suspiro por ti, morena

Ele ainda te liga né? Poxa, eu entendo o lado dele. Sério. Não tem como não se apaixonar por você. Pelos teus detalhes. Pela forma como você acorda pra dar bom dia pro sol, que se esforça pra invadir teu quarto até nos dias de chuva. Pela forma como você se se senta à mesa, com as pernas cruzadas de índia. Como observa tudo que está na sua volta com os olhos castanhos por sob a xícara, enquanto bebe o seu café tão doce que até tem um perfume diferente dos outros cafés. Eu ligaria para todos esses seus pontos que eu citei. Ligaria ainda mais pela forma que você prende o cabelo de qualquer jeito. Aquele rabo de cavalo, colocado de lado, meio sem forma certa. Meio criança, meio mulher. Meio que poderia amanhecer comigo né? Ai ai morena…

Se hoje, eu tivesse o direito de fazer um pedido. Pediria para me encaixar ali no seu futuro. Pediria para talvez, para tentar viver tão depressa quanto você. Ou então ser o motivo desse teu sofrimento antecipado diário. Não sei se pego esse meu desejo mesmo, ou se simplesmente desejo que você se acalme de uma vez. Que o teu suspiro de anseio de algo que nem você sabe, seja de alívio por algo que já tenha passado. Eu queria que pelo menos um dia, você entendesse e vivesse um pouquinho mais do hoje. Talvez, se você andasse com um pouco menos de pressa, você entenderia o porquê do agora se chamar “presente”. Tenho certeza que você iria adora. Ai ai ai (risos) morena…

Se você soubesse o quanto eu espero você cruzar comigo na hora do almoço, só pra que eu possa te dar bom dia e ser laçado pelo teu perfume. Você talvez almoçasse comigo em oito dos sete dias da semana. Eu até já escolhi uma música do John Mayer pra poder chamar de sua. Quando ela toca no rádio do meu carro, posso ter certeza de que você está sorrindo e repousando a cabeça devagar no meu ombro.  Você canta o refrão baixinho, quase falando pra si e canta o refrão olhando nos meus olhos. Ai ai morena, meus olhos até enchem d’água só de imaginar você aqui.

Morena, cê não sabe. Mas eu ando conquistando todo mundo tentando achar alguma forma de te conquistar. Juro. Ando tendo pra mim os olhos de tantas garotas, mas ainda tenho a esperança de que você também vai me olhar. Quando eu sair dessa zona de conforto que eu deixei cê me colocar. Eu juro que eu provo pra ti, que a gente só não encontra o amor, por não saber onde procurar. Ai ai morena, se eu soubesse por onde começar, eu não ia precisar mergulhar num papel pra poder desabafar.

Não tem problema minha morena, deixa o teu telefone tocar. Queria falar aqui milhões de coisas que você gostaria de ouvir. Mas no lugar dele, talvez não conseguisse parar de te procurar. Mas espere por mim, morena. Espere que eu chego já. Quando você me pergunta o que fazer pra não se machucar, sinto mesmo que bem de longe, cê ta me dando uma chance pra te amar. É que cuidar também é uma forma de amar, né? E a gente se cuida tanto tempo, que se tudo der certo, logo mais a gente vai se amar.

Ai ai morena, se você soubesse o quanto tu me faz suspirar…

autor_jorge

um jeans, uma estrada e muitos sonhos

Chegou a hora de ir.

Coloquei minha calça jeans rasgada, uma camisa branca simples para lembrar das minhas origens e as botas que já me levaram para tantos lugares incríveis. Na mochila só trouxe o que é necessário para encontrar meu caminho e não esquecer de quem eu sou. Meus óculos escuros de marfim cobrem quase que meu rosto inteiro, mas não a minha alma.

Me despeço do que nunca foi meu e saio em busca daquilo que ainda não sei exatamente. Pelo caminho vou encontrando meus pedaços, minhas respostas soltas pelo vento entrelaçadas em galhos, folhas, poeira e qualquer outra coisa que tenha nome e forma. A vida é uma busca de luz e respostas e a minha mente precisa ser iluminada para novos ideais.

De passos em passos meus pés me levaram por estradas lindas que me trouxeram paz. A lua me acompanhou no banco do carona e iluminava o que meus olhos não conseguiam ver com perfeição. No silêncio da mata o som do motor dava a partida para uma nova descoberta: das lembranças ainda não vividas.

O tempo é curto para deixar ele na nossa frente. Temos sempre que surpreender os ponteiros que ditam o ritmo junto com os planetas num universo não tão distante. Em cima de quatro rodinhas também dou a minha volta pelo mundo, o mundo em que sei que existo só por sentir algo novo. É o vento na cara que me lembra da sensação de liberdade que tanto quero e encontrei. A solidão deste momento traz a minha sanidade, sim a minha sanidade, porque meus pensamentos me consomem e me trazem para a realidade.

A calça rasgada ficou mais surrada por conta dos tombos desta descoberta de mim mesma, mas mesmo assim continua sendo a predileta para contar minhas histórias. No bolso trago o meu olho do mundo. A cada registro fotográfico fico pensando na minha sanidade mental que me lembra o quanto é importante viver para crer que tudo isso pode ser visto e sentido. É então que a lua deixa de dar o ar da graça e seu turno no céu dá espaço para o astro rei brilhar no meu rosto.

Um novo dia nasceu e com ele minha busca no banco do carona continua. Praias belíssimas, estradas maravilhosas, paisagens de tirar o fôlego. Lembrei-me de uma carta sua toda amassada no fundo da minha caixa de tralhas. Um dia você sonhou isso para a gente, mas a vida é tão engraçada que o destino quis que eu encontrasse as nossas, ou melhor, a minha resposta sozinha; já que os nossos caminhos tomaram novos horizontes.

Sigo em frente mais uma vez e te deixo na lembrança. Só não deixo os sonhos que imaginamos juntos em trilhar este caminho pelas beiras das estradas, porque chegou a minha hora de ir.

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autor_helena

tô te devendo

Não sei ao certo, mas fazia tanto tempo que eu não voltava aqui pro alto da minha pedra só pra ficar olhando a paisagem e realinhando a minha vida. Não sei se era pelo fato de eu já ter aceitado que a minha vida seria uma bagunça assumida, ou então, por você ter aparecido sem eu ter chamado e ter colocado certa ordem nela.

Sentado aqui sozinho, acendendo (o que eu juro ser meu último) cigarro, encarando essa lua enorme e ouvindo a maré se chocar com as pedras. Tô rindo sozinho, pensando que se eu pudesse, gostaria de uma última vez segurar a sua mão e torcer pra vida não ser tão cruel assim com a nossa curta história. Tô te devendo um último dengo.

E digo isso talvez por um desespero bobo que ainda me faz querer te contar tudo que acontece comigo, mesmo sabendo que você não quer ouvir. Acho que cê ficaria feliz em saber que eu realmente consegui acabar o teu livro favorito, que me deu até vontade de escrever um. Tô planejando isso só pra você colocar na sua estante numa parte especial, onde todo mundo possa perguntar se é bom. Cê vai sorrir e balançar a cabeça positivamente, com o sorrisão contido. Como você adora fazer. Poupando esforço. Poupando palavras. E sendo simples como tudo sempre deveria ser sempre. Tô te devendo o meu livro com as minhas histórias, com e sem você.

Na realidade, queria te dar um pequeno manual de instruções seu, que comecei a bolar, depois de te estudar por tanto tempo e reprovar em algumas matérias suas. Antes de qualquer coisa, milhões de desculpas pelos batons perdidos nesses teus dias comigo. Vi poucos e os poucos que vi, fiz durar menos ainda. Como se nem ao menos tivessem tido a oportunidade de serem vistos.

Culpa desse sorriso gostoso, que você não custava nada em mostrar. Elogiei, borrei, manchei, tirei, limpei. E no final de tudo cheguei a uma idiota conclusão comum que o mundo te fala todo santo dia. Você realmente fica linda de qualquer jeito. Mas eu falo isso de longe, com parcimônia, pra você entender o recado. Não me entenda cabeça erguida e não com nariz empinado. Tô te devendo batons, não sei se muitos, mas alguns.

