Todos os dias nascem muitas pessoas. Nascem e morrem.
Muitas pessoas abrem os olhos pela primeira vez e sentem o oxigênio invadir seus pulmões de forma abrupta, de forma desconhecida. Começam a enxergar os primeiros traços de um mundo singular e novo, de um lugar mágico e bastante diferente do experimentado até então.
Enquanto tantas abrem os olhos, outras tantas os piscam pela última vez. Sentem o gosto do ar, o cheiro do vento e o barulho do céu de forma derradeira e definitiva. Encerram um ciclo de forma irrevogável.
Na hora do nascimento de uma criança não se sabe o que virá, quanto tempo terá, quais serão seus sonhos, seus amores, não se sabe nada.
Na hora da morte de uma pessoa, não implica o que passou, quem amou, quem ficou para trás. Nada disso importa mais.
O que importa é o que foi feito no intervalo entre os dois fatos: Nascer e morrer.
O que se deu?
O que passou?
O que deixou?
Hoje, 30 de junho, aqui faz sol, mas ainda sente-se o frio presente no ar. Hoje, quinta feira, e eu quero dizer muitas coisas, coisas que te façam perceber que, muito mais que nascer, você nasceu por um motivo especial.
Aí você me pergunta: Qual?
E eu digo que não vou ditar regras, não vou listar características de um padrão, de um modelo, até por que seria difícil fazê-lo sem transcrever meus próprios desejos e ideias.
Então, para isso, posso fazer diferente. Posso dizer tudo o que te oferto, o que te entrego, livre de indução, apenas o que vem do coração:
– Eu desejo que você seja bom. Isso inclui empatia, simpatia e sensibilidade. Inclui a capacidade de se colocar no lugar do teu semelhante, independente de quem ele seja – isso vai tornar tua vida mais leve.
É indispensável sentir amor.
Sentir amor de forma genuína, pura, altruísta. Seja bom sem precisar se submeter a regras, normas, religiões, prisões, castigos. Seja bom porque bondade faz parte da nossa natureza. Resgate sua conexão com a natureza e perceba que você é uma extensão de tudo. Se existe um mal e se esse mal afeta o mundo, você também sofrerá.
Sinta amor por que amor é tudo que há.
Seja firme e seja forte. Forte para chorar quando doer, firme para continuar andando quando parecer impossível.
Seja livre, seja destemido.
Livre para ser quem quiser, destemido para não ter vergonha do que escolheu ser.
Nunca se envergonhe de sentir dor pelo outro. A dor que afeta alguém hoje, pode ser a sua amanhã. Tenha compaixão, compreenda. Se não compreender, escute. Se não puder ouvir, se afaste.
Nunca maltrate.
Nunca meça a vida de alguém usando a tua como régua. Tua estrada é só tua, as pedras que machucam teus pés podem fazer carinho em outros.
Seja doce.
E nunca espere nada em troca.
Faça por bondade, faça por que faria por qualquer um, faça por que é da tua natureza.
Não importa o que está em voga, o que faz mais sucesso, o que dá mais dinheiro. Não importa nada além do que faz teu coração vibrar.
Vibre.
Quando você vibra todas as células do teu corpo te agradecem!
Obrigada por ter nascido.
Obrigada por existir e fazer tão bem a todos que te amam, que te olham, que podem te ouvir!
Eu sou muito feliz por dividir o mundo com você.
Seja extensão de Deus: O amor como máxima e o mundo como casa.
Seja asa.
Sempre foi muito claro.
Na verdade ela sempre foi muito teimosa. Até com ela mesma.
Coitada. Mesmo que nunca tenha sido motivo de pena.
Era triste de olhar a confusão que ela fazia sozinha.
Ela implorava para que ele notasse os detalhes. Uma pena. Não acreditava que aos olhos dele, ela já era tudo. Confiou tanto nos ouvidos que deixou de escutar o próprio coração. Sempre foi uma boa conselheira que praticava os piores exemplos. Gostava de viver no limite e sentir na pele cada emoção da vida. Ela queria o mundo. Queria mais, mas era maldade. A triste verdade é que ela naquele momento era o máximo dele.
