desamarra.

Eu tentei entender alguma das justiças do mundo, mas sem dúvida alguma a maior delas é quando você não quer ter dúvidas e ela bate na sua porta.

E de todos os pontos que a vida me mostrou, o mais injusto deles sem dúvida alguma é o de interrogação. Era tudo mais fácil quando eu ainda era um nó aqui dentro. Cansei de olhar ele lá, quietinho, apertado, tão bem feito e tão firme, que eu realmente não sei se o respeitava de tão bonito que era, ou então, se tinha medo de desatar por não saber como começar depois. Confesso que nunca fui bom com cordas em nenhuma de suas artes. Demorei para aprender a amarrar o tênis, nunca soube fazer um nó de marinheiro, mesmo desde bem pequeno dormindo com aquele pijaminha do Popeye. Meu avô tinha um quadro de nós no seu quarto. Eram bem feitos, artisticamente preparados, arrisco a dizer que eram perfeitos.

Na lista de coisas que não sei fazer, gostaria de adicionar “andar na linha” também. Não sei se é por ela ser tão perfeitamente alinhada e eu assinar meu atestado de ser um eterno desalinho. Ou por total desequilíbrio da minha parte. Só não sei ainda se mental ou emocional, só sei que era em total desalinho. Mas de qualquer maneira, bastava eu entender que qualquer coisas que eu quisesse, seria sempre mais fácil de alcançar em duas mãos que eu nunca precisaria de ninguém. Ninguém pra caminhar, ninguém pra segurar a outra ponta, ninguém pra enrolar ou desenrolar. O pouco que eu sempre tive já era muito.

Só que o tempo foi passando, eu fui crescendo e aqueles nós não mexiam, não mudavam. Fui começando de pouco em pouco a construir o meu, mas em uma perfeita desordem como quem coloca um fone no bolso e quando tira se depara com aquele nó que parece que nunca vai se desfazer. Só que desfaz. E nessas idas e vindas da vida, de algumas grossas linhas que iam se apertando, eu cada vez mais fui construindo o meu nó. Fui deixando ele cada vez mais seguro, mais embolado e cada vez mais sem ponta. Até o dia você senta e não tem mais por onde passar. Não participa das brincadeiras, apenas olha os outros laçando seus respectivos nós que já fez tantas vezes.Se surpreende com aquilo que se dizia conhecer tão bem. Entende que o seu nó, está cheio de buracos, que o que você fez tá horrível. Que não precisa de força e sim jeito. Até que uma mão delicadamente lhe toca, desfazendo toda sua “cama de gato”. E aquilo que suas duas mãos nunca conseguiram desfazer ou fazer sozinho, simplesmente vai se desmantelando pouco a pouco.

Mas já que desfez, já que desenrolou todo esse enorme emaranhado que a vida fez sozinha, não deixa assim. Faz um belo laço e decora algo que você goste. Enfeita, abrilhanta. Ou faz o nó que estava outra vez e, deixa do jeito que encontrou. Só não deixa assim livre, liso, indefeso e sem sentido. Ter alguém puxando de um lado ou de outro sem nada pra proteger não faz bem. Nunca soube me equilibrar, já disse isso. Não custa ter uma ajuda pra aprender. Talvez o equilíbrio que faltasse tanto, não fosse um ponto para se focar e sim uma mão para se apoiar. A única linha linda e sem nós é o horizonte que eu enxergo todo dia. Aquele horizonte era o abraço que você nunca me deu. Era um momento novo, confesso que sensacional. E foi assim, que a matemática da vida foi me ensinando que só, na verdade é plural.

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autor_jorge

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