Indo um pouco mais além, gostaria de lhe avisar, que realmente não me importo de que todo aquele carinho que apertávamos no nosso abraço tenha se tornado saudade. Pra ser sincero, eu até acho isso tudo bem normal. Só que a saudade ficou só de um lado do abraço, então, por favor, faça a gentileza de vir retirar o seu pedaço. É que quando o carinho começa a pesar aqui dentro do peito, ele vai bem aonde a gente não consegue carregar direito. Vai amassando devagar um coração. Se não estiver muito ocupada nos próximos dias, agradeceria se você retirasse a sua parcela, eu posso deixar numa caixinha aqui na minha portaria, caso você passe eu não esteja por aqui. Tô até te devendo saudade.

Saiba que mesmo você não gostando, sua altura é perfeita. Não tão alta quanto os meus sonhos e viagens, nem tão baixa quanto a sua autoestima que você insiste em reforçar, sem precisar. Cabe perfeitamente no meu abraço. E você continua abraçando o mundo como se fosse seu travesseiro.

Além do mais, já confundi restaurantes com bares, ruas com avenidas. Já imaginei que coquetéis eram festas, que aulas eram palestras. Que moral eu tenho de te julgar, se dessa vez você achou que o entusiasmo era paixão?
Tô te devendo um até logo.

Nunca soube lidar com adeus.

Até logo.

Então.

autor_jorge

só hoje

Só por hoje eu vou te dar meu melhor sorriso de lado, que eu sei que você tanto gosta. É que sei que com ele vou receber sua expressão mais sincera ao se deparar com a alegria que ferve no meu rosto.

Só por hoje meu sorriso vai te trazer um pouco mais de aceleração no coração. Só por hoje você vai suar frio e sentir algo nunca sentido antes ao me ver atravessar a rua indo ao teu encontro.

Há muito tempo o meu ‘hoje’ foi sozinho, porém consistente e cheio de pequenas felicidades solitárias que pouco eu gritava por aí. Aprendi que devo sussurrar minha alegria e ter com quem confidenciar estes momentos; é melhor para ter esse meu riso fácil que você tanto gosta.

Mas às vezes eu prefiro imaginar o amanhã. O tempo é curto e grita dentro do vidro do meu relógio. E nos meus sonhos mais profundos com você, eu quero reviver os tempos do ‘Era uma vez…’. Não resisti. Trouxe esse encanto para a realidade, para a nossa realidade. Me fantasiei das personagens mais emblemáticas dos romances das telinhas para quem sabe encontrar o meu Romeu.

E pra ser sincera, nem que seja para eu ter um livro de bolso escrito sobre nós dois, mas algumas linhas precisam ser contadas e eternizadas. Que seja só por hoje, mas que seja uma expressão de tempo definida ou indefinida das mais incríveis lembranças. Vou pegar esse livro e ler como o meu mantra diário de como ser feliz em 24 horas.

E que nesse tic tac da luta por novos sorrisos de lado, sorrisos abertos e sorrisos de doer a bochecha, eu encontre os seus lábios quando cruzar a rua pra te ver. Então corre para esse abraço, porque só por hoje esse sorriso vai te dar o que é preciso para viver o presente.

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autor_helena

bodiei de você

Naquela manhã de sábado, caminhei até a caixinha das correspondências, entre as encomendas e contas, recebi um pacote muito bem embalado.

Era uma caixinha preta, amarrada por um laço azul. Deixei todas as compras no chão e abri muito curiosa aquele presente. Era um CD. De encarte simples, fundo preto e capa transparente. Um CD branco deveria ter sido usado no máximo uma vez.

Com uma caneta marca-texto da mesma cor do laço tinha uma palavra. Era o nome da música. Ou do disco.

Estava escrito “você”

Corri pra casa.

Por ser manhã ainda vestia o meu velho pijama da época da faculdade. A caixa vazia só mostrava que realmente não tinha mais nada lá dentro. Entrei em casa numa confusão e curiosidade, ainda procurando no meio do nada, alguma pista daquela tola charada.

