de janeiro a janeiro

Já acabou. A cerveja no seu copo já esquentou. A conta do bar quase chegando. E você ainda parada pensando como fevereiro acabou daquele jeito. Como o carnaval fez você perder a pessoa que você se encantou no verão passado. Você fica se perguntando que nem boba, se nas areias da praia esse você podem se esbarrar.

Já tá acabando o sol, quando ele aparecer outra vez, estaremos em um novo ano. Eu espero que de todas as promessas que você fez, cumpra pelo menos a de não acreditar em todas as suaves palavras que ele possa vir a te dizer. São trezentos e sessenta e cinco dias para um novo arrepio. Ele pode vir falando “saudade” ou simplesmente “oi”. E você vai se remexer toda ai dentro.

Exatamente como fez no verão passado. Era pro seu ano ter durado ate dezembro e você fez questão de acabar com ele pouco depois de março. Sabe que fez isso, pelo seu abril de lágrimas e músicas tristes, onde todos os filmes do seu cinema eram romances ou dramas. Economizou tanto em orgulho pra gastar em lágrimas. Pedir ajuda não é feio. Chorar por quem não merece é. E então de Maio ate a entrada do inverno você encontrou aquele outro rapaz lembra. Eu quase não o conheci, mas pelo o que as suas amigas falam ele era bem próximo ao perfeito. Tudo o que elas procuravam estava nele. Já pra você não. Ele não tinha o cheiro nem o nome do amor do teu verão. Que injusto né? Ele sofreu por não ter te feito sofrer.

Quando o segundo semestre começou, você começou a se renovar também. Como as flores que pintam a paisagem na primavera você voltou a desabrochar. Era a época das cores vivas na tua roupa, da maquiagem leve no teu rosto. Parecia que você se descobria. Era uma delicia te encontrar sorrindo todo dia. Mas você insistia em saber, por onde o sol daquele verão brilhava. Não sei se importava tanto, a sombra todo mundo já sabia que era você. O que a gente já cansou de saber, é que o mundo da volta. O verão uma hora retorna e o mundo não é um lugar tão grande assim pra gente se esconder pra sempre. Espero que nesse próximo verão você entenda que destino é quando a gente aproveita o acaso pra ser feliz pra sempre, tem gente que chama até de amor. Quando é passageiro e intenso, tem gente que chama de paixão.  Tem dia que a gente ganha. Tem dia que a gente aprende.

Então, quando estiver com o pé na beira do mar, não acenda velas pra ninguém, nem jogue rosas para Iemanjá. Pode pular todas as ondas que quebrarem na sua direção pedindo a mesma coisa, mas acredito que isso não faça muita diferença. Não é sobre desejos, pedidos, encantamentos ou qualquer fantasia que a gente gosta de acreditar. É uma coisa simples. Matemática pura. O que te soma, acrescenta e fica. Se te subtrai, deixa que vá de vez. Multiplique seus sorrisos, seus amigos, seus amores e suas conquistas. Na tua divisão, deixe só as saudades e as tuas preocupações.

Talvez, com essa conta, você viva todos os dias de um ano. E não todo o ano em um dia.

autor_jorge

pra gente acordar pertinho, tá?

Todo dia antes de sair da cama, eu fico passeando pelos meus contatos, tentando encontrar um motivo para o meu bom dia. Tem dias que eu dedico aos meus amigos, outros dias em que eu não dedico a ninguém. Desejar o bem mesmo que seja com uma outa pessoa, querer ver os olhos brilhando nunca magoa. Mas ai eu fico matutando sozinho, tentando realmente entender, será que um dia eu vou dar essa bondade do meu dia pra você?

Horas e horas em que eu fico tentando entender por qual motivo tolo a gente ainda não tomou um café da manhã aqui na minha cama. Eu acordando primeiro e você ainda toda envolta nas minhas cobertas. Elas são tão macias que parecem um abraço, se eu conseguir juntar tudo isso ao teu perfume provavelmente eu queira ficar enrolado ali para o resto da minha vida. Enquanto você se estica e rola criando coragem pra levantar. Quando a coragem chegar, não vai precisar. Eu levanto antes e preparo alguma coisa que você gostar, teu café é com açúcar ou deixo puro para você despertar?

