Ás vezes eu não sei o que escrever.
Quase sempre me pego perdida entre papel, caneta, e o bloco de notas do meu celular. Tudo vazio, sem palavra, sem pauta, sem margem. Penso uma rima, e ela fica pobre diante da complexidade do que quero dizer.
Nenhuma palavra parece saber traduzir, todas parecem inúteis enquanto minha garganta sufoca o que realmente é.
Imagino-me sozinha no alto de uma montanha, bem perto de Deus, observando nuvens de formatos variados num céu repleto de nuances de azuis indescritíveis. Penso no que pensaria estando lá. O que será?
Tento me despir de ego, posse, razão, e imagino uma vida livre de grades, de preceitos. Imagino como seria se mais importante que a selfie, fosse o beijo.
Não me incomodam as selfies, me incomoda vê-los na mesa do bar sem se olhar, cada um absorto em seu universo particular chamado “celular”.
Não me chateiam as publicações, me entristece saber que quando estão sozinhos, num quarto, não conseguem falar metade do que escrevem no pé do ouvido, baixinho, sem que o resto do mundo precise ouvir.
Felicidade é falta de necessidade de se exibir.
Imagino que ali, perto do céu, o amor soaria como a música que é, ai penso em tantas vidas desperdiçadas, em tantas pessoas mutiladas por amar da forma errada, como se amar fosse uma fórmula… E amar não é.
Não é algo que se possa ensinar, e todos já nascem sabendo amar.
E eu sou só mais uma menina perdida tentando se encontrar, e tentando explicar o que não tem explicação.
Amor é contramão, é revolução.
Amar de forma verdadeira e plena é o maior exercício de liberdade que podemos praticar numa era tão cheia de mega bytes e falta de emoção, de sensibilidade, de compreensão.
Amar é declarar guerra ao nosso ímpeto de querer que tudo seja como desejamos, é se desnudar diante do outro, desarmar nossas vontades e respeitar a individualidade.
Amo você por ser você.
Te conheci assim, e quero que sua mudança e evolução ocorram por necessidade pessoal, não quero mandar, pedir, e muito menos impor o que eu declaro correto.
E, por isso, nunca vou te privar.
Nem tentar.
Fácil é estar com alguém, já amar…
O telefone toca mas o número não era o mesmo. Não sei se estávamos diante de um novo ou simplesmente aquele contato não era teu. Mas atendi. Do outro lado da linha, sua voz rouca e abafada continuava o assunto como se fôssemos os melhores amigos. Não éramos e você sabe. Descobri o dono da magia quando ouvi a risada abafada, quase que como se fosse mastigada. Reparei pelo sotaque que você ainda coloca na última vogal da frase. Descobri pois na verdade eu nunca esqueci.
Atirei meu corpo contra o azulejo da sala, enquanto você me paparicava com as suas desculpas por eu não ter mais o seu contato. Aquele seu joguinho massante de sedução. Primeiro agindo naturalmente como se nossa última ligação tivesse caído, quando na verdade, eu adoraria ter arremessado meu celular contra a sua direção. Depois o discurso ficava mais adocicado, dizem que eu te devia desculpas por ainda não ter o teu nome nos meus contatos e por eu ter sumido sem razão.
Dessa vez a risada não foi abafada, foi bem alta. Para que você pudesse ouvir, até mesmo para as tuas duas próximas gerações. O tom dela não era nem meigo, nem simpático. Mas uma risada suficientemente amarga para poder passar boas doses de juízo pra essa tua emoção. Suspirei lentamente e chamei o teu nome pela primeira vez, afinal, era a minha hora de ter um pouco de atenção.
Expliquei por tópicos, para tentar ser o mais transparente possível, diante de toda aquela situação. Contei que sonhei com você algumas noites depois que você foi embora. E disse que seria mais fácil você ter me dado o teu adeus, sem ter atirado pedras em minha direção. Expliquei que covardia, era o nome desse processo de destruição de caráter que você resolveu me apresentar sem que eu pudesse dar algum tipo de explicação.
