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idas e vindas

Tanta coisa na cabeça, um bolo de palavras, imagens, vídeos, saudades, amores, dores, fome de conhecimento, raiva por saber demais. Quando desejamos entender o que não conhecemos abrimos uma lacuna dentro da nossa mente que ainda não delegamos uma equipe preparada para cuidar da sua chegada. É uma compra por impulso, daquelas que não tira capital do nosso bolso, mas que acreditamos que não precisamos substituir por nada. Um benefício que não ocupa espaço algum. Tolos.


Conhecimento é um móvel enorme, caro e pesado que vivemos empurrando e carregando para mobiliar por espaços desconhecidos. Espaços que por muitas vezes nunca pediram para receber tanta informação. O anseio por ocupar, contrasta com a nossa agonia pelo vazio. Pela bagunça que foi abandonada, pela construção pela metade que foi largada na nossa paisagem. Tudo que é inacabado possivelmente acabou com alguém. Das obras abandonadas na minha caminhada, minha memória sem dúvidas é meu pior credor. Projeta meus medos em pausas casuais. São encontros desnecessários dentro de mim, confrontos repetitivos que acontecem diante do meu reflexo frente ao espelho. Do banheiro ou do carro. No reflexo do mar e da piscina. Dentro de um choro ou dentro de um abraço. Ando me encarando muito pouco por medo de confrontar. Não tenho espaço para desabafos.


Prefiro fugir para o barulho. Para a confusão da informação excessiva, da vida que nunca foi minha. Corro com a velocidade de um animal enjaulado, a fome de quem não tem nada mas ambiciona o mundo dentro do prato. Pelo sonho do outro. Desejo do outro. Fome do outro. Me aconchego no barulho, faço do caos uma trilha sonora que controlo através do volume da minha paciência. Respiro fundo para alinhar as frequências e sintonizar meu vazio. Minhas páginas em branco. Páginas que deixei de escrever. Que abandonei por preguiça, que larguei pelo medo. Páginas que já foram paredes. Talvez, por esse desejo descontrolado de falar mais do que deveria. De odiar acumular informação, de não entender porque caralhos guardamos tanto. Fala que quer. Não diga que ama. Abrace forte. Não solte a mão. Corra junto, mesmo que você seja mais rápido que o urso.


Pense que o mundo pode acabar. Mas isso não pode ser um alívio. O caos tem que agradar a todos. Dançaremos durante a guerra, pediremos portas pela metade, páginas pela metade, saúde pela metade. Abraços pela metade. Direitos para alguns, música para todos. Para lembrarmos dos vivos distantes. Para brindarmos aos mortos. Renegocie suas dívidas. As que você pode pagar e as que você precisa conviver. Em curto prazo, quantos amores são deixados de lados por sonhos que são projetos que nunca foram projetados. Longo prazo. Longo papo.


Quando me debruço em papel e caneta, sinto vontade de correr para sempre. Não parar de digitar é uma forma de voar. Rabiscar os cadernos que encontro em branco. Ocupar os espaços. Deixo um tanto. Trago um pouco. Gosto quando perguntam se não darei final aos meus textos inacabados, mesmo que para mim, eles tenham chegado ao fim. Me divirto em entender que na verdade buscamos finais lógicos. Para que possamos adequar nas nossas caixinhas de finais. Acontece, e muito.


Eu não entendo muita coisa. Coisa que não falo, coisa que não escrevo. Coisa que não termino. Mas voltaremos a escrever, sobre aquele universo enorme de coisas que eu desconheço. Pois no vazio tem espaço imenso para o desconhecido. Sem se importar com tamanho, peso, cor ou preço. Vou ocupar o meu vazio com a curiosidade, pois a felicidade só ocupa quando o medo e a tristeza não estão. Receptividade de sentimentos é algo que entendo pouco, mas já escrevi muito.


Meus fantasmas que lutem com a minha curiosidade.

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desabar fardos

Dentro de nós uma enorme confusão.

Minha cabeça ainda revive alguns fracassos recentes, tentando sabotar meus sonhos românticos futuristas. É que ando numa alegria tão gostosa que eu começo a acreditar um pouco mais no impossível. Recupero esse meu pensamento otimista com a vida, toda vez que namoro você de longe do meu abraço, mas próximo da minha vista. Quando você veste minha camisa pela manhã, quando a gente conquista absolutamente tudo que a gente fala. Quando eu tenho uma impressão de que existe alguém que torce pela gente ouvindo as nossas conversas. Por dentro das nossas inseguranças existe nós.

Tudo bem estar nublado no início, algumas caminhadas são duras e cheias de curvas. Mais do que ninguém nos habituamos com as serras da vida desde cedo. Você com os pés na praia e eu com a cabeça na cidade. Eu maluco pela cabana no campo e você enlouquecendo com desejos cosmopolitas. Um zigue zague de ideias e ideais. Do jeito que a gente sempre souber ser, do jeito que você ensinou a acreditar que dava pra aproveitar. Que sempre tem espaço pra aprender um pouco mais.