Aliás, reparo pelo tempo que as nossas conversam duram que você tem um excelente gosto para livros e filmes, muito parecido do com o meu. Um dia eu ainda te mostro a minha prateleira de poemas e espero você escolher o mais bonito, pra poder chamar de teu.  De longe eu ainda acompanho como você está. Estar perto não é físico, nunca foi e nunca será. Tenho uma lista de coisas que me dão saudades na vida e adoraria roubar você um final de semana do resto do mundo pra poder te mostrar. É que essa nossa mania de olhar nos nossos olhos, não falar nada e apenas sorrir, um dia para de te deixar encabulada e vai te fazer muito feliz, tá?

Ligo pros amigos improváveis pra fazer perguntas sobre a gente que tenho até medo de ouvir a resposta. Fico até meio encabulado de entrar na fila das pessoas que querem te fazer sentir borboletas no estomago. Então eu fico quietinho, apenas tentando orientar o caminho pra você não se machucar. Já tentei te falar nas entrelinhas, ou escancarar na tua frente. Mas falarei pela última vez pra pelo menos te fazer sorrir, você é inteira demais pra essa legião de metades se dobrando por ti. Mas a gente ainda vai conversar sobre isso com nossas cabeças dividindo o mesmo travesseiro, tudo bem?

Irmos quase sempre aos mesmos lugares, mesmo sem nunca combinar. Nunca tinha parado pra reparar, mas jurava pra mim mesmo que na próxima vez que encontrasse eu iria te contar. Eu gosto dos filmes que você já assistiu e andei ouvindo umas músicas que você fica cantarolando sozinha, são as mesmas que eu escuto pra poder me acalmar. Já vimos que a sua mão encaixa perfeitamente na minha e você nunca pisou no meu pé enquanto dançamos. Harmonia sem ensaio é sintonia, sabia?

“E se você me perguntar se é pra você, eu vou negar, vou dizer que nada a ver.” É Clarice Falcão, escuta, cê vai gostar e a gente vai ter mais uma coisa gostosa em comum pra poder compartilhar.

E então Papai Noel, agora eu vou me comportar, pra acordar ao lado dela e o “bom dia” dela um dia eu escutar, tá?

perot

autor_jorge

feliz natal, sumido.

Já não sei exatamente quanto tempo faz do teu silêncio. Mas hoje, no meio do emaranhado de números que somados eu já sei que o resultado é simplesmente uma boa dose de saudade, eu contei uma piada. Não foi uma boa piada, nem uma piada muito ruim. Foi aquela piada, que você sempre fechava a cara quando eu ia contar. Que você não achava graça alguma e eu ria da cara de bravo que você fazia. E então eu contei, ninguém sequer esboçou um riso. Até que uma gargalhada veio do fundo da mesa, parecia muito com a sua, o que eu tenho de admitir que me arrepiou de ponta a ponta.

Só que não era você. Aliás, já fazia um bom tempo que você não sentava na mesma mesa que eu. Não dividia as mesmas piadas. Só que eu tolo, preferi não acreditar que você estava se afastando. Mantive minha postura de falso sonso, daqueles que só vão deixando as coisas acontecerem pra ver aonde elas vão acabar dando. Fui dando toda a corda do mundo pra ver até aonde você iria deixar. A minha corda acabou, você juntou alguns troncos de madeira, amarrou com a corda que eu lhe dei e partiu sem olhar pra trás em momento algum.

Eu admiro o quão decidido você é com as coisas da vida. Acho que eu só gostaria que você escutasse um pouco mais quem está na sua volta. Sei bem que você gosta muito de falar, fala pra caramba e faz na mesma proporção. É fantástico. Acredito ainda que você tenha muitas coisas pra mostrar para o mundo, mas o seu próprio ego não deixa. Pedir desculpas não te rebaixa, pelo contrário te faz crescer, saber dar a mão pra quem aos poucos está se perdendo é um ato nobre.

