Projeto verão.

Já não aguentava mais aquelas dores no estômago, já não era mais o mesmo fazia um bom tempo, nem na rua, nem casa e principalmente nem na mesa de jantar. Fui descobrindo que estava acostumado a me alimentar absurdamente mal, que minha dieta era totalmente equilibrada em praticidade e na falta de qualidade. Mascarava a indigestão com qualquer coisa, um condimento que vestia bem o prato ou propriamente um bom vinho que acompanhava um prato não tão bom quanto. Precisava realmente voltar a ser o que era antes de conhecer o fabuloso mundo do fast-food. Não só para poder voltar a correr na orla da praia sem camisa com meu labrador em um sábado no final de tarde. Precisava voltar a viver bem, simplesmente para poder viver mais e melhor. Estava gastando cada vez mais energia fingindo me sentir bem, do que realmente sentindo.

Foi quando fui encontrando bons hábitos e mudando a minha forma de me alimentar, fui descobrindo que cada vez mais importante ler e conhecer mais o que você coloca pra dentro da alma, algumas vezes o maior peso não esta na barriga e não vemos na balança. Mas sim nas costas, que as vezes não são tão largas para as calorias da rotina cansativa e lamentável. Mas chega a hora que você muda, e começa a sentir o bem que essas mudanças vão fazendo no corpo. Vem também a notícia que seu corpo não é tão tolerante com aquele prato, ou vai saber, o prato não é tão tolerante a você. Foi quando o bom vinho que antes acompanhou o bom prato, daqui pra frente vai ser só o vinho. Ela fazia bem pro corpo, mais do que deveria, menos do que você queria. Mas ela não fazia bem pra você.

Depois daquela noite, lavei os copos e os pratos da mesa posta para apenas esperar a comida esfriar, eu tentei de todas as formas do mundo tentar não saber onde você estava. Você nunca fez parte da minha rotina, mas quando eu fui começar a mudar o que eu chamava de hábito, fiz todo o possível pra não cruzar os meus novos com os seus de sempre. Infelizmente aconteceu.
Acontece que tudo tem um começo. Mas pra todo começo houve um final. E absolutamente para tudo que acaba deixa algo. Mágoa, saudade, fome, alegria, cicatrizes ou lembranças. Seja lá o que for algo é deixado, queiramos ou não.

Foi dai que eu comecei a tentar parar de deixar minha mente se perder em você. Mas pensava tanto em você ao ponto de sempre riscar o canto da agenda, a cada dia que passava. E aos que me perguntavam o motivo daquele traço sempre um dedo abaixo da data, eu respondia prontamente que era há quantos dias eu conseguia cumprir a dieta que estava seguindo. Era apenas uma mentira em partes, afinal, como qualquer dieta eu saberia que era para o meu próprio bem, que era para ter uma vida melhor. O único problema era que o motivo daquela reeducação alimentar não me fazia bem, mas pelo menos me fazia feliz.

Mas tudo bem, já perdi tanta coisa na vida, mas talvez esse peso tenha sido a mais difícil de uns tempos pra cá, mas vai sair não importa que seja na academia, num prato mais colorido ou numa corrida em torno de uma antiga igreja que enfeita uma antiga praça. Vou largar, seguir e vou me servir de coisas novas. Pra que eu tenha aquela sensação boa de quando me sentar na mesa mais uma vez e do outra lado da mesa cruzar com aquele meu novo e bom hábito. Nem que seja por uma lembrança que vai me fazer sorrir olhando os mesmos olhos oito vezes. Achando que aquele sorriso é pra mim, descobri que não é, e mesmo assim, olhar aqueles olhos pela nona vez e sorrir pra si.

Bom dia, bom apetite.

autor_jorge

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