Pessoas enxergam auges de maneiras diferentes. Ela sempre teve os olhos abertos e os ouvidos em alertas, o mundo fez com que ela fosse esperta. Ela não gostava de assistir o azar traçar planos, abafava seus medos com doses cavalares de atitude. Coragem harmonizava com o seu nome, mas mesmo assim ela gostava de provocar o destino. Cruzava a boca com novos amores, os olhos com fantasmas do passado. Os seus medos eram outros.
Sempre soube que seria rainha por toda vida, ela cresceu numa mistura de princesas. Com as guerreiras aprendeu a engrossar a voz, principalmente quando a mediocridade do homem precisava ouvir umas verdades. Lutou pelos seus sonhos, os que deram certo e os que deram errado. A viagem onde conheceu o amor da vida. O carro que bateu sem seguro. O copo que quebrou no discurso do casamento. A mulher que trocou uma multinacional por outra.
Mas que ainda troca de lugar com as outras fantasias todos os dias depois que o sol se põe. Quando o astro se esconde ela assume a luz do dia. Ironia, aliás, é a lua não carregar o teu nome, não tem escuridão no mundo que esconda aquele brilho. Enquanto ela contorna os olhos de frente ao espelho, seu vizinho pode jurar que escuta uma espingarda sendo carregada. É princesa de vestido ou de saia. Um perigo para o coração cruzar com aquele olhar. É de outro condado por sorrir sem cobrar uma volta. Pelo abraço apertado que conforta tanto que tentamos não largar.
Nunca pediu para ser especial, apenas pediu para ser respeitada. Trata da forma que gostaria de tratada, mas numa mistura de artes marciais e outras danças ela ainda precisa desviar de outros animais que fingem não entender negativas. Gosta de mãos fortes e abraços apertados, diferente de apertos e sufoco. Gosta de ser ela, pois sabe como foi difícil escrever tantos capítulos até aqui. Tem orgulho de como chegou e por quem chegou.
Ela crê em amores, não levanta pra buscar água no escuro e tem a voz mais doce que eu já ouvi.
Mas foi a mulher mais incrível que eu já ouvi.
Essa noite eu não dormi.
Girei pela cama de todas as maneiras possíveis neste mundo.
Fazia tempo que não descansava os meus olhos por opção minha. Sempre que varava as madrugadas, botava a culpa no inconsciente, que cismava em sair pela madrugada em busca de alguns nomes que carregavam saudades. Reclamava que muitas vezes ele falava demais, pois eu bebia de menos. Eu tinha o direito de me sentir bem, dessa falta de culpa. Merecia sorrir de graça. Merecia perder meu sono por suspiros ao invés da garganta sufocada.
Ocupei os vazios que alguém deixou. Os da cabeça e os do coração. Juntei cada buraquinho com os carinhos que sopravam na minha direção, mas que eu sempre encontrava formas de desviar. Deixei de olhar o óbvio com cinismo e proporcionei enxergar a mesmice com novos olhos. Encontrei em um colo conhecido um conforto que achei que tivesse esquecido em alguma outra vida.
Hoje, eu enganei o destino e gargalhei do comum. Meus olhos pesados contracenaram com o sorriso bobo durante o resto do dia. Sorriso é a nossa arma mais perigosa. Quando a gente o prende é quase como caminhar com uma arma carregada na cintura. Sensíveis, engatilhamos por qualquer coisa, até por quem nem merece que ele apareça. Mas um sorriso bem dado vale um dia. É uma flecha que não perde a direção por nada. Faz a gente perder uma noite de sono.
Acreditei por muito tempo, que os meus dias mais escuros foram pela ausência de um sorriso. A outra ponta da vela se apagou e eu nunca entendi aonde eu deixei aquela tal de “felicidade eterna” escapar. Transformei ausências em escudos contra novos danos. Culpei alguns por todos. Esperei colher uma rosa numa plantação de cravos. Mas de tanto procurar mesmices, as diferenças da vida resolveram me surpreender.
Numa manhã qualquer, deixei a coragem acordar antes da preguiça. Caminhei enfrentando os medos e cruzei alguns fantasmas que fugi por inseguranças. Caminhamos com firmeza para frente quando não temos tremores ao olhar para trás. Quando enxergamos o passado como lição ao invés de castigo. Transformamos fraquezas em aprendizado e enfim iluminamos a escuridão com o nosso próprio sorriso.
A gente sofre por tanta besteira nessa vida, que às vezes esquece que merece ser feliz.
Sorrir ainda é a fonte de energia mais bonita do mundo.
Gosto mais dos naturais: banana, jabuticaba, manga, morango.
Mas também gosto dos inventados: tiramisú, kinder ovo, caramelo.
Se for picolé, com casquinha crocante, viajo em cada mordida. Fecho os olhos e sinto cada nuance do sabor, cada pedacinho se fragmentando na minha língua até desaparecer.
Acho os sorvetes parecidos com as relações amorosas.
No começo são tão bonitos, tão exatos, parecem obras de arte, dá medo de colocar a mão e desfazer aquelas reentrâncias esculpidas tão cuidadosamente na massa. Medo de morder e desfazer a simetria perfeita que preenche o potinho, medo do fim.
Depois, passado o momento da admiração e do medo, sentem-se os sabores. Ai é uma viagem a cada pedaço, uma descoberta a cada segundo. Descobrem-se delícias além das cores convidativas, além do cheiro sedutor, além do físico.
Passamos a atribuir significados abstratos àquilo:
– Sorvete tem gosto de sonho!
– Esse sabor me deixa nas nuvens!
O ritmo reduz a medida que o sorvete diminui de tamanho. A cada colherada, a cada mordida, o prazer aumenta e, simultaneamente, chega mais perto do fim.
Não que todos os relacionamentos estejam fadados ao fracasso, mas, de certa forma, todos estão fadados a lembrança.
Se eu pudesse escolher um sabor de namoro, seria chocolate belga: Forte e marcante, tentador e inconfundível. Se eu pudesse inventar um sorvete, seria Girassol: Daqueles que iluminam o dia de quem o escolhe.
Quando como um sorvete permaneço durante aquele tempo como sou quando amo: absorta, indivisível, tua.
Mesmo sabendo que o fim é inevitável, não deixo de amar sorveterias.
Mas sabe, entre casquinhas e paletas mexicanas, eu sou a garota que não está disposta a pagar por algo que dura tão pouco.
Ah, eu deixei um recado num post it com um imã feliz em cima, lá na tua geladeira. Caso não tenha visto, diz assim o bilhete:
– Me paga um sorvete?
Hoje não foi um dia fácil.
Todo dia que passei longe de ti também.
Mas sempre soube que o mais importante era nunca deixar de caminhar. Deixar de seguir meus sonhos seria o principal motivo que te afastaria pra sempre de mim. Então de cabeça erguida eu ainda sigo os meus ideias, sempre que tenho medo eu ainda fecho meus olhos buscando ouvir a tua voz. Conto nossas piadas internas quando janto sozinha e às vezes gargalho tão alto que posso ter a certeza de que você me ouviu.
Acho que o inverno é a maior covardia que a solidão conhece. Os ventos sopram nomes, os corpos buscam abraços quentes em meio aos corações gelados. Costumo embriagar a minha saudade com a tua bebida favorita, te dou uma bronca quase em silêncio só pra ter a certeza de que você não vai ouvir. Ainda oro pedindo o teu calor mesmo tua partida desagasalhando o meu coração.
Quando converso com as nossas lembranças, sinto que o sol gradativamente nasce dentro do meu peito. Você sabe muito bem que foi uma das coisas brilhantes que já carreguei aqui dentro. Andei iluminando muitas escuridões do meu dia com as luzes que absorvi contigo, portando agradeço pela reserva de energia que preservou dentro de mim. Todas as vezes que precisei conversar com a minha coragem, imaginava teus olhos dando atenção aos meus planos.
Sei das minhas confusões graças ao teu senso de humor, somente ao lado dele eu aprendi a conviver com elas. Sou paciente e apressada, da maneira mais complicada que existe de explicar. Me encanto pelas dificuldades que passamos, pois elas foram exatamente as responsáveis por nos tornar tão fortes. Nossas algemas eram as nossas mãos dadas e ao teu lado descobri que posso construir muralhas do tamanho que quiser. Transformei minha maior fraqueza em saudade, já que não consegui carregar meu grande amor. Compro presentes pra te entregar em datas que nem chegaram. Sinto falta de momentos que nem tive.
Você descompassa as minhas razões.
E eu sou completamente grata por isso.