Mas eu queria que você soubesse que eu tô feliz pra caralho por você, mesmo que desde que você começou a caminhar sem a minha companhia eu ainda te acompanho de longe. Andei vendo algumas das tuas últimas novidades, parecem bastante com aquelas baboseiras todas que eu azucrinava o seu ouvido. Você ainda segue com o mesmo sorriso meio prepotente meio arrogante. Mas é notório que hoje conta para os outros, aquelas histórias que eu um dia te contei. No mundo da arte chamam isso de referencia, eu prefiro chamar de uma velha amizade.

Passamos da idade de pegar na mão do coleguinha pra caminhar pela rua e é bem provável que nunca mais sentaremos na praia esperando o sol e a chuva oscilarem seu espaço sobre nossas cabeças. Vou aproveitar a distância e dessa vez vou tentar abraçar você apenas com as palavras. Hoje pode realmente parecer que não, mas eu te quero muito bem, muito mesmo. Só não sou besta de sair por aí perguntando de você. Sabe como é né? Quem tem o dom de fazer o bem e ensinar até quando está em silêncio, consegue ser feliz todo dia sem fazer esforço algum. Máximo respeito, todo o sucesso do mundo pra você ainda é pouco, irmão.

Feliz Natal, sumido.

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eu só queria a verdade

E então como uma brisa suave que entra pela janela sem pedir licença e despedaçou o meu coração! Não sei por quais motivos, mas sei que não dei motivos para que isso acontecesse. Mais uma vez a lição que fica sou eu quem levo para casa com o dever de amadurecer, erguer a cabeça e recomeçar.

Talvez não tenha sido nada. Talvez não seja nada. Poderia ter sido um sonho, mas foi realidade e eu que sempre disse não me arrepender dos meus atos fui desabrochando que nem flor quando perde o encanto.

Os meu pedaços, ou melhor, as minhas pétalas ficaram espalhadas por aí. Talvez eu as pegue, talvez as deixe serem levadas pela mesma brisa que me fez furacão ao ver o que vi.

Um dia posso reencontrar a minha forma de flor e desabrochar pra vida. Como a rosa que achou o seu cravo. Mas não acredito em fábulas românticas para mim. Sem melodrama, ok, mas isso novamente não. A solidão que senti ao ver a sua felicidade não foi tão grande quanto sentir a decepção pela não verdade que deveria ser contada. Que fosse jorrada pela sua boca ou soprada ao pé do meu ouvido.

Eu só queria a verdade!

abusando da minha sorte

Quando se acaba os “parabéns”, eu ainda me apago do mundo. Nem dou ouvidos ao “com quem será”. Já é claro pra todo mundo qual é o nome que vai ser cantado pelas vozes convidadas pra estarem nessa minha passagem pro meu novo ano. Teu nome nem combina tanto assim com o meu, mas você tem que confessar que já é tão comum falarem de nós dois que algumas vezes parece que estão fazendo alguma rima boba, até mesmo que nossos nomes são compostos. Não tenho motivos para outros pedidos. Meu único pedido quando corto o bolo ainda é que você esteja aqui no meu próximo corte. 

E a fitinha do Senhor do Bonfim, amarrada no meu tornozelo. Daquele jeito que parece tanto com a gente. Junto, firme. Apertadinho pra não soltar nunca, num dos poucos nós nesse mundo que não aperta. Tenho direito a três pedidos, mas prefiro que a força dos três seja aplicada em um só. Que você ainda esteja comigo quando eu desembarcar por essas terras mais algumas vezes. E que eu ainda possa ter o prazer da tua companhia nas viagens que eu queira fazer por este mundo.