Encostei a porta, deixei as contas na mesa, coloquei o CD no som (que já não usava fazia muito tempo). Fui até o sofá, larguei meus chinelos brancos, sentei no sofá cruzei minhas pernas como uma índia que descansava rapidamente.

Enquanto ouvia a longa introdução ia arrumando meu cabelo. Prendendo e desprendendo. Jogando-o sob o ombro. Visivelmente atrapalhada. Não me concentrava mais nele então simplesmente os soltei. Então “Você” começou e parecia que era escrita pra mim que achei, tão minha, que acreditei ser meu manual de instruções perdido.

“Você” então entoou seus primeiros versos e eram inegavelmente agradáveis. De versos simples e melodia gostosa de ouvir. Era um CD cru, daqueles gravados rapidamente. Particularmente isso não importava, sou daquelas que escutam a mesma música algumas milhares de vezes por algumas centenas de dias.

“Você” foi me fazendo companhia por toda aquela tarde. Parecia ser feita pra mim, conseguia encaixar diversas situações que aconteceram comigo nos últimos tempos entre os versos que rolavam. Depois de tanto ouvir, precisava compartilhar aquelas palavras com alguém.  Queria dividir aquele nosso encaixe musical.

Compartilhei com algumas amigas e “Você” foi logo fazendo sucesso com todas. Era deliciosa de se escutar, parecia falar absolutamente o que todas queriam ouvir. Ou então, o que elas precisavam ouvir mas ninguém tinha falado.

Fui ouvindo tanto “Você”, que quando começou a fazer um sucesso relativo, todos já se lembravam de mim. Nas baladas corria desesperadamente aos braços das minhas amigas, com a bebida sacudindo pelo copo, aos berros de que “ era minha música” que estava tocando. Elas riam. Concordavam. Cantavam junto comigo. Só não acreditavam e nós.

Foi quando de tanto eu ouvir “Você” eu fui começando a me cansar, pouco a pouco. Quando me dei conta, já tinha ouvido todas as versões possíveis e imagináveis de “Você”. Tinha feito companhia em momentos extremamente marcantes. Mas já não era mais tão minha. Era como se nesse mundo onde todo mundo sabe muito de tudo, as pessoas sabiam mais de “Você” do que eu. A mágica foi indo embora. E eu nem tinha como parar de bodear de você.

Fui cansando das mesmas palavras que aos ouvidos de muitas pessoas eram novas, inéditas e geniais. Pra mim era a mesmice. O que foi me desgastando mais e mais. Fui fadando pouco a pouco “Você” ao fim que dou para todas as canções que marcam a minha vida. A minha mania triste de premiar meus problemas com ótimas trilhas sonoras.

E depois que eles se consolidam eu não consigo tirar esse maldito link entre os refrões e os bodes. Fui mudando, abaixando até a hora em que eu não conseguia mais ouvir “Você”.
Era impossível.
Aff que bode!

Hoje eu canto pouco, como se fosse apenas para curtir uma lembrança boa, de uma vida que parece que passou há tanto tempo. Eu queria ter entrado num avião para Paris ouvindo “Você”. Queria ter experimentado a pizza mais gostosa da minha vida com “Você”. Eu queria ter caminhado com ele pela mão enquanto tocava “você”.

Mas eu errei na minha dose, de vontade. E a única coisa que eu consegui pegar foi bode.

Um incrível e triste bode de “você”.

autor_jorge

bordadeira

Vou pedir para a bordadeira bordar seu nome no meu decote para ver se você escuta as batidas do meu coração quando não estiver por aqui. Por muito tempo esse pobre coitado não batucava como a bateria de uma escola de samba, mas ele reencontrou o ritmo da nossa sintonia na avenida da vida que cruzou os nossos sorrisos.

Foi te ver para ter certeza que o arrepio na pele não era uma ilusão ou a lembrança que deixei dentro da minha caixinha de histórias do passado, que faz questão de ser mais presente nos meus pensamentos. Mas é aí que no meio dessas palavras você me pula na tela do celular e depois de tudo o que senti me traz mais uma vez aquela dúvida que me assola durante o meu dia: o que eu estou fazendo aqui sem você e você sem mim?

