutivelmente a parte mais bonita era aquela em que ela gargalhava sozinha. Até confortava.

Por isso era tão estar perto dela. Era do tipo de pessoa que às vezes tá fazendo massagem na nossa alma, pelo simples fato de ficar com a cabeça encostada no nosso ombro. O tipo de pessoa que era bom ter dentro do abraço. Pelo maior tempo possível. A gente se apaixona naturalmente, fica meio embebedado, com toda aquela forma leve que ela tinha de levar a vida. Naturalmente vai tendo vontade de ter ficar assistindo só pra não atrapalhar. Fica tudo mais colorido.

Tinha traçado poucas coisas das quais tinha encarado naquele ano. Mas se portou muito bem perante todas elas. O que parecia que só a deixava mais forte. Ou mais bonita. O batom escuro que contrastava com a pele clara. Além de emoldurarem muito bem o sorriso. Encurtava os olhos enquanto bebia e flutuava muito bem sobre os assuntos, era o centro de atenção do triangulo que papeava. Pelos apertados abraços tinha deixado saudades quando passou.  Fantasiei.

Ela chorou timidamente com a sequência de explosões que harmonizavam dentro dela, fogos e champanhe. Atirava sorrisos envergonhados aos olhos que a cercava, não secou as lágrimas. Continuava linda. Conversou com a lua, pediu proteção e desculpas, aos outros e a si mesma. Mal abria os lábios. Quase que em forma de oração eu assisti o primeiro sorriso que ela deu pra si mesma naquele ano.  Não cobriu as feridas, daquele e de outros anos, mas nunca esteve tão preparada para aquele próximo. Era notável pela simples gratidão nos agradecimentos.

Cobriu os erros com aprendizagens, deu mais um gole e iniciou uma distribuição incontável de abraços momentâneos ou talvez eternos. Cantarolou enquanto brindava e desfilou pelos cantos daquela praia. Passo muito firme e bastante confiante. Talvez até mesmo pegando impulsos.

Pois não sei até agora se ela sumiu ou voou, num piscar de olhos. Um piscar de amores. Talvez por opção, por costume ou por adorar essa sensação.

Acompanhada pelo fato de saber que nunca esta sozinha.

Feliz Ano.

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