Então pode tentar. Não tem problema, chuta a porta e vamos ver no que vai dar essa caminhada maluca. Começando a clarear a nossa visão e os buracos estão dentro do esperado. Tá tudo bem estar confortável no abraço do nosso sofá. Além de estar confuso o mundo lá de fora ele sempre assustou que não o enfrentou. Eu nunca vi você não retrucar alguém que afrontasse a suas certezas. Já deu certo. Deu certo quando você aceitou me acompanhar naquele bar. Depois naquela festa. Teve também aquela chuva. A pizza. O dia que eu perdi o horário das obrigações. Deu certo quando a gente foi pro nosso canto e quando voltou pro nosso berço. Nenhum tropeço inesperado, mas talvez as coisas mudem. Reavaliar já é uma forma de recomeço.

E não tem nada de trágico nisso. Coisas mudam. Pessoas mudam. Desejos também. Vou contar que já tem um bom tempo que seus desejos tem sido escritos com a minha tinta. Eu estou adorando essa sensação de poder desbravar um universo imenso de inseguranças agarrado na tua mão. Você traduz meus sonhos pois já falava a minha língua de outras vidas. Não deixa de tomar sua água, alonga esse pescoço. Arruma essa coluna e acelera muito pois você não nasceu pra ficar parada. Titânica. Você atropela parada, por gentileza, movimente-se.

Dos gostos que já deixou na minha boca, o que mais abre meu apetite é a esperança que você me faz beber todo dia um pouco. Quando deito ao seu lado, quando arranco tua risada, quando você briga comigo pelo óbvio e quando desperto antes de ti. Reforço meus escritos ditos em momentos de lazer e desespero. Me apaixono ainda mais nos momentos pouco ortodoxos em que vivemos. Vida longa para nossas raízes. Que mesmo de longe nos impulsionam para todas as batalhas diárias. Nos readequando e nos ajudando em toda essa trilha.

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encaixotados

Queria ter participado da reunião de valores morais dos tempos modernos, exatamente no momento em que acreditaram que era coerente se manter imóvel e exigir mudança. Mesclando a sensação de impotência recheada de dúvidas. Ancorado na tristeza, estático, aguardando de maneira nobre que a minha energia se desfaça aos poucos. Um pouco no controle da televisão. Um tanto na tela do celular. Rouco de silêncio, vejo minha expressividade coibida pelo medo do novo. Da proximidade, da imbecilidade. Da governabilidade da intolerância. Expansivo sempre fui. Atrapalhado além da conta.

Um elefante de quarentena numa loja de cristais.

Vejo em cada esbarrar do meu caminhar truculento, que talvez eu não tenha desaprendido, mas posso ter optado por esquecer. Reposicionei minhas frustrações dentro das minhas camadas de carisma. Abracei o mundo com o mesmo calor com a qual eu fui chutado em meus piores momentos. Ignorei minha ferida e acreditei que fosse humanamente possível trocar a roda do carro em movimento. E a obviedade tem uma maneira nada sútil de escancarar cicatrizes que o tempo ajudou a esquecer.

Seguimos descrevendo momentos irrelevantes com trilhas amorosas, fantasiando saudades invisíveis em corações desconhecidos. Por mais alta e longa que seja a trajetória de um avião, é necessário um espaço para o pouso. Outro pedaço de terra para que se possa descansar. Suspirando em segurança, por uma lembrança do instante que já faz parte de um passado. Adrenalina repousando no mesmo espaço que a ansiedade. Um permanente estado de alerta que educa e doutrina. Somos o que consumimos, mas nos perdemos nos rótulos pois eles nunca foram lidos. De produtos e pessoas.

Inesquecível passou a ser a palavra mais valorizada em mundo as pessoas não sabem o próprio número de telefone. Projetamos nossas dores em ombro de amores. Questionamos nossa felicidade enquanto seguimos nossa caminhada. Precisamos comprar. Precisamos mudar. Precisamos comer. O evoluído mascarado ainda olha torto para quem lhe pede comida e é contra a cota. Desacreditado do tamanho que a própria palavra lhe enforca. Bem vindos ao vale da arrogância baseada no achismo.

A desconstrução do novo mundo vai deixar mágoas, nas sensíveis aos sensitivos. Entretanto, são das lágrimas que teremos como engrenagem das novas máquinas. O tal pedaço de terra nunca foi teu. Quando foi nosso, já não era deles. Demarcados por proprietários autoproclamados. Herdeiros fogosos. Abastados pelo sangue alheio. Julgando o belo que canta suas lamúrias para a lua, por ser desprovido de um padrão de beleza. O barão que tanto maltratou a baronesa, usurpou a esperança de quem lhe servia e queimou o que não era seu. Mas foi um ótimo avô. Separemos o autor da obra. Pelo menos no nosso álbum da família.

Ariscos e incomodados. Subversivos e amedrontados, mas conectados de uma forma como nunca antes estivemos. Como sapatos novos, que guardados, aguardam o momento de serem pisados. Incomodados, com as poesias que não lemos e os amores que perdemos. Felinos encaixotados. Desesperados para cruzar com o novo. Fugir da caixa. Mijar em muretas, conversar com a lua. Sumir pela rua. Renascendo quantas vezes for necessário nas incontáveis-sete-mortes que temos nessa vida e caindo em pé.

O futuro que você acreditou que nunca fosse chegar bateu na tua porta.

Você precisa de rótulos que não lidos ou de números que não são lembrados?

Abre a mente. E a porta. Voltamos.