eu não preciso estar sozinha

Eu poderia ter um namorado, um cônjuge, alguém…
Eu poderia estar pensando na decoração da minha futura casa e nas flores que enfeitariam a igreja onde casaria. Poderia anotar meus votos e as opções de nomes para os meus futuros filhos.
– Você já está na idade! – dizem alguns amigos e parentes.
E, quer saber, eu passei da idade.
Quisera eu ter descoberto antes a leveza das asas que me fizeram entender que, minha completude, reside exatamente na minha felicidade só.
Que minha liberdade, a descoberta de mim, não me permite mais relacionar-me com gente mediana de alma, com gente de coração primário.
Passei da idade, mas aprendi a tempo.
Tempo exato para viver por mim, e para mim, daqui em diante.
Tempo para amadurecer ideias, objetivos, fé.
Tempo para observar que o mundo que vejo é um reflexo de quem sou e, quando não gosto do que vejo, cabe a mim a atitude de mudar. Mudar o que posso, e nunca me omitir.
Quem dera eu que, anos atrás, tivesse percebido que determinadas pessoas não merecem nosso tempo, nem nossos ouvidos.
E, a maior consciência que me veio de brinde com os anos: Eu não me permito aturar gente pequena.
Meu tempo é precioso, a vida é breve, não há tempo a perder.
Eu não preciso estar sozinha, e quem disse que estou?
Infantil seria afirmar com tanta precisão que real companhia se habita em outro alguém por que, na verdade, eu nunca estive só.
Tenho bilhões de estrelas sobre meus olhos, milhões de árvores, pássaros, rios e mares para me abraçar, para pertencer.
É sozinha que melhor consigo Ser. É comigo que encontro real conforto, real fim de qualquer sensação de solidão.
Eu tenho duas mãos, uma para segurar a outra e, perceber assim, de forma tão simples, que nunca estive só.
E, se acaso me sentir só, pego minhas letras escondidas e coloco um L no final da solidão.
O Só com L vira Sol. Daí então eu faço uma canção, seguro minha mão, me aqueço no verão e escuto meu coração.
Reafirmo na prática que ele ainda bate sozinho.
Meu peito como ninho.
Feito passarinho.
Sozinho.
E preenchido.
Sorriso.

 

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autor_kamila

espaço

A culpa não é do disco.
Muito menos do rádio do seu carro.
É um pouco mais para o lado. Entre o banco e o volante.
Sempre que a gente fala sobre o assunto, é sempre o mesmo tom. Sempre as mesmas reclamações. As mesmas rasuras e as mesmas falhas. Discos novos em perfeito estado, deixando a sua prateleira com as mesmas marcas dos antigos. Presta atenção, nem tudo são os outros. Mesmo você tendo razão em muito dos casos, confesso. Mas você precisa parar de administrar respostas erradas e começar a fazer as perguntas certas.
Precisa aprender a hora de colocar e de tirar o cinto de segurança. Chega de ficar no meio termo. Se afrouxar não protege, se apertar demais enforca. É no trânsito. Serve pra vida também. Você clama pela mudança do mundo com a cabeça afundada no travesseiro. Tua lágrima já escorre deitada pela preguiça do teu corpo em se manter de pé. Um dos sentidos de apanhar nessa vida é para aprender a se defender.
A nossa pior falha é não enxerga nossas falhas. Culpamos os outros por pesos que não deles, por sonhos que são nossos. Assistimos despedidas cruéis que foram chegadas diplomáticas. Feridas que não fecham enquanto não aplicarmos os remédios corretos. Então transferimos os nossos sonhos, nossos defeitos, nossos amores. Assim poderemos transferir nossas frustrações quando quisermos também.
Que erro.
Eu fico imaginando a loucura que deve ser o conflito na tua essência. Tão boa em ouvir os outros, mas não suporta silêncio por ter que ouvir sua consciência. Que dó. É um pouco mais do que a melhor amiga ou a matéria da revista. Já tá na hora de começar a anotar os toques que o destino tem tentado fazer você ouvir. Nem toda música bonita é para os outros. Acorda pra vida. Por favor.
Conquista os teus sonhos e abraça o teu amor próprio. O carinho que ele mais precisa é o teu, não o dos outros. Gargalhe do perigo e da saudade. Seja feliz por ti e não por alguém. Não faça nada por obrigação, principalmente amar. Acelere mais pelas tuas estradas e só olhe para trás para evitar futuros acidentes. A mesma estrada leva para caminhos incríveis. Nada é vão e nenhum caminho é único. Então caminhe sem fraquejar até encontrar o seu espaço.
Suas asas precisam de espaço parar abrir.
Você precisa de espaço também.