O destino as vezes não acerta ou tá com a mão muito torta pra escrever essas nossas linhas no meu bloquinho de notas cheio de rabiscos e pequenos versos de amor. E no meio desse pensamento sobre linhas tortas você me manda uma música que me faz querer dançar na chuva. “A gente se completa e vai deixando acontecer…”. E agora? Deixei…deixei molhar, deixei sentir, deixei viver isso dentro de mim. Sei lá se vou entrar naquelas de sofrer com antecedência em saber no que vai rolar. E se rolar rolou, porque eu sei que o que é meu tá guardado no fundo de algum buraco, no fundo de algum coração ou até na ponta da agulha da bordadeira que te trouxe para mais perto de mim.

Mas mesmo que fique na lembrança de um pequeno detalhe do meu vestido. Mesmo que fique na lembrança do meu bloquinho de notas velho ou até mesmo na moldura do nosso retrato. Só sei que se o ritmo das escolas de samba se encontrar na avenida das nossas vidas, eu vou jogar confete para o alto e com os pés descalços sambar até encontrar o teu corpo suado de tanto batucar meus pensamentos.

autor_helena

toma café comigo amanhã?

Calma minha pequena, não vim até aqui depois de tanto tempo pedir pra você ficar. Eu só apareci por sentir sua falta. Quando você se foi da última vez eu tinha prometido pra mim, que não correria atrás para entender essas despedidas sem sentido. Acordei com seu beijo na testa, apenas retruquei seu adeus, me ajeitei no travesseiro e me aninhei pela cama toda já que você não estava mais por ali e voltei para o meu sono. Inconscientemente eu agradecia que você não iria mais me interromper nele, mas acho que o meu suspiro de alívio, foi na verdade por não ter de te encontrar no meio das viagens que faço nele.

Passei naturalmente por todos os outros dias sem tocar no teu nome, sem ouvir a tua voz e juro, eu estava assustadoramente bem com isso. Abracei os mais diversos corpos nas noites que vieram depois daquela manhã que você se foi. Em algumas delas, eu até gostava mais do abraço do que da própria voz da pessoa. E fui seguindo a vida normalmente como todas as pessoas desse mundo. Tinham as que vinham pelo drink, que vinham pelo papo. E conforme bailavam as luas, algumas conversas terminavam com o endereço delas em um guardanapo.

Mudavam os nomes, as vozes, mas vez ou outra eu me deparava com rostos diferentes que vinham acompanhados do teu nome. Longe de mim, julgar o livro pela capa, mas qualquer tipo de trecho que viesse depois do seu título, tinha uma atenção diferente dos meus olhos. Era como se eu quisesse extrair daquela minha leitura referências suas. Como se eu quisesse enxergar teus atos e outras peças. Foi nessa hora que eu reparei, que nossos corações desritmados começaram a tocar as mesmas notas numa harmonia perfeita. Eu tava sentindo a tua falta, desculpe o linguajar, tava sentindo sua falta pra-ca-ra-lho.

Mas eu não montei num cavalo branco pra cruzar os sete reinos enfrentando fábulas e lendas. Só te liguei e você atendeu. Minha voz de “moleque que quer aprontar” fazia sua gargalhada de menina “que tava me esperando ligar”. Meio nervoso, com as mãos transpirando um pouco, tentava não tremer minhas cordas vocais no mesmo ritmo que as minhas pernas descompassavam embaixo da mesa. Provavelmente seria atacado com uma gagueira descomunal. Não conseguiria pergunta se você estaria sem planos no final de semana, também não teria comemorado como um gol de Copa, quando você disse que poderíamos nos ver.

Por isso eu só queria dizer que nesse tempo, minha cama fica excelente sem você. Ou seja, que sentiu o seu buraco não foi ela. Foi o meu peito. Nem adianta me olhar com esses olhos esverdeados e guardar esse riso contigo. Você sabe que foi praticamente moldada para o meu abraço. Sabe também que por diversas vezes eu conversei com a sua foto ao invés de falar com você. Desculpe. Deixa minha maturidade de lado, deixa seu orgulho também. Desculpa demorar tanto pra entender que você é sinônimo de eu. Fui lento demais pra entender que essa distância toda que é o antônimo de nós.