Quando me amou pelo o que eu era, você me tornou o que eu sou. Quando confiou no que eu tinha, construí onde estou. Quando deixei teu abraço apertado, todo o meu corpo esfriou. Aceitei a as armadilhas digitais e nunca senti tanta falta de como teu corpo me completou. Corações armados com teclados, apunhalados por fotos e escudos de indiretas. Entreguei-me a fantasia só pra imaginar a simplicidade em que a gente vivia.
Mas que o mundo só gosta de pagar se estivermos separados.
Maldito capitalismo viciante. Malditas oportunidades distantes.
Você é o até logo mais difícil que eu já dei.
Eu te quero de volta amanhã
Mas hoje nem acabou.
Saudades.
Agora.
Não manda essa mensagem.
Essa é a única coisa que eu peço pra você.
Aprende um pouco com a falta que ela faz. Respeita as regras que você criou. Escuta tuas próprias palavras e como homem, segue tuas próprias propostas. Não seja covarde. Ouça as palavras que ela digeriu naquele dia. Sente na sua pele o perfume da ausência que você deixou nela. Nessa madrugada você dorme soluçando com saudades delas, por culpa tua. Você que pediu que ela fosse. Que ela acreditasse que ainda não era a hora.
As tuas meninas de momentos, nunca souberam saborear os instantes. Diferente dela. Deliciava-se em cada detalhe. Mulher de verdade. Daquelas que brinca colocando o nosso sobrenome depois do nome dela. Tão pronta pra vida que não sabe lidar com fogo baixo. Todo momento é uma oportunidade. A tela preferida dela era o sorriso e sempre carrega sua paleta de tintas na bolsa em forma de batons.
Atraímos confusões e não temos paciência com os outros. Apressados com os pés engessados. Almas amarradas. Nascemos adorando contradições, ficamos cegos por culpa do coração e pedimos conselhos de ouvidos tampados. É uma confusão muito grande e sempre que tentamos conversar sobre essas coisas vivemos um nó. Parece fone de ouvido no bolso da calça. Parece com vocês dois. Sem enrolam naturalmente.
Fugimos das mesmices correndo para os mesmo lugares. Corremos em círculos. Exigimos respostas e não mudamos as perguntas. E quando paramos pra reparar, a mão já não encaixa mais. O abraço é mais gelado do que a janela do corredor. O olhar quase encostado não se encontra. A pior parte da despedida é quando ela acontece dentro da gente, quando deixamos o sentimento escapar. Encanto é quando as duas almas conversam.
Conversas evitam feridas. Feridas afastam conversas.
Portando respeite a sua ferida nela. A que você cicatrizou e a que você abriu. Respeita o silêncio que você pediu, agora que ela entendeu. Agora que ela seguiu. Deixa as feridas secarem, os medos sumirem e o sorriso dela voltar. Aplaude a felicidade, pois ela merece ser feliz. Recomenda o pedestal mais alto, ela adora sentir o vento batendo no rosto. Ela é apaixonada pelo o cheiro do mar e pelo barulho da praia. Ela sofre nas despedidas por acreditar que o amor evita as lágrimas. Então só deixa seu coração sangrar uma única vez.
Pois em alguma determinada hora o tempo passa, até enxugar aquela lágrima.
E não tem mensagem de saudade que faça ela escorrer outra vez.
Dos olhos dela e dos teus braços.
Ela já foi.
Passei dos 25 e o que antes parecia uma corrida atrás de sucesso, bens materiais e aceitação social, virou uma maratona. Estou correndo atrás dos 30 como Usain Bolt em busca de um novo recorde nos 100 metros rasos. Meu Deus, o que eu fiz da vida? Não sei. Oras, mas se você não sabe, quem poderá responder? Ninguém e, eu também não quero saber. Quero saber o que a vida fez de mim. Afinal, não posso eu ter atravessado tantas tormentas e permanecido ilesa, idêntica. Quero passar relatório detalhando os danos.
Primeiro, não corro mais atrás de bens materiais e aceitações sociais. Não tento, e nem me esforço, para enquadrar-me em qualquer padrão pré estabelecido. Agora eu chego e sorrio largo, tiro o casaco e vou pegar uma bebida. Não fico no sofá bancando a fina e recusando canapés. A vida me ensinou a ir até o que quero.
Segundo, cheguei na fase onde entendemos que podemos ser felizes sozinhas. Puta queo pariu! Como não descobri isso antes! Então não preciso casar? Não! E existe sexo casual? Existe! Massa! A vida me fez entender que eu sou suficiente.