Sua voz do outro lado, já não parecia mais brincar e o silêncio mais uma vez falou tudo o que você não teria coragem. Com a sua mudez você admitiu o seu erro e abraçou o seu próprio medo. Me procurou por recordar sozinho que eu arrancava seu sorriso sem custo. Que uma cerveja gelada ainda é o meu melhor programa de sábado, e se eu pudesse, trancaria o mundo dento do que meu quarto, vestiria suas camisas e limitaria minha vaidade em arrumar o cabelo.
Lembrei que quando pedi que você ficasse, era exatamente por tudo de bom que você trazia e pelo pouco que você sugava. Que eu amava o fato da sua companhia ser tão leve e que ser feliz com o simples ainda é o que me encanta.
Então eu agradeço pela ligação, mesmo que tenha sido por engano. Pois é assim que eu prefiro lembrar. Bom saber que você está bem e cheio de paciência pra flertar.
Então desligo sem anotar seu número mas agradeço por ter me deixado falar. Talvez, o maior segredo pra ser feliz nessa vida, é deixando o passado o passar.
Existem algumas coisas que você nunca vai saber.
Uma delas é o jeito como ela dorme, outra é como sorri ao acordar. E olha, posso te dizer com segurança, não tem coisa mais bonita pra se observar.
Eu odeio pessimismo, acredite em mim, eu nunca brinco. Mas odeio ainda mais rodeios, falta de precisão, por isso, amigo, vou direto ao ponto.
Ela foi a tua chance de felicidade. Parece abstrato, quase absurdo, mas não é, se você parar pra pensar.
Quantas coisas extraordinárias a vida colocou no teu caminho? Não tô falando de grana, nem de sensações momentâneas como passar no vestibular. Tô falando de algo que fez realmente teu coração vibrar, que te fez ter vontade de virar a mesa, de jogar tudo pros ares, fazer uma mala e bater numa porta que você nem sabe exatamente onde fica.
Tô falando de algo que te fez ter vontade de mudar de vida. De ser alguém diferente, de deixar antigos hábitos, de comprar flores, de abrir a porta do carro.
Quantas pessoas como ela você conheceu?
Olha, eu vi poucas. E daqui eu vejo muito, vejo tudo. O que está por fora e o que pulsa dentro. Vejo cada aresta e cada tonalidade de sentimento.
Essa menina não tem brilho só no sorriso, acredite, você vai lembrar dele pra sempre. E vai lamentar igualmente por tê-la deixado partir. Ela tem uma alma colorida, um coração cheio de bondade e uma sensibilidade fora do comum. O lugar dela poderia ser ali, no sofá da tua casa, segurando tua mão. E ela te amou de um jeito tão, tão grande, que me fez ter vontade de possuir coração.
Fica calmo, talvez um dia você encontre alguém assim, talvez, não sei mais.
No fundo, no fundo, odeio quem deixa escapar por entre os dedos algo assim, de tamanha proporção. As pessoas perderam mesmo a razão, o discernimento, abrem mão de amor, de sorrir, por medo, por falta de atenção.
Mas não simplesmente deixam de arriscar, elas mentem, não querem o risco e não querem a perda. Fazem de tudo para que a pessoa fique ali, stand by, enquanto resolvem se vale a pena ou não, quando, na verdade, a chance é pessoal.
As vezes me envergonho da naturalidade com que vocês mentem e enganam quem só ofereceu o que tinha de mais bonito. Você sabe me dizer quanta coragem cabe no desistir? Eu mesmo nem sei precisar. Sei que desistir não é adjetivo para os fracos. Desistir, nesse caso, significa ser forte o suficiente para se colocar acima de alguém, de tudo.
Ainda bem que o coração é auto suficiente. Se recompõe e se reconstrói de mil maneiras diferentes.
Ela vai continuar sorrindo por ai, encantando por ai, e um dia, acredite amigo, não vão deixá-la partir.