Eu não tenho sonhos impossíveis. Quando a estrela cadente passar diante dos meus olhos (juro que eu ainda acredito que isso vá acontecer tá?) eu não vou pedir pra conhecer a lua ou andar sob as águas. Mas sim que eu possa debruçar diversas vezes na janela e olhar todas as formas variadas da lua do teu lado, isso eu acredito que tenho total direito de pedir.

Cada um tem uma forma de pensar, tem gente que acreditar que possa fazer vários pedidos sem foco, que algum vai acontecer. Vou te falar que até pode. Eu ainda acredito que se um dia eu realmente for ter tua companhia pra sempre, todos os meus outros sonhos deixam de ser pedidos e vão pouco a pouco virando uma consequência lógica.

Se der certo, tenho a total certeza de que até o final dos meus dias eu serei feliz. Talvez eu seja rico, talvez eu seja forte. Talvez eu fique pobre ou quem sabe eu me torne um gordo. Tudo isso passa. Tudo isso vai e vem, sem que eu não dependa de ninguém. Mas agora, acordar todos os dias pela manhã e encontrar com você do outro lado da cama, juro que eu vou fazer todo esforço do mundo pra não depender de ninguém. Mas se toda ajuda é bem vinda, eu vou contando com a sorte da forma que ela puder me ajudar pra te ter pra sempre.

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estrategicamente perdido

Você nem sabe o que eu andei fazendo esses dias, mas usei todas as minhas estratégias militares, que aprimorei em partidas de WAR. Bolei diversos planos infalíveis, deixaria o Pica-Pau ou o Cebolinha rangendo os dentes de inveja. Tracei minuciosamente uma forma articulada pra fazer o acaso, cruzar mais uma vez os nossos corpos por estas noites geladas da capital. Raramente erro as minhas coordenadas, mas vou confessar que você é diferente. Ainda me faz sentir o frio na espinha, como se fosse meu primeiro combate.

Leio e releio o roteiro dos teus planos e dos teus passos, procurando de alguma forma encontrar o teu ponto fraco. É desesperador demais ficar procurando um ponto fraco do nosso ponto fraco. É como se a gente só quisesse uma desculpa pra dizer que acontece com todo mundo. Nessas horas eu começo buscar inspiração em estrategistas vitoriosos em suas conquistas. Eles tiveram tanto confrontos e os venceram de formas diferentes. Deve ser realmente incrível estar sempre um passo na frente do adversário.

Mas vez ou outra, eu me distraio, me desarmo e com a guarda aberta fico apenas admirando você se aproximar. Senta do meu lado e faz aquele mesmo discurso clichê, que eu já estou cansado de ouvir, mas sempre volto a comprar. Dou colo pra tua tristeza, trato a tua ferida e enxugo a tuas lágrimas. Sem que eu preste atenção, te envolvo e te protejo. Espanto teus fantasmas e a cubro com o pouco de paz que me sobra. Seu ponto fraco não sou eu, mas pela milésima vez eu te aliviei dele.

Não me formei em matemática pra ser a primeira pessoa que você pensa quando quer solucionar os teus problemas. É tão claro, tão direto. Você ainda prefere que eu te mostre o lado bonito do mundo de longe. Enquanto eu ensaio para que o acaso me ajude a te mostrar as maravilhas do mundo comigo ao lado. Até que chegamos na hora em que você levanta da minha cama e sai. Atende ao telefone e responde as tais mensagens. O motivo das lágrimas que eu enxuguei agora te faz sorrir. Parece uma comédia na sua programação. Mas no minha é um enorme drama.

Junto as minhas armas no chão e recolho as armaduras. Volto para um ponto inicial e juro pra mim que não vou nunca mais tentar dominar aquele terreno que tanto quero cuidar. Sento na poltrona rasgada. Ligo a TV e tento colocar a cabeça em qualquer lugar que não seja você. Certas coisas nunca vão mudar e como o nosso filme favorito, mesmo sabendo como ele vai acabar insistimos em assistir. Ainda choro na parte do adeus.

Enquanto isso, na minha casa,  você encosta a porta da sala,
nem preciso dizer que está chