até breve

Você não reparou, mas hoje no café da manhã eu não falei muito, fiquei quieto, tomando lentamente meu suco e te admirava. Calado, apaixonado e triste. Sorria sozinho admirando o quão bela você conseguia ficar sem fazer absolutamente esforço algum. Minha regata rasgada preta, que nunca ficou boa em ninguém, cai praticamente perfeita em você. O cabelo preso de qualquer forma, como quem acordou com pressa e apenas prendeu com  a caneta que uso para escrever todos as declarações que já fiz pra você mas nunca te mostrei. O sol que invade a sala nem ousa iluminar a mesa, se coloca categoricamente em sua direção. Ilumina as suas pernas cruzadas como índia na cadeira velha, até o seus olhos claros que se incomodam com a investida agressiva do maior dos astros. Você repara que eu vejo a briga injusta da luz com seus olhos e sorri envergonhada. Como aquela primeira noite em que te vi e precisei falar que não conseguiria passar a noite em paz se não dissesse que você era hipnotizante. Sua vergonha de não ter vergonha me encanta.

Quando você sai da mesa e entra no banheiro para começar o seu dia, volto em passos curtos para o meu quarto, pego o meu violão e já começo a cantarolar alguma música de perda ou saudade. Sofrendo lentamente como se adicionasse uma trilha sonora no momento que estava para acontecer.
Gosto desse fato de ficar me punindo por algo que ainda não aconteceu. Sofrer por antecipação, sentado na cama, sozinho no meu mundo paralelo enquanto você se seca pela última vez com a minha toalha, mas ainda não sabe disso.

Quando você entra no quarto tirando tudo do lugar, procurando suas coisas eu balbucio seu nome baixo, como quem precisa falar algo, mas não quer ser ouvido. Chamo rápido como um susto, mal completo seu apelido, apenas a primeira sílaba. Você olha assustada, peço que você se sente ao meu lado, na mesma cama que eu estou cantando minhas perdas, na mesma cama onde te abracei te protegendo e querendo que fosse pra sempre aquele momento, ali onde eu alcancei sem dúvidas uma das maiores sensações de paz, é ali que vamos voltar ao chão.

Antes de começar a falar, sinto o quanto meu coração se emaranha em meio as palavras. Ele quase sobe pela minha garganta, tentando tampar meu ar e com isso parar imediatamente tudo o que você escuta embasbacada. Sinto como se ele pensasse: “já que você não quer me ouvir eu não preciso sofrer pelo o que você quer dizer. Não é justo. Não é porque não falo que você não deve me escutar. Caralho cara, para.” Mas você diz, o coração não sobe, o ar não some, tudo que eu não queria dizer foi dito. Seus olhos claros se enchem d’agua e primeira lágrima custeia para escorrer, ela sabe que não merece cair e tenta se firmar ali pelo máximo de tempo que aguentar. Até que cai e percorre o seu rosto rapidamente, pausa na ponta do queixo e como se desse um último suspiro para, treme e cai. Quero chorar também, mas vou esperar você sair pra isso.

Eu te amo, posso sentir isso, mas prefiro que você não saiba nunca. Então vou me esconder aqui atrás do que todo mundo diz. Você é a garota certa, que eu infelizmente conheci na hora errada. Pode ter certeza que vamos viver uma história juntos algum dia, só que não agora. Prefiro que você lembre assim, é melhor que se convencer realmente do babaca covarde que eu sou.

autor_jorge

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