Menina,
Tô passando na sua casa em alguns minutos, mas já estou suando frio e nem ao menos coloquei a camisa. Ensaiei meu discurso com o espelho, com meu cachorro e com meu vizinho alcoólatra. Tem uma porrada de palavras bonitas que eu preciso botar pra descansar nos seus ouvidos, mas eu nem sei por onde começo. Botei alguns tópicos e amassei num papel pequeno para que coubesse no bolso. Vou repassando tudo ponto a ponto antes de chegar ao teu encontro, pra que eu não esqueça nenhuma palavra quando seu sorriso começar a me fazer gaguejar.
Já faz algum tempo que tudo ao meu redor passa pelos teus conselhos, tenho que assumir que nunca estive tão bem antes. Seu sexto sentido é uma das coisas mais reais que eu não posso explicar. Queria agradecer pela maneira doce com que você escuta minhas lamentações toda noite e me dá sempre o primeiro motivo para sorrir na manhã seguinte. Queria deixar claro minha admiração por você conseguir coincidir isso com a sua academia, sem que isso arranque seu humor no trabalho e que admiro a organização que você tem com tudo isso, ou mais incrível ainda, como você é delicadamente perfeita quando isso resolve ruir ao mesmo tempo.
Queria pedir desculpas por algumas vezes não ter sido o primeiro a elogiar que você cortou dois dedos e meio do cabelo. Parece machismo, mas você é irritantemente linda de qualquer forma. Todas as fantasias que colorirem sua cabeça, nunca vão substituir o meu corte favorito. Seu coque matinal. Aquele bagunçado que deixa escapar alguns fios em direção do seu rosto, aquele que você tem mania de prender com a minha caneta e que combina com a minha camisa social que você veste mesmo amassada. Gosto de você assim, pois é quando eu sinto o nosso cheiro na sua pele. Quando você fica manhosa beijando o meu pescoço. Gosto de como eu te bagunço e você adora e tenho um frio na espinha toda vez que você briga comigo e sai batendo a porta.
Queria deixar de uma maneira mais formal que eu adoraria proteger até a sua sombra, se você me permitisse. Que para dançar no ballet dos seus hormônios eu deixei nossas séries atrasadas já baixadas na televisão da sala, mas arrisco dizer que devemos passar alguns bons dias embaixo das cobertas naquele sofá. Então aproveitei pra adiantar a Páscoa pela casa toda. Somos eu, você, nossos romances e alguns quilos de chocolate contra o seu humor. Adianto que toda bronca que você me der voltará como piada. E já que quase que impossível evitar tuas lágrimas nesse dia, que pelo menos eu as transforme em alegria.
Vou pular o simbolismo que cerca a tua data, mas reforço que todos os dias tem que ser especial pra você. Hoje foi mais um dia de luta, nada diferente de ontem. Pois hoje os olhos recaem sempre mais encantados na tua direção, nada diferente de ontem. Tudo que te incomoda deve sumir, tudo que te enaltece deve dobrar. Eu não poderei sonhar teus sonhos, mas vou construir com as minhas próprias mãos todos os castelos que você desejar desenhar. Vou rezar para que protejam teu coração na minha ausência e que olhem pelos teus caminhos que você percorrer sem me contar.
Deixa eu aproveitar todos os nossos momentos como se fossem eternos e viver o agora mais bonito que eu já conheci. Te espero no carro com o coração aberto, sorriso no rosto e ansioso para recarregar minhas energias com a alegria do teu astral. Pois minha menina, nada pode ser normal, se lhe fizer mal. Simples.
Principalmente enquanto eu puder te fazer sorrir.
Como está o tempo por aí?
Aqui anda nublado, alguns raios de um sol tímido rompem corajosamente as nuvens e tocam a terra.
Nada que esquente muito, nada que me faça passar protetor solar.
Como está aí?
Aqui anda calmo e tranquilo.
Feito mar antes da onda, feito céu durante o arco íris, feito cerveja gelada depois do futebol.
Como anda teu coração?