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autor_jorge

pode ser mais bonito que aqui

Ela fugiu.
Fugiu porque não suportava olhar aqueles móveis repletos de lembranças, de memórias de um tempo que parecia nunca ter existido de fato, de um tempo que parecia nunca ter acontecido.
Ela decidiu ir por que não conseguia mais lidar com aquela presença tão sólida, tão viva, sabendo que era só uma mentira, mais uma daquelas que contam para as crianças pararem de chorar.
Ela não ia voltar, ela nunca mais faria aniversário, e isso era tão absolutamente insuportável que ela sentia uma raiva quase tangível, uma vontade de gritar e de que ela estivesse viva, só para que pudesse ouvir e sentir aquele ódio.
Então ela fugiu.
E fugir não é tão simples como parece, não é covardia como muitos bradam por ai. Na verdade, ir embora, ir embora mesmo, demanda muita coragem. Coragem que ela herdou dela. Coragem do tipo que todos deveriam ter pelo menos uma vez na vida.
Ela teve.
Virou a mesa e partiu.
Tinha um emprego, pediu as contas.
Tinha um amor, deixou pra trás.
Tinha família, os deixou viverem por si sós.
Tinha amigos, livros, xícaras, roupas, pegou o que pode, os livros que mais gostava, e foi embora.
O mais estranho foi a sensação de vazio, o mais difícil. E era disso que ela precisava: sentir-se vazia de tudo, sentir-se livre de conselhos que não ajudam, de abraços que não curam, de pessoas que não findam a solidão. Precisava se esvaziar para, então, se preencher de si.
Quem era ela afinal?
Quanto dela era ela?
Ela não sabia.
As primeiras noites foram dolorosas. Aquele tipo de dor que não pode ser amenizada com analgésicos.
As lágrimas irrompiam de seus olhos com violência e velocidade, e feito tsunami levaram tudo que encontraram pelo caminho: culpa, raiva, incompreensão, e, por final, lhe estendeu a mão e a embalou num sono profundo. Sem sonhos.
Depois de dias, semanas, meses, o mundo ganhou novas nuances. A saudade, tão presente, se fez bela. As lembranças, tão estridentes, se fizeram calmas e, num ato de total generosidade, se perdoou.
Mais nobre que perdoar o outro é, quando por fim entendem-se as pequenas coisas da vida, se conceder perdão.
O amargor deu lugar a um sentimento de leveza nunca antes conhecido, tudo ficou bonito de um jeito que nunca havia sido.
Bonito do jeito que deveria ser.
Entendeu as partidas, abraçou as chegadas, e preencheu as novas paredes, os novos cômodos. Colocou quadros coloridos pela casa e móveis de madeira escura, com aquele cheiro tão característico e familiar.
Da vida antiga, só uma foto no espelho.
Pra não se esquecer de onde veio.
E nem o motivo da partida.
Ela fugiu.
Mas agora ela não foge mais…
Ela se encontrou.

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autor_kamila

partida

Da minha parte, vou sofrer em silêncio. Talvez alertar o sofrimento seja uma forma de gritar por ajuda. Mas eu vou engolir. Vou entender que as distâncias geográficas são realmente gritantes. Vou fechar as minhas malas sem as tuas roupas e sem conseguir excluir todas as tuas fotos da minha memória. Vou engolir o choro agora, por acreditar que quando ele voltar a escorrer pelo o teu nome será por alegria. Então eu não seguro, eu poupo. Poupo minha tristeza de flertar com o teu sorriso.

Da tua parte, sobram perfumes e lembranças. Tem um espaço aqui dentro do meu peito que já pensei em tatuar o teu nome, pra você ouvir perfeitamente como meu coração chama por você. Deixei no teu abraço uma verdade que acabei ofuscando com o tempo. Confiei em ti. Despejei meus medos e me reergui em silêncio. Vou acompanhar tuas conquistas e vou torcer pelos teus sonhos. Vou orar pela tua paz e esquentar tua ansiedade quando puder.

Da nossa parte, multiplicaremos fantasias, como fizemos desde o nosso início. Dividimos apenas nossa saudade e rezamos para acelerar o tempo. Apertamos nossas mãos e aguardamos nosso barquinho atravessar essa tormenta. Entenderemos a falta do outro que precisamos ter e, então cresceremos. De uma maneira tão grande por dentro, que precisaremos do colo do outro por fora. Deixei uma enorme parte de mim em ti. Então, por favor, cuide bem de nós.

