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…o interfone tocou. Precisava descer, haviam me deixado uma entrega. Era uma manhã de domingo. Aquele tempo bem meia-bomba, não se sabia ao certo se era a chuva chegava ou se ia embora. Um bolo de nuvens acinzentadas pintava o céu, elas se moviam deixando em suas frestas alguns tímidos raios de luz. Desço então para pegar a tal entrega, não sei se irritado ou curioso. Alguém havia se dado ao trabalho de me fazer com que aquela entrega chegasse no domingo, o que torna essa pessoa uma filha da puta de marca maior. Ou então, lembrará de mim no sábado. Imaginar isso me confortava bastante, ser lembrado no dia em que muitos tentam esquecer do resto da semana, que fofo.

Recebo um pequeno envelope. Abro. Dentro dele um envelope menor, dentro desse envelope menor estava um cartão. Liso, simples, pequeno e direto, do tamanho de um cartão de visita. Estava escrito: “Erros…” Virei o cartão em busca de alguma coisa que completasse a palavra, ou que simplesmente desse algum sentido aquilo que eu acabava de receber. Nada. Agradeci seu João por ter me avisado da entrega e subi para meu apartamento.

Erros, que palavra mais nada com nada, sem sentido algum em um dia comum, um envelope direcionado para mim sem sentido algum, o que diachos queriam me dizer. Ou então, pra que raios queriam que eu pensasse? Não entendia nada, e meu sono já havia se perdido em meio aquela dúvida. Não largava o cartão da mão, confesso que ate tentei dobrar a pontinha pra ver se tinha algo dentro, fazer como fazia com as minhas figurinhas. Em vão.

Sentei-me então na beirada da cama. Envelope no chão. Cartão na mão. Mão esquerda esfregando o rosto. Odeio charadas, mas aquela realmente estava me deixando intrigado. Deu a lógica, não consegui parar de pensar nos meus erros. A questão é, quais deles? Não que eu seja um caso perdido, mas tinha meus problemas, como qualquer jovem do século XXI, nasci na década certa, sou geração X Y Z e quero fazer tudo que acredito que consigo fazer. Acabo me atrapalhando às vezes. São conseqüências. E sobre querer fazer tudo ao mesmo tempo hoje eu erro menos. Já errei muito. Sofro menos.

Me irritei por não conseguir resolver aquela maldita charada,então resolvi guardar aquele cartão. Abri a carteira. Me deparei com o cartão de visita da minha empresa. Era estranho colocar um cartão com aqueles dizeres logo na frente do lugar onde ralei tanto para estar. E era uma senhora contradição, afinal de contas se estava tão longe como tanto queria e tanto sonhei, foi porque aprendi com meus erros. Aprendi, amadureci e conquistei.

Foi então que eu comecei a rir daquilo que tanto me irritava, me debrucei na janela, a vista pra praia não é algo que todos podem se dar ao luxo de ter. Nem eu mesmo poderia me dar a alguns dias atrás, mas foi depois de algumas coisas que fui vivendo, lutando, que busquei onde eu estava agora. Com o cartão na mão eu via que erros tinham sido passageiros, e aconteceram, só erra quem tenta. Só aprende quem erra.

Pensei em jogar fora. Mas então pensei duas vezes. Meu celular vibrou. Era um e-mail. Ai esses celulares com internet. Gostava mais daquele antigo de toque polifônico e tela de uma cor só. Mas sem problemas, esse celular também estava agora ali graças a um erro. Um erro de cálculo na dose da bebida. Eu jurava, que depois daquelas doses de absinto, meu celular alçaria vôo depois de ser arremessado da janela. Erro infantil.

Era um e-mail de um remetente chamado “Passado”. Pensei ser vírus, é claro. Mas a mensagem do mesmo, calhava com o dia: Erros. Abri quase que automaticamente ao ver aquela palavra que já estava fazendo parte da minha manhã. O e-mail, como infelizmente já esperava, era direto. E no corpo do e-mail apenas: “… nos fazem aprender a ser pessoas melhores. Ou não.”

Lindo. Perfeito, singelo e tocante. Era absolutamente tudo que eu precisava para completar o tal cartão que havia recebido. Não sei quem foi, mas foi genial. Tão simples e tão bem pensado.  E eu podia responder com toda a certeza aquele e-mail: “… nos fazem aprender a ser pessoas melhores. Ou não.

Honestamente, muito obrigado.

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autor_jorge

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