O meu anda leve, arrumado. Às vezes bate em ritmos musicais, às vezes descompassado.
Constante, forte, pronto.
Você está feliz?
Não felicidade a todo instante, aquela felicidade sorrateira, serena. Felicidade simples apenas por existir, felicidade que faz sorrir antes de dormir.
Você tem acordado com vontade de encarar o mundo ou de permanecer deitado?
O café tem sido amargo por falta de açúcar ou por falta de doçura ele tem sido amargo?
Conta pra mim, somos amigos além de tudo.
Me conta se você ainda lembra do meu sussurro, do meu cheiro, do gosto da minha língua.
Conta que você ainda vai me chamar de “minha” e eu vou sorrir com certeza de ter lugar no teu peito.
Diz pra mim que vai deixar o coração te guiar, te levar e te trazer novamente à vida.
Deixe que eu te ajude nessa batalha, nessa guerra travada contra ti mesmo, ainda no meio, nunca perdida.
Eu já entrei nos teus olhos e posso dizer sem pestanejar, sem duvidar, sem piscar, tem um lugar muito bonito te esperando entrar.
Te ofertando morada, manta colorida no sofá, Rubel no gramofone, xícara de chá. Eu quero segurar tua mão mais uma vez e te dizer baixinho, olhando nos teus olhos, que eu vou te proteger.
Não precisa temer.
A liberdade assusta no começo, mas depois do primeiro passo, do primeiro abraço, você alça voo.
Eu te ajudo a abrir as asas, eu te levo comigo para sentir a brisa acariciar teu rosto, pra soltar o peso desses amores que não amam, que só cobram e prendem.
Eu entendo teu medo, teu receio, tua aflição. Entendo a incapacidade de enxergar as grades invisíveis dessa prisão.
Eu não te cobro e não te julgo.
Só peço uma coisa, Coragem.
Pondera e aguça tua visão.
Agora você consegue ver com mais precisão?
Amor não é isso.
Amar também não.
Espero que se minha mão não despertar em ti o ímpeto para voar, não se demore aí.
Quanto mais tempo ficar, mais difícil de sair.
Eu quero te ver voar, eu quero te ver sorrir.
Olha lá meu amor, o mundo dando voltas e você parada no mesmo lugar. Seu coração é até confuso, acha que apanhar e bater é a mesma coisa. Coitado. Você não deixa o coitado respirar um pouco. Desordenado dentro do seu peito parece que balança também a cabeça. Faz tempo que você não deixa entrar ar. Você deixa entrar tu. Outra pessoa, deixa entrar trabalho, deixa entrar bebida. Só não deixa entrar silêncio. Não sei de onde vem esse medo todo de ouvir seu próprio eco. Você sabe muito. Sabe quase tudo, mas não confia em você. Menina, fica muda e se escuta um pouco.
Escuta os seus próprios sonhos e as suas vontades. Lembra do quanto você lutou para alcançar as suas conquistas, respeita o peso que o teu sobrenome carrega. Para com essas caronas da vida e caminha com as próprias pernas. As tuas são fortes e lindas, mas você tem uma incrível preguiça de usar. Prefere o conforto, que sempre abafam as tuas lembranças. Fique atenta ao caminho mais curto, pois você adora perder suas boas memórias durante eles. Seu olhar, sempre tão vivo resolve dialogar com os pés. O seu silêncio ensurdece. Menina, não convide algúem pra dentro de casa, se a sala não está do jeito que você quer.
Troca seus comprimidos antes de dormir por amor próprio e engole. Rabisca na parede do seu quarto seus próximos tópicos para conquistar nessa vida. Viva os seus sonhos e cuidado para não riscar os sonhos dos outros. Respeite as memórias dos outros e talvez assim você tenha um pouco mais de carinho com as suas. Não banalize o amor. Não o confunda com paixão. Talvez você não tenha reparado, mas confundir esses sentimentos tem atrapalhado bastante na nossa evolução. As lágrimas que rolarem do teu rosto no futuro, vão depender muito de quem você adequa nessa classificação.
O futuro é um desenho mais detalhado do seu presente, que vai depender da sua vontade de ser feliz agora, pra descobrir por quanto tempo você conseguirá manter esse sorriso. Então, por favor, esqueça o tempo, ele vai passar de qualquer maneira. Quer queira, ou não. Entenda que todas as oportunidades de você ser feliz devem ser aproveitadas. Não limite os seus abraços, nem poupe seus sorriso. Não trave a sua risada e não deixe de dançar até suas pernas tremerem. Vomite a tequila e o orgulho. Bagunçe o lençol da sua cama ou o seu cabelo, mas não faça algazarra no seu coração.
De todas as maneiras que o amor aparece, a mais bonita ainda é, quando ele genuíno e puro, escorre pelas tuas mãos. Quando as mãos transpiram ao digitar um bom dia. Ou quando o suspiro escapa da gente, mesmo que o recado venha num papel de pão. Aproveite a vida enquanto ela precisa ser aproveitada e enquanto suas pernas podem realizar os desejos do seu coração. Perdoe as feridas que já não te afetam e acerte todas as pontas duplas do passado antes de segurar uma outra mão.
Carinho e respeito são os sentimentos mais honesto de uma alma.
Não tranforme isso em um processo de cicatrização.
As feridas fecham, meu amor.
Quer queira,
Quer não.
No último ano, a Teoria da Relatividade completou 100 anos.
Ou seja, em 1915 um homem incomum e bastante singular chamado Albert Einstein enxergou coisas jamais percebidas antes. Claro que eu confio na ciência, sou bióloga, não posso ignorá-la para satisfazer meus ideais abstratos, mas, por outro lado, eu não entendia direito a teoria da relatividade até conhecer você.
Na verdade, na verdade mesmo, não sei bem explicar.
Não através de fórmulas, não através de experimentos.
Eu posso explicar te contando detalhes que não te deixei perceber.
Eu lembro da primeira vez que vi você. Aonde foi? Isso eu não preciso dizer.
Me lembro também de quando nossos olhos se cruzaram e eu senti um frio estranho percorrer minha espinha. Não conseguia entender como alguém que eu nem conhecia podia causar em mim tais sensações, estranho como nosso corpo ás vezes age independente da nossa razão, ao mesmo tempo que eu sentia vontade de chegar mais perto, sentia que não.
Passados o medo e a dúvida sobre o que tal frio na espinha representava, estreitamos a relação devagarzinho, a partir daí comecei a compreender melhor o que o famoso físico nos mostrou há 100 anos atrás. O tempo é relativo, muito mais do que sugere a teoria. Sabe por que? Porque aquela noite passou mais depressa do que os raios de luz solar encostam na janela de manhãzinha…
Eu te olhei, senti teu cheiro, a textura do teu cabelo entre meus dedos, o teu abraço envolvendo todo meu corpo como se nada no mundo pudesse me fazer mal, e pronto, o sol apareceu e nos deu bom dia!
A noite passou sorrateira, como criança levada fugindo da bronca dos pais, e o dia chegou bem quietinho, com medo de interromper o que havíamos começado! E quem diria? Quem diria que o tempo passaria tão depressa e te deixaria aqui, tão presente nos meus pensamentos, nos momentos mais improváveis do dia?
E quem disse que alguém precisa saber para legitimar tudo que despertou aquele dia?
E quem disse que precisamos de status no Facebook, aliança no dedo e fotos no Instagram para provar algo para alguém?
Sabe o que eu acho mais bonito nisso tudo? Vou te contar. Ainda que nossos olhos nunca mais se cruzem, ainda que eu nunca mais sinta a proteção do teu abraço, ainda que meus lábios nunca mais percorram os teus, eu vou lembrar…
Porque lembrar é o mais perto de viver que podemos chegar.
Eu vou lembrar porque a lembrança do teu sorriso me faz sorrir.
Mesmo que você não esteja aqui.
Agora, peço licença. Vou me preparar para o massacre do tempo enquanto ficarmos longe.
O tempo é relativo, não é querido?
O carnaval passou.
O ano começou.
E nós?
Continua ou acabou?
Eu lembro de cada detalhe daquela noite do nosso reencontro. Mais do que um aniversário, seria a primeira vez que nossos olhares cruzariam desde o nosso fim. Pior, nós tentamos seguir, mas nossos companheiros ruíram diante da sombra que ainda pairava sobre eles. Naquela noite, eu encontraria o meu maior sonho do passado, caminhando no meu presente. Mais do que a chance de esclarecer o nosso fim, talvez fosse o primeiro passo para o nosso recomeço. Nossos caminhos até tentaram seguir rumos diferentes, mas por respeito com a nossa história, o destino decidiu por um último esbarrão.
Nosso reencontro roubou a atenção do ambiente, o aniversário não passava por uma enorme fachada. Em cantos afastados, escapavamos de olhares curiosos, sentíamos as perguntas entalarem nas gargantas dos convidados. Sentia os olhares masculinos flamejarem, tudo culpa da fenda que rasgava as costas do teu vestido. Um convite tentador ao labirinto da sua tatuagem. Suspirava em silêncio, lembrando quantas madrugadas assisti você dormir, enquanto cortornava suas tatuagens com as pontas do meus dedos.
Na minha época você ainda não usava essa maquiagem no olho. Ainda não conhecia esse traço fino que foge das laterais, deixando seu olhar bem mais letal do que o normal. A forma como você prende o cabelo ainda é a mesma. Você ainda conserva esse olhar sob os ombros, que pega de calça curta todos os cortejos direcionados ao teu corpo. A boca quase sem batom pelos copos de caipirinha, sorri contida. Era você me convidando para conversar, da forma mais mágica possível. Exatamente como você fazia quando eu cometia alguma estripulia. Apertava os olhos e prendia um sorriso, depois dos espinhos, era o teu corpo pedindo um pouco do meu carinho.
Caminho até a sua direção e posso sentir o mar abrir no meio, você educamente me aguarda e sua companhia misteriosamente desaparece. Sorrimos olhando pra baixo e erguemos nossos copos aos céus, num sinal de respeito. Bebemos trocando olhares que conversam de sexo e casamento em milésimos de segundo. O gole dessa vez é doce, só para amansar as palavras que borbulham no meu coração. Nossos copos brindam, tenho que ser discreto para você não reparar no arrepio do meu cabelo, nem no tremor da minha mão.
Caminhamos para fora da festa, uso a desculpa de um cigarro, mas na verdade tudo isso é pra fugir de toda essa atenção. Caminho com você do meu lado, tentando segurar meu instinto de te segurar pela mão. Antes da nossa despedida era como se o seu corpo fosse a minha extensão. Você pergunta quando eu vou parar de fumar e então respondo que o meu último trago foi quando você decidiu ficar. Abaixamos nossos copos e nossas guardas. Atualizamos o nosso tempo, pois os últimos verões passaram devagar sem a companhia do outro.
Conto que o meu curso foi realmente espetacular, mesmo com a minha dificuldade com a nova língua. Você conta que perdeu um pouco daquela ambição do trabalho e sonha cada dia que passa com um negócio só seu. Te conto que a neve é realmente linda e que batizei meu primeiro boneco com seu nome. Você conta que quase nomeeou seu cachorro com meu nome, sinto um beliscão na alma, mas o alívio é imediato quando descubro que seu filhote era uma fêmea. Nessas atualizações, conto sobre o namoro com a menina da mesma classe e você sobre seu noivado apressado. Contamos todas as receitas usadas para podermos esquecer um ao outro, todas em vão.