Da parte de deles, viva. Crie teus heróis e monstros. Viva o teu conto de fadas e não deixe que as oportunidades escorram pela tua mão. Converse com seus sonhos todos os dias e só sossegue quando acordar com cada um deles na tua realidade. Grite com os teus fantasmas e chame pelo meu nome quando precisar de forças. Antes de dormir fecho meus olhos, falo seu nome baixinho e suspiro devagar. É a forma que encontrei pra te abraçar daqui.

Então dessa partida não dividiremos dores. Viveremos esses mundos novos. Vou mudar meu tempero no meu prato favorito, você vai tatuar aquela música que ainda nem escreveram. Vamos lidar com a falta do silêncio que já tinha o nosso cheiro. Vamos mudar nossas posturas, nossos cabelos e nossas gírias. Vou abraçar tua lembrança na sua ausência. Sorrir pra minha ansiedade e aceitar que colocar o amor da minha vida no meu caminho antes do tempo, foi um azar momentâneo.

Afinal partida é só uma parte

Da ida.

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autor_jorge

desperta pra vida, menina

Um belo dia, num daqueles dias calmos, preguiçosos, em que acordamos sem a ajuda do despertador, uma dúvida crucial invade nossa cabeça aos pontapés:

– O que estou fazendo da minha vida?

Como se toda nossa existência se revelasse como uma mentira, assim, de repente. Nos pegamos chocados, incrédulos, como se todos os dias que passamos sobre este planeta se mostrassem vãos.
Questionamos nosso caráter, nossa personalidade, e lamentamos atitudes passadas, erros cometidos, amores desperdiçados.
Sentimos certa angústia e até uma leve tristeza por não termos chegado nos padrões que acharam adequados para definir o “sucesso”.
Passamos por esse momento de profunda reflexão e chegamos a conclusão de que só importa ser feliz. Só importa agir de acordo com nosso coração, nossa razão.
O que determina o sucesso não pode ser descrito como fórmula, como exato. O sucesso é pessoal, e não tem nada a ver com bens materiais, ou com quantos dígitos se preenche nossa conta bancária.
É que a vida é grande demais para se habituar em sensações medianas, se parar pra pensar com um pouco mais de cuidado, é melhor sentir muito do que sentir raso. E é de uma forma abstrata, como se nela coubessem coisas infinitas, como o amor e a fé, e como se cada parte dela pudesse se desdobrar em outras mil partes multifacetadas e multicoloridas, cheias de notas musicais, cheiro de alecrim e textura de nuvem.
É que meu peito é grande demais e já abrigou pessoas diversas em diferentes fases. Já esticou, estilhaçou, consertou e acalmou.
Também aprendeu que é maior do que dizem os livros de anatomia: átrio direito, átrio esquerdo, ventrículo direito, ventrículo esquerdo. Imagina. Aqui é espaço inteiro, cabe amor em toda aresta, fresta, divisão e brecha.
Cabe amor além do peito.
E se não for espalhar amor pela vida, qual o sentido da estadia?
E se a oportunidade de ser melhor não se abrisse a cada manhã junto com meus olhos, onde estaria? O que faria se me mantivesse estático, se ser quem sou fosse imutável, inato?
Eu quero é descobrir todos os lados de mim. Todos os meios do Eu.
Quero crescer, tropeçar, diminuir e crescer de novo.
Preciso me abrir para o novo com respeito.
Preciso levantar e, vez ou outra, ficar de joelhos.
Necessito de viagens mais profundas do que podem me proporcionar os aviões.
É tudo tão fundo, tão simples, tão claro, tão denso.
É tudo ai, e aqui dentro.
Para e observa essa viagem, essa benção e essa sorte.
Por alguns minutos no meio do teu dia pensa como o maior milagre já está feito: Você. E se o maior milagre já existe, já foi dado, o que poderia ser impossível?
Só é possível tudo. Tudo que você quiser.
Só é possível o topo. O topo do que se propuser.
Impossível deve ser o fim da tua fé.
O que você realmente quer?
Quem você realmente é?

