velhos vícios

Uma tosse curta e um silêncio longo.

Dei de cara com uma saudade que a minha memória tinha decidido esconder

Tanta coisa engasgada pra falar ao mesmo tempo, que a gente fica com um nó de palavras entalado na garganta. Deixa que o silêncio converse um pouco, organize as prateleiras das lembranças. A guarda baixa ajuda a entender nossos corpos desprendendo de vaidades. A combustão dentro do corpo é incontrolável e peitos descobertos de mágoas não poupam abraços. Então sorrimos.

Encontro bom. Mesmo quando não planejamos ou então não queremos. A leveza do momento é sútil. Sentimos como é possível flutuar num mundo de pés no chão. Elevamos nossas energias através de carinhos aprisionados. Entendemos que entender o mundo é cada vez mais conhecer a si.  Que a volta mais bonita depois das que o mundo dá, é sem dúvida as que podemos dar entre nós e o lugar do outro. O sentimento delicioso e viciante, que por diversas noites senti falta. Das conversas longas e sem sentido, dos pontos de chegada que nunca existiram e sobre os de partida que foram arduamente detalhados.

Guardo com carinho na memória os momentos em que corri na tua direção. Quando a muralha que tanto me apoiou também era o único lugar onde eu conseguia descansar. Era onde eu poderia subir. Pra admirar, opinar ou pra fugir. Um refugo vazio e silencioso, quase mórbido. Uma folha de papel em branco infinita acompanhado de uma caneta carregada de memórias detalhadas. Os braços já cansados de carregar culpas que nunca foram necessárias teimam em não produzir. Quando sofrer parece não nos machucar, ferimos cada semente nossa que plantamos no jardim de alguém. Plantamos feridas. Longe dos nossos olhos, mas sentidas em diversos corações. Fantasiamos fantasmas do passado, para que possamos conviver com nossos medos. Legendamos nossas dores.

O problema de legendas é que cada cultura interpreta da maneira que quiser. Ou que aprendeu que era certo.

Em terra onde precisamos explicar que focinho de porco não é tomada, aprecio essa forma de leitura,  tanto para filmes como para rótulos. O cinema da vida resolveu nos mostrar direitinho tudo isso. Quando as coisas acontecem de maneira inesperada, sentimos as emoções correrem pelas veias da razão. A química inflamável faz explodir toda essa adrenalina repreendida. Se abrir ao desconhecido é uma maneira perigosa de semear os valores do passado, um mergulho num oceano desconhecido, armados de um egoísmo misturado com o oxigênio, desejando  que possamos transformar tudo aquilo que não conhecemos em algo que possamos controlar, ou ao menos prever.

Abraços curtos por fora e distantes por dentro.

Acatamos companhias necessárias, para que possamos enxergar o mundo através de outros olhos. Guardas abaixadas, para que possamos aceitar ajudar para descer do muro. Um lado novo, com histórias misturadas em sotaques, lembranças acompanhadas de novas trilhas. Jovens, ferozes e famintos. Misturando sabores por pura pressa, mas não por ingenuidade. Ganância de sentimentos ou de momentos. Engasgam aqueles que não mastigam e saboreando a gula é uma elegantemente vai  se engasgando no próprio o ego.

Afinal, nem tudo é disputa nessa vida, principalmente quando se trata de momentos marcantes.

Quem come quieto, até que  pode comer em dobro.
Mas ainda segue saboreando saudade.

bon appétit.

cf048272a7c78611933fe002347a8188

autor_jorge

 

 

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *