todo carnaval volta

Aqueles momentos tão aguardados quando disseram que você estava vindo, senti como se aguardasse minha escola de samba favorita invadir a avenida, sem ao menos te conhecer. Talvez fosse uma esperança tola, de um amor de carnaval. Eu só precisava ter os pés no chão, não agir com o coração. Simplesmente evitar mais um desapontamento carnavalesco. Quando olhei pelo fundo dos seus olhos no inicio daquele feriado de festa, tive a mesma sensação que tenho em todo Carnaval. Veria mais do mesmo, veria simplesmente mais do que me encanto todo ano e eu sei exatamente quando termina. A beleza e a maestria de todo o seu abre-alas, Todo o investimento feito na primeira impressão, nos primeiros quinze minutos. A comissão de frente na sua grande maioria das vezes, mais cordial do que propriamente sincera (ôôô Aurora).

Mas ó que bom você chegou (bem vinda a Salvador) e contrariando, positivamente, todas as minhas expectativas você foi assustadoramente simpática, enquanto falava rapidamente algum assunto que parecia já estar acontecendo entre as mensagens, parecia realmente preocupada em saber o que já se passava de assunto no ambiente. Puxando assunto com quem estava ao lado, sorrindo e brincando. Sem dúvida o seu segundo carro alegórico estava carregado de tamanha simpatia. Não tinha como não gostar. Mal pude notar as faltas das já tão famosas plumas e penas que qualquer passista usa para chamar a atenção. A forma como você arruma e brincava com a franja que repetidas vezes caiam sobre seu rosto naquela noite, sem dúvida era mais charmoso que qualquer balanço ou brilho que sua fantasia pudesse carregar.

Quanto mais o tempo passa, o público vai gradativamente se encantando por tudo que você transmite. É uma covardia falar que seu samba não toca o coração. Sem pressa, sabendo que o tempo para atravessar a avenida será cumprido, você brinca com o som da bateria. Nunca entendi como separar os sons daqueles tantos instrumentos que param e recuam sob a ordem de um simples apito. Mas vindo de você, tudo parecia tão suave e agradável. Que nem mesmo seus sustos ou agudos atrapalhavam a harmonia daquele som. Completamente vidrado pelo som quem embalava cada palavra dita, começo a me curvar diante dos meus próprios e pré-julgamentos e realmente entendo o quão tendencioso da escola anterior eu estava sendo. O meu problema foi no carnaval passado. Eu não errei de carnaval, eu errei de escola. E esse erro não parecia que iria se repetir.

Então me livrei totalmente das memórias e resolvi deixar aquele que parecia seu último carro entrar na avenida, para coroar a mais bela de todas as apresentações que eu já tinha visto. Paro em sua frente e sinto que aquele seu abraço faz com que as minhas velhas engrenagens voltem a girar, as mesmas que só procuram por um toque que substitua aquele gravado de outros carnavais. A diferença é que já fazia um bom tempo que eu não lembrava o que eu continuava tentando esquecer. Mal te conheço e já posso detalhar cada traço seu. A forma como suas sobrancelhas ficam arqueadas quando você está realmente prestando atenção em algum assunto. É a mesma com a qual você me olha, enquanto tento mostrar que aprendi cada verso do seu samba enredo. Óbvio que erro. E você para minha felicidade acha graça. Descarta minha maior e minha menor nota e simplesmente me acompanha naquele bendito erro.

Amanhã quando as cinzas chegarem para encerrar o carnaval, eu estarei voltando para minha já habitual e cinzenta rotina. Longe e diferente da sua, que é harmônica e bela. Aniversários são apenas uma vez por ano, mas já começo a sentir mais saudades do meu carnaval do que propriamente do meu dia. Sei que é por um pequeno período de tempo. Mas no ano que vem, ao invés de me dedicar para ter uma data só minha. Vou voltar aonde me perdi esse ano, tentar te encontrar e aproveitar aqueles três longos dias para chamar aquela data de nossa.

Todo carnaval tem seu fim. Mas todo carnaval uma hora volta.

carni

autor_jorge

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