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autor_kamila

entre as portas

As portas poderiam ser cortinas sequencias. Cada uma poderia ter uma trilha sonora diferente, e a música vai ficando cada vez mais emocionante conforme sua chegada. O grande espetáculo é a parte final, quando apenas uma porta separa o teu corpo do meu. Escuto os tambores rufando antes mesmo do toque da campainha. De corpo arrepiado, fecho os olhos e sinto seus passos se aproximarem (Nesse momento nossa trilha sonora está quase no refrão). Te encontro sorrindo e meus braços se abrem involuntariamente.
Não existe uma lógica para esse sentimento que percorre o meu corpo numa velocidade absurda, toda vez que eu encontro você. Meu coração bate descompassado, como se respirasse por aparelhos na tua ausência. Quando nos encontramos eles entram em festas, se atraem como um imã e só sossegam quando encostam um ao outro. Naqueles segundos silenciosos que parecem conversar absolutamente tudo o que eles precisavam dizer. Nossos braços dançam numa harmonia perfeita no abraço mais aconchegante que eu já vivi.
Demos adeus ao mundo real e viajamos para o nosso mundo. Fica da porta da minha casa pra dentro, mas muitas vezes é uma viagem e tanto. Ajuda a colorir um dia cinza e tem uma enorme facilidade em te fazer esquecer o clima. Regulamos a sensação térmica pelos nossos corpos, mas sempre temos que ligar o ar no meu quarto para abaixar a temperatura ambiente. Todo cobertor é frio perto do calor do teu corpo. Cada gota de suor que trocamos é intercalada por sorrisos abafados. Aperto seu sua cintura na minha até a sua voz fugir. Escapo do óbvio toda vez que mergulho em ti.
Quando acordamos cogitamos explodir o mundo. Somos intocáveis do alto do nosso castelo de travesseiros. Tua presença em silêncio é a forma mais bonita que a vida encontrou para tornar a paz tangível. Tomo goles de coragem, fantasiados de arrepio em cada beijo de bom dia que você aplica no meu pescoço. Aperto-lhe no meu primeiro abraço do dia, suspiro lentamente ao pé do seu ouvido e oro em silêncio agradecendo por você estar aqui. Quero colocar você dentro de mim. Mais do que já está.
É como se a minha coragem pudesse se materializar. Eu acredito mais em mim por ti. Como se meu manual de instruções viesse dentro do seu hd interno. Gosto como você faz meu nome escorrer pela tua boca e também preciso confessar que sou apaixonado pelo apelido que você inventou pra nós dois. Já decorei as frutas que adocicam teu paladar pela manhã e nem preciso esperar o sol rasgar minhas cortinas.
É que nessa madrugada, o brilho mais intenso do mundo adormeceu.
Bem do meu lado.
Bom dia.

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autor_jorge

perder depende de você

Eu nunca perco.
Pode parecer pretensão dizer com tanta convicção, mas é fato, na minha vida não tem mais espaço pra sofrimento. Quando eu não ganho, eu aprendo.
Perder é uma palavra que foi subtraída da minha história há tempos, não sei precisar exatamente quando, na verdade eu nem faço questão de lembrar.
Só lembro que o gosto da derrota se faz mais presente nos lábios dos desavisados, de quem não tem paciência para olhar.
‘Perder’, na verdade é um sinônimo para ‘reerguer’,’recomeçar’.
E isso não subtrai o uso da palavra perda.
Já perdi sim, mas só se perde o que não é passível de recuperação.
Perdi minha mãe, perdi um amigo, perdi o que não existe mais aqui, nesta vida.
Perder é, também, sinônimo de partida, de ida.
De uma despedida sem data de reencontro, sem prazo para lamento.
Morrer é uma forma de perder no máximo significado da palavra. Mas não pra quem morre, quem morre ganha a eternidade. Quem fica… Quem fica perde a presença, a atenção. Perder é, vez ou outra, sinônimo de compreensão.
E eu já me decepcionei inúmeras vezes, centenas de vezes segurei meu coração na mão enquanto sentia o buraco, que era outrora ocupado, aumentar e tomar conta de mim.
Já lamentei o fim, já chorei feito criança perdida na praia, e já pensei em formas de ser feliz assexuadamente.
Já fui tão inocente.
Já fiz planos, tratos, contratos, almoços e jantares.
Tentei fingir que o amor não existe, mas como pode ser que sentimento tão sublime seja subtraído de uma vida?
E eu tive diversos excessos e diversas subtrações ao longo da vida. Amores que foram embora sem despedida, outros que chegaram sem prévio aviso. Vezes em que perdi a compostura e outras tantas em que ganhei um pouco de maturidade.
O que eu nunca perdi, em hipótese alguma, foi minha fé. Acredito no amor e nunca vou deixar de acreditar, o que eu perco um pouquinho, a cada dia, é a crença de que as pessoas são capazes de amar.
E toda vez que eu tento acreditar, que eu tento permanecer, vem uma verdade e me tira do lugar. Se eu perdi? Claro que não, eu aprendi, mais uma vez, que vale a pena tentar, mesmo que não dê certo, mesmo que me faça chorar…
Vai menina, se joga mesmo no precipício. Não tenha medo de voar, ou de cair. Você só vai descobrir se tem asas quando tiver coragem de pular.
A liberdade constantemente se disfarça de cilada, não caia, não se deixe prender por medo de arriscar.
Você não vai perder.
Vai aprender.
É só abrir os olhos e ver.
Eu acredito em você!