Mas e ai, toma café comigo amanhã?

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um papel, uma caneta e alguma inspiração

E de uma forma sutil ele desenhou as curvas do corpo dela no papel mais nobre de cor amarelada que ele guardou para esse dia! Seu talento se confundia com o milagre daquele corpo escultural cheio de segredos, pontos e vírgulas. Os sinais eram apenas para que ele não se apressasse em desenhar e que ao mesmo tempo pudesse deslumbrar a luz que preguiçosamente começou a surgir da janela lateral clareando a pele morena jambo.

Ela se espreguiçava de maneira manhosa sem tirar os olhos do rosto dele. Isso tudo sem atrapalhar o artista e rapidamente voltava para a posição inicial. Ele por sua vez não sabia se retribuía ou se dava continuidade para aquele conjunto de obra de arte com sorrisos, olhares e respiração contida.

Com traços finos ele delineou cada detalhe do rosto nada delicado dela. Seu sorriso era sem jeito e provocador ao mesmo tempo para inspirar os mais belos contornos daquela caneta dourada que insistia em riscar aquela página amarelada.

Do rosto quadrado, dos olhos carregados de amor e da boca perfeita que entoava as palavras mais sinceras ele chegou ao corpo…Ah o corpo! Não existia nenhum mistério para ele que já a conhecia de outros sonhos, mas a cada olhar era realmente uma novidade que ele fez questão de retratar.

O resultado do desenho pouco importaria para eles. Aquele momento de silêncio, que só era interrompido pelos rabiscos, foi mais intenso do que o encontro da tinta negra de sua caneta dourada com o papel!

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autor_helena

não vim salvar ninguém

Não vim até aqui para fazer um serviço de super-herói. Se você estava esperando um enorme anjo salvador, munido de armas da última grande guerra, uma capa preta e com as respostas de todas as suas perguntas, sinto lhe informar, mas a sua oração não funcionou. Aliás, pra começo de qualquer conversa eu preciso saber se você tem gin e tônica na sua casa e se você não vai se incomodar se eu fumar aqui dentro. Não quero abrir a janela. Lá fora tá um frio tão grande, mas tão grande, que tem um bando de gente dizendo que ama como se perguntassem as horas.

Desliga essa música corta pulsos. Para com essa mania desgraçada que você começou de uns tempos pra cá, de assistir sempre os mesmos filmes tristes. Não sei se já te avisaram, mas não é tão errado assim às vezes torcer pelo vilão. Não é tão errado assim não ligar no dia seguinte, aliás, é tão normal quanto beber água da torneira. A gente faz com a maior naturalidade do mundo quase todo tempo, só a gente mesmo não repara. Misturar bebida nas coisas faz um mal danado, é verdade. Mas sinceramente é a primeira receita prescrita pelos médicos da vida para os corações quebrados.

Eu fico embasbacado com a babaquice das pessoas que dizem que o mundo acabou por causa de alguém. Adoraria acreditar nisso se pelo menos, essas pessoas conhecessem metade da metade desse mundão. Se não conhece ele inteiro, como tem a pachorra de falar que ele acabou?

Quando você começa a escrever uma nova linha, normalmente vem depois de algum ponto final. E ele é o final por já ter cumprido a sua função no passado, já ter passado tudo que deveria naquele espaço. Quando ele acaba ele não influência o que vem depois, ele só orienta. Faz isso para que as coisas tenha sentido e não percam o rumo outra vez mais. Na vida e nas próximas frases. A tendência é que as coisas fiquem envolventes e intensas nas linhas que correm. Você sempre tem algo a aprender com alguém que passou. Mesmo nas piores das situações, até o que não deveria aprender. Mas aprende.

Acho que você teve um pequeno desvio nesse último caminho que você nem mesmo reparou. Você nunca julgou certo ou errado. Na política do seu mundo, independente o errado era você o correto era sempre lido no plural. Pois então pasme, você pensou exatamente ao contrário. E pensou exatamente ao contrário o tempo todo. Você nasceu sozinho, duas bocas não fumam o mesmo cigarro ao mesmo tempo e no seu caixão não cabem duas pessoas. Sugiro você começar a rever seus conceitos de certo ou errado.

Eu só espero que você não tenha apagado o telefone daquela garota que vestia branco e conversou com você no bar da faculdade. Até porque isso seria uma cretinice inenarrável apagar os nove números que podem evocar Afrodite sem compartilhar como ninguém, ou pior, nem ao menos ter ligado.

Eu não acho que você tenha mudado tanto assim. Mas achei que você já tivesse aprendido em outras vidas, que no frio, não se serve vinho pra quem gosta de tequila sem limão. E não me olha com essa cara de coitado, que você não tá merece nem o limão.

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autor_jorge

não quero acordar com você

Hoje não precisa sair na ponta do pé e nem na calada da madrugada para não me acordar. Aliás, pode sair tranquilamente, pode até acender a luz da sala. Se lembrar, enquanto estiver saindo, por favor, cubra meus pés. Quando sair, traque a casa e deixe a sua chave na portaria. Eu estou te avisando hoje, que amanhã vou abrir os olhos e ficaria muito feliz em não encontrar você. E pra ser sincera, ficaria feliz em não encontra-lo tão cedo. Amanhã você vai acordar longe, passará a semana mais longe ainda e quem sabe não volte mais. E eu vou ficar nos meus momentos de menina insegura que não sabe se atende ao telefone quando ele toca, ou se deixa ver se você ligaria outra vez. Eu ainda prefiro o seu abraço interminável, seu sorriso safado e a forma como sua mão segura a minha nuca. Mas ouvi dizer que posso passar por uma leve reabilitação a base de chocolates, sorvetes, madrugadas de filme com as minhas amigas e outros corpos dispostos a não sumirem na manhã seguinte.

Em seu primeiro passo para seguir em frente, sugiro simplesmente não correr atrás de quem não quer andar ao meu lado. Talvez eu até me alcance nessa mania tosca de querer sempre estar um passo à frente sempre de tudo. Eu acho realmente lindo que você tenha roubado meu ar em tantas noites. Ou quando me trazia suas rosas (também roubadas) e todas suas tentativas de me fazer sua. O problema, meu bem, foi quando você começou a roubar o meu tempo. Ali você assinou sua carta de dispensa de qualquer serviço que você quisesse ter prestado. Se eu não tenho tempo pra mim, não faz sentido que outra pessoa tenha.

Eu realmente acreditei que no começo disso tudo, você fosse me levar como você leva todas essas garotas que passaram na sua vida. Que em pouco tempo você fosse se cansar e arrumar alguma molecagem de desaparecer da minha vida, deixando eu sozinha a esbravejar aos quatro ventos que vocês são todos iguais. Você foi retirando cada obstáculo que eu estrategicamente fui colocando para que você se prendesse, se assustasse e fugisse. Não é uma conta tão complicada de se fazer. Mas por algum motivo desgraçado tu insistes em ficar. Meu Deus, você era tão mais interessante quando não olhava pra mim com essa cara de “que me quer pra sempre”.

Mas eu até que simpatizo com você, gostava quando você se gabava pra mim dizendo suas atrocidades com as outras garotas. Eu pensava comigo como elas poderiam ser tão tolas, enquanto te devorava com os olhos. Você era tão criança e nem reparava o quanto eu desejava que você se calasse, pra poder provar se pelo menos metade das suas lendas eram verdades. Até que eu provei. Sem datas, sem prazos. E confesso que gostei, derrapei algumas vezes. Mas você deixou de ser quem eu queria. Estar perto não precisa estar tão junto. Eu acho que você fica mais interessante descabelado e com barba por fazer, camisa xadrez amarrada na cintura. Pelo menos parecia ser mais você. Esse seu lado politicamente correto, domado e comportado não combina com esse seu sorriso. Vai lá, não volta. E lembre-se: “Eu não sou tuas negas.”

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*Referencia/inspiração a Eu Me Chamo Antonio. Volume I.

*Referencia/inspiração a Eu Me Chamo Antonio. Volume Iautor_jorge