Foram perdidas pois meus olhos ainda vibram ao encontrar com os teus. Pois eu aprendi a viver longe de tudo que te fazia mal, só pra que você não encontrasse defeitos na hora de voltar. Larguei meus vícios antes de partir desse país: o cigarro e você. Agonizei sozinho e calado quando descobri que haviam colado um anel no teu dedo e o nome que você diria no altar não seria o meu. Mas algo dentro do meu peito dizia que eu não deveria sofrer. Pois ter encontrado algúem, nunca foi motivo pra você se perder. E eu ainda acreditava que tinha um pedaço da mim que vivia aos berros dentro de você. Era uma forma de terminar tudo que eu fui conquistar lá fora, só pra quando eu te encontrasse eu pudesse te dizer:
“Você já sabe o meu nome, então de qualquer forma, muito prazer.
Não é sobre diploma, sobre conquistas, trabalho ou lazer.
Voltei pra dizer que o mundo é do jeito que luta pra ter.
O problema, é que nenhuma vitória tem graça
Se eu não posso comemorar com você.
Menina linda, muito prazer.
Quer tentar ser feliz?
Mas, só eu e você?”
Parei o carro na frente da sua casa, um pouco antes do horário combinado, afinal, é uma questão óbvia você atrasando alguns minutos. Eu sempre fui pontual, você sempre foi maluca. Eu digo que estou chegando quando na verdade já estou lá embaixo. Você diz que está descendo quando ainda está passando o rímel no olho esquerdo. Eu aproveito o atraso pra me atualizar um pouco. Duas redes sociais, um jornal esportivo e um e-mail do trabalho. No espelho do elevador você pergunta ao seu reflexo se o seu cabelo ficou bom liso. Ele responde que se você tivesse mais dez minutos faria os cachos nas pontas. Eu te recebo no carro abrindo a porta, meu suspiro travado já responde que você é linda de qualquer forma.
Essa semana sem te ver na verdade durou três anos, aconteceram tantas coisas que eu quase não te deixo falar. Com o um sorriso tímido e as bochechas em rubor, você recebe o carinho da minha mão na sua perna. Repousa a sua mão na minha, fazendo o meu coração se acalmar. Eu pergunto como foi a aula dessa semana, enquanto caminho para um lugar diferente aonde vou te levar pra jantar. Olhando você desse lado da mesa, eu tento parecer um bom moço. Nossa conversa sempre flui, mesmo querendo você nos meus braços tento me comportar. Já bebemos nossas ultimas taças de vinho trocando os mais maldosos tipos de olhar. Peço a conta e você concorda com a cabeça. Agora é a minha vez de atrasar.
O caminho do restaurante até a cama, eu percorro devagar. No carro, as músicas românticas são a minha tentativa de trilha sonora do nosso filme. E na verdade, você parece gostar. Afinal, em todo semáforo fechado, o efeito do vinho resolve deixar os nossos lábios se tocarem. Aprecio cada contorno da tua boca, enquanto nossas mãos tentam arrancar do nosso caminho cada pedaço nosso de roupa. Só descolo do teu corpo com a buzina do carro de trás. Nos afastamos sorrindo, corpos arrepiados de quem precisa de um pouco mais. Minha língua inquieta na boca, precisa percorrer cada traço teu. Aviso conversando ao pé do seu ouvido, que seu café da manhã no dia seguinte é meu.
Chegando no meu prédio, preciso te contar que você acabou de tirar o sono do meu vigia. Não sei se foi o seu perfume ou a jogada de cabelo pra poder vestir a minha camisa. O meu elevador, na verdade, parece um campo de batalha. Mas na nossa luta as armas são beijos e o nosso sangue é suor. No canto, entre a parede e o espelho, o vidro esfumaça, bagunço a neblina com os meu dedos. Enquanto os teus escorrem pelo meu ombro e então você me amassa. Num misto de gemido e controle você puxa meu cabelo pra trás. Sufoca o seu arrepio me pedindo que pare, na negativa mais afirmativa do mundo, narrada com a timbre da tua voz.
Porta de casa não precisa de chave, o caminho até o quarto eu percorro com você nos meus braços. Você toma posse da minha cama como se fosse sua e eu te conto que você só vai escapar dali pela manhã. Sinto nossos corpos dançarem, suas unhas cravejarem na minha pele e te prendo rente a minha cintura para não te deixar sair. Meu Deus, se eu pudesse escolher uma forma de eternidade, seria sem dúvida com você aqui. Enrolo seus cabelos nos meus dedos e sufoco seus gemido com um beijo. Arrepiado, me arrumo na cama pra te receber de joelhos. Seus olhos revirados me pedem que essa noite não acabe tão cedo. Coitada, nem faz idéia, de que não te ter pela manhã era o meu principal medo. Desabamos na cama extasiados e satisfeitos. Seu corpo nu, tombado sobre o meu, não dura por muito tempo com olhos abertos, depois dos caminhos percorridos pelo meus dedos vagando pelo seu cabelo. Nada de alma gêmea, pois não acredito que só uma alma preencha a nossa nesse mundo. Mas adormeço sorrindo, sabendo que pelo menos as nossas, são parentes bem próximos.
Ufa.
Bom sonhos.
Até amanhã.
Que irônia do destino, minha pequena. Todo esse povo andando desorientado pelo mundo e eu diante da rainha de bateria mais bonita de todo esse carnaval. Sambando exatamente no meu ritmo. Sorrindo do começo ao fim da avenida que corta o meu coração. Eu encontrei o meu melhor ritmo quando tentava incluir minha percursão no balanço da sua voz. Nessa brincadeira de cores eu encontrei a melhor das combinações entre os nossos tons. A cor do seu cabelo harmoniza com os meus olhos. O seu sorriso ainda é a melhor ala de abre alas que o meu abraço pode ter. Eu consigo ouvir o seu coração toda vez que eu te abraço, parece até que ele é meu.
Tem esse pessoal que julga entender de amores, dizendo que essa época não é a ideal para a gente criar essa nossa ideia de amor eterno. Mas desde que eu me conheço por gente, minha pequena. Nunca escolhi o lugar onde eu sinto sede. Eu simplesmente sinto. Sacio a minha vontade quando posso. Eles só contam essas besteiras pro mundo, por nunca sentirem a garganta secar com a ausência do seu beijo. Eu tenho sede do teu carinho. Sede do teu abraço. Seja Natal, Carnaval, Reveillon ou Páscoa. A minha sede é tua, não importa a época.
Ontem, aqui no meu quarto, a gente fez um samba. Coisa mais linda. Cada passo que a gente deu entre a porta e a minha cama eram cheio de ritmo. Passadas perfeitas. Sem pisar no pé do outro. Foi ensaiado com o tempo. Com a vontade de aprender com o outro. No nosso samba, colocamos a fantasia no pé da cama, só pra poder apreciar a arte de uma forma mais natural. Nossos corpos colados eram inspirados em Romeu e Julieta. E nesse ano quando perguntarem qual era o nosso samba enredo, pelo menos os nossos vizinhos já vão ter decorado o nosso nome. As coisas nem mudaram tanto, parece até que a gente foi realmente moldado um pro outro. Eu encaixei seu samba em cada ala carente que eu tinha aqui dentro do peito. Você preencheu tudo tão bem que já pode chamar meu carnaval de seu. De uma forma tão inexplicável que julgam exatamente por não conseguirem entender. Coloquei meu coração num amplificador, só pra todo mundo ouvir. Nenhuma bateria conseguia acompanhar aquele ritmo. Quando perguntaram qual era aquela nota, respondi sorrindo: você.
Não sei quanto tempo essa bagunça vai durar, mas vou aproveitar todo dia como se fosse o último. Vou trocar o repique pelo barulho da sua risada, os confetes pelo seu carinho, a fantasia pelo seu abraço e o brilho das alegorias pelo seu sorriso. Vou descobrir qual é o caminho da sua felicidade e contruir o seu sambodrómo por ali. Começando numa escola de samba com o seu nome e terminando na porta do meu quarto, nem que pra isso eu precise suar sangue sambando.
É que é carnaval. Mesmo assim eu ainda me cobro muito, só pra te ver sorrir. Pequenina.