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autor_kamila

nossos detalhes

Eu presto muita atenção nas coisas.

Então gosto de tentar fazer a leitura mais precisa de todos os movimentos do corpo. Do teu, principalmente. É engraçado quando explico aos outros que enxergo o seu caminhar, pela direção dos teus olhos. Quando conto que começamos uma frase já esperando que o outro termine. É estranhamente lindo.

A gente tem harmonia com o simples e eu aprendi nessa vida, que essa é a forma mais bonita de sintonia no mundo. Que não existe preço que pague sentir que nossos corpos se encaixam perfeitamente. Você ocupa cada espaço vazio que o mundo tenta colocar em mim.

Nessas horas eu não tenho medo.

Quando me completo com o seu corpo, todo vazio vira paz. E por mais que os cientistas afirmem com fervor que controlar o tempo é impossível, tenho certeza que você sempre anestesia o tempo quando está ao meu lado. Deixa meu relógio sem função. Ignora meu despertador e rasga minha agenda no meio. Passe o tempo que quiser comigo, pois sei que o mundo gira bem mais devagar quando você está aqui.

Parece tolo. Assim como eu, quando tento encarar o sol. Que ao encontrar meus olhos, me cega com luz por instantes. No clarão, minha trilha sonora passa a ser às ondas quebrando. Reabrindo os olhos na tua direção tenho um encontro com o teu sorriso.

E é impossível não sorrir pra ti.

Então a minha mudez faz piadas com infinito. Que tristonho, aceita a derrota para o amor nessa disputa pela eternidade. O amanhã é o maior destruidor do agora. É a contra mão da nossa simplicidade. E na verdade, amar é a coisa mais simples do mundo também. Difícil é em meio tantos sotaques, encontrar uma alma de gíria simples também.

Afinal, coração mudo não tem sotaque. Só toque, meu bem.

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autor_jorge

eu posso

Acordei cedinho hoje, 6:00 meu relógio despertou.
Espreguicei, rolei, dormi de novo.
Despertador.
Acordei, sentei na cama, e pensei como estaria o tempo.
Sol, chuva, vento?
Levantei. Pé direito primeiro, vai que minha mãe tinha razão, não se pode brincar com o que dizem nossos pais, aprendi.
Me olhei no espelho.
Não me encaixo em muitos padrões, meu cabelo cresceu tanto que já está metade de cada cor, a sobrancelha grita por uma pinça, tenho algumas marcas de expressão e outras de espinhas que foram cruelmente assassinadas.
Escovei os dentes, joguei água no rosto, e entrei no banho.
Adoro cantar no chuveiro, geralmente de olhos fechados, e fico ali por uns 15 minutos pensando em coisas que pretendo fazer durante o dia, principalmente hoje, feriado nacional.
Ao sair do banho coloco meu uniforme, tranco a porta da casa onde moro sozinha, e rumo para o meu trabalho.
Carteira assinada, duas línguas fluentes, diploma guardado.
Licenciatura e bacharelado.
E se não tivesse um, não me tornaria menor, ou menos inteligente.
O diploma só mostra que eu conquistei uma das coisas que quis.
Eu quis pra mim, você pode não querer.
No trabalho sento na minha mesa, olho pro carimbo com o meu nome, ajudo as estagiárias a aprenderem o que ainda não sabem.
Hoje vou fazer horário corrido, as 14:00, saindo daqui, vou encontrar meus amigos. Combinamos um almoço pra comemorar a vida.
Comemoramos quase todo dia.
No almoço, além da comida, vai ter cerveja, vinho e vodka.
Eu bebo, não pra ficar mais “feliz” ou para curtir melhor o rolê, eu bebo por querer.
Bebo por que pago.
Bebo por que posso.
A noite a festa vai continuar, vamos pro bar.
Vai rolar sertanejo, pop rock, forrózim e samba.
Eu vou colocar um shortinho, uma blusa bonita, vou passar maquiagem e chegando lá vou dançar agarradinho, e também até o chão.
Eu posso.
Tem meninas que não gostam de dançar, que só ficam sentadas na mesa tomando suco de laranja.
Elas podem.
Outras estarão com os namorados abraçadinhas, dando beijinhos e falando besteirinhas no pé do ouvido.
E elas podem.
Eu canto alto, falo alto, sorrio largo e gosto de abraçar.
Quando bebo demais amo todo mundo, quando passo da conta tenho vontade de chorar.
Tenho amigas que saem comigo e só tomam água.
Tenho outras que não falam palavrão em hipótese alguma.
Eu sou a maior desbocada, tudo é porra, caralho, que foda.
Pra outras é que bacana, que legal, que da hora.
Quando vou a praia, ao rio, a cachoeira, uso biquíni pequeno, tiro foto e posto no Instagram.
Tenho amigas que vão nadar de shorts e top, outras de maiô. Algumas usam biquíninho mas jamais postariam uma foto com tal traje, outras já postaram fotos semi nuas.
Todas são minhas amigas, cada uma na sua ideia, cada qual na sua liberdade de ser.
Eu posso nem conhecer você mas te asseguro o direito de ser livre.
Te asseguro lutar por tua causa.
Te confesso respeito e fujo de te julgar.
Acho péssimo mulher xingando a outra de vagabunda, puta, vadia. Como se a vida sexual de alguém nos dissesse respeito.
Ninguém te deve respeito, ele é teu por direito.
Dê pra quem quiser. Beba o quanto quiser. E faça o que achar conveniente.
Só não liga pra opinião pequena e estúpida dessa gente.
Hoje é feriado e eu vou pro bar, depois volto pro lar.
Porque eu sou o que eu quiser, independente do que a Veja disser.