Terceiro, eu não vou ser o que você quer. Então, aceite! Eu sou assim, não tenho nem intenção, nem pretensão de acatar qualquer sugestão a cerca do meu comportamento. Se eu achar que preciso mudar algo será por constatação pessoal. Aceito que esteja ao meu lado por admirar quem sou em toda minha completude, se quiser que eu mude, mude-se de mim. A vida me ensinou a ser assim. A ter amor por mim. A escolher por mim. A preferir por mim. Eu queria que toda mulher fosse assim. E um dia vai ser.
E os 30 estão chegando na velocidade da luz… Eu não casei, não tenho filhos, nem bens materiais. Tenho um diploma guardado, alguns amigos eternos, alguma grana, e muita vontade de continuar. Putz, onde será que isso vai dar? Não sei, mas vamos continuar! O mais bonito de viver, é o persistir.
Você não vai entender.
Não existe uma maneira de explicar.
Sem que a gente perceba, a mágica acontece.
Ela é daquelas que não acreditam mais em conto de fadas. Que já viu o príncipe rolar na ladeira da monotonia e sentia saudade do sapo. Muitas vezes contava isso pra ele. Desaforada. Dessas mulheres que intimidam antes da apresentação. Fareja o medo dentro do mesmo ambiente. Observa um mundo formado por homens incompletos, que buscam em meios convites uma atenção que ela nem se preocupa em dar.
Cansou das mensagens sortidas. Dos toques na campainha pela madrugada. Ela resolveu realocar as prioridades da vida dela e, desde que tinha se colocado no topo da sua própria vida não tinha tempo para ilusões. Traçou caminhos até os seus sonhos e acreditou que para chegar até eles só precisava de coragem. Percorreria com as próprias pernas e jurou seguir as regras que colocasse na própria vida.
É difícil pra caramba, dessas histórias de que deixam a cabeça da gente fritando.
Ela é linda. Mas não é de parar o trânsito. Nem de fazer algazarra. Se você fizer muito barulho, aliás, ela passa quase despercebida. Barulho é quase uma sombra. Por isso que ela adora música. Ela acredita que fica invisível. A dança é uma mistura de anjo com bailarina. Daquelas que fazem a música tocar dentro da nossa cabeça, mesmo quando tudo é silêncio. É daquelas que deixam a gente imóvel. Atônito. A gente fica sem palavras, procurando alguma pra poder elogiar. Dá vontade de ficar quietinho só olhando, só pra ver se ela fica ali pra sempre. Ficar admirando. Igual uma caixinha de música.
Ela encaixa perfeitamente no meu quarto. No meu abraço e no meu armário. Ela é o meu encaixe, eu acho. Ela é diferente de tantas. Sabe mais do que muitas. Fica linda de qualquer jeito e em todo canto. Dessas que merecia um quadro, uma aquarela dos períodos mais conturbados da história da arte. Principalmente quando ela veste pouco. Ou quando não veste nada. Nessas horas eu queria que o tempo parasse. Que o mundo explodisse. Igual explode aqui dentro do meu peito.
Gosto muito quando ela fica.
Quando ela olha pra dentro dos meus olhos e fica quieta. Parece que conversamos por dias. Um dia você vai entender, é incrível. O corpo arrepia no calor. A música vira trilha. E eu posso desenhar cada detalhe desse momento, tem as marcas dela na minha pele e o perfume na minha camisa é doce. O mesmo cheiro que fica no lado que ela dorme na minha cama. É o lado que eu corro pra fugir da insônia. Protejo minha mente dos pensamentos ruins quando abraço o perfume dela. É mais seguro
Parece loucura, mas anjos usam o perfume dela.
Pelo menos os que me guardam.
Amém.
Se eu pudesse ter só uma relação na vida, eu teria um amigo.
Amigo pode ser namorado, pai, mãe, professor, cachorro, passarinho, tartaruga, irmão, tio, primo, vizinho, virtual, marido, filho. Pode ser o porteiro, o motorista do ônibus que você pega diariamente, a moça que limpa o corredor do teu prédio. Pode ser qualquer ser vivo que te faça sentir leve, livre, você.
Amigo é aquele que conforta sem julgar, que escuta sem falar, que acredita sem pensar, que confia com certeza.
Amigo te pega pela mão e te leva pra passear no parque pra te fazer esquecer do beijo do fim de semana, te convida pra tomar sorvete no horário de almoço, te presenteia sem hora e nem data marcada.
Amigo te abraça tal qual nuvem…
Ele te olha sem rótulos, sem definições.
Te diz com carinho: Tudo vai ficar bem!
Amigo sabe que você é bonito do lado que ninguém vê.
Entende que você é frágil, falho, humano e, por isso não te condena, não te induz, não te reduz.
Te oferta amor verdadeiro e despido de interesses de quaisquer tipos. E, por conta disso, te torna muito mais seguro, mais forte, mais vivo.
Já te segurou ao cair, já te deu a mão pra andar, já te fez sorrir, lembra? E já te viu chorar. Nunca diminuiu tua dor e nunca desacreditou da tua boca.
Amigo é aquele que sabe o tamanho da tua loucura e te equilibra.
Mas te deixa explodir vez em quando. Amigo é sempre e, entretanto, amigo é ontem.
Já segurou teu cabelo e amparou tuas mãos, já leu teus pensamentos e já te mandou flores.
Amigo é um ser com tantas cores que eu nem ouso saber os nomes.
Amigo é sorte, norte, ponte.
Ah, Doutor, só uma objeção: – Acho que, de toda forma, amigo é extensão do coração.
Perdoe a ausência de detalhe.
Eu sou daqueles esquisitos, que presta atenção em tudo. Reparei até no que não existia, inventei um assunto na minha cabeça e joguei no seu colo. Estava errado, então, como um bom competidor me desculpei. Abaixei a cabeça e iniciei uma despida. Mas antes do teu adeus, um sorriso escapou pelo detalhe do teu lábio. Os olhos reviraram dentro da cabeça procurando uma resposta por milésimos de segundo. Perguntou se eu estava louco, respondi que esse efeito colateral teria que ser verificado no rótulo da tequila. Enfim, sem detalhes, sorrimos juntos.
Seguimos nossas direções opostas com as nossas cabeças presas. Procurei o teu sorriso fujão até as luzes se ascenderem. Você reparou nos detalhes do meu copo e como eu ficava inquieto com ele. Eu jogava a culpa dos nossos desencontros no detalhe da minha miopia. Era uma forma mais elegante de tentar não aceitar que perdi. E então eu dei sorte. Encontrei seu rosto antes do sol nascer, dancei com as vogais do teu sobrenome enquanto buscava mais detalhes teus. Possuo o hábito de não deixar oportunidades incríveis passarem, seria de uma ofensa tremenda da minha parte não tentar te fazer feliz.
Tropeçamos nas horas e nos enroscamos com o tempo. Nossos relógios sambando em direções opostas. Uma enorme sensação de quase. Como se por um detalhe sarcástico e cronológico, o destino resolvesse me entregar uma enorme caixa de dúvidas. O problema foi que eu adorei a caixa. De alguma forma, fui cultivando uma mania de dar o meu melhor em tudo. Em caixas, em acasos, em destinos e em pessoas. A vida me ensinou a dar o meu melhor nos detalhes, afinal, são eles que realmente demoram a ser esquecidos.
Dessa forma, no nosso almoço eu pedi um vinho e que meu anjo da guarda segurasse os ponteiros por alguns instantes. Puxei sua cadeira, flertei com teu perfume e sussurrei com a tua paz. Contei sobre o encanto do seu cabelo e você retrucou com o charme do meu sorriso. Brindamos. Queria ter uma forma de provar para o resto do mundo, mas as horas passaram deixando um gosto de poucos minutos. Preenchemos um hiato do nosso dia com a segunda parte do trabalho.
A minha noite seria inquieta longe de ti. Então pedi mais uma dose de você pra minha coragem. Odiando despedidas nos encontramos pela última vez. Só pra dizer bem detalhado, que se eu pudesse, levaria comigo. Mas por enquanto, voltarei mais tarde pra te encontrar. Tinha combinado de ir buscar um sonho, vou ter que dar uma saída e quero te encontrar assim que voltar. Vou deixar minhas pegadas na areia, pra que você saiba exatamente como me encontrar.
Perdoe a ausência de detalhes, mas preciso te contar.
Você é o detalhe mais bonito que eu já vi.
E vivi.