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cheguei

Oi, tudo bem ?

Cheguei.

Acho que as notícias já chegaram aos teus ouvidos. Afinal, por mais que eu fizesse silêncio, meu barulho ainda procura por você. É quase involuntário. Mas gostaria de dizer que já estou pertinho. Aproveito pra dizer que nunca me senti tão perto e tão distante de ti. Aliás, nesses dias longe, percebi que cada quilômetro percorrido era o meu coração puxando cabo de guerra com o seu. Você segurou firme. Eu, covarde, soltei.

Queria dizer que cheguei.

Que odeio cabo de guerra.

Pois lhe fiz perder.

Tentei enxugar minhas lágrimas com novas paisagens. Mas sempre lembrava do teu rosto quando meus olhos fechavam. Não importava o horizonte. A montanha ou a praia. Independente de quantos passos eu desse pra frente, sentia o peso da tua ausência do meu lado. Não queria caminhar mais. Queria caminhar com você.

Mas você ainda tá por esses lados.

Disso eu sei bem.

Não deixei que você soubesse, mas assistia teus passos de longe. Sofri diante dos teus romances, sorri em silêncio aplaudindo as suas conquistas. Nessa segunda chance de te ver feliz, era impossível que eu falhasse. Quando você parou de depositar esperanças em mim, só precisei colaborar com a minha ausência pra te ver feliz. Foi silenciosamente trágico.

Mas foi.

Foi ficando distante.

Que nem a gente.

Mas eu cheguei.

E queria poder te contar tudo que eu já sei. Adicionar alguns sonhos, além daqueles que você já sabe. E os que realizou. Substituir por alguns que eu já fui atrás. Ou que você me encorajou. Multiplicar os meus sonhos com os teus e só assim, finalmente chegar no nosso produto comum.

Trouxe teu chocolate favorito.

Um perfume.

Um abraço covarde.

Mas trouxe.

Trouxe a cabeça baixa, a saudade pesada e a boca seca. Tudo seu. Preciso das peças que faltam nesse meu quebra cabeça interno e boa parte delas carregam a tua foto. Peço só o teu abraço e a tua atenção. Do teu carinho eu me alimento até quando ele não é meu. Quero ouvir a sua voz brava, que sabe que eu só queria o nosso bem. Quero seus olhos avermelhadas de quem chorou sentindo a minha falta mas rezava toda noite sabendo que eu voltaria correndo por ti.

Quero dizer que eu cheguei.

Que você realmente, sempre tem razão.

Até irrita.

Quero a minha coragem que você guardou dentro do teu sorriso.

Volta a acreditar em mim.

Pra eu poder acreditar também.

Me ajuda.

Cheguei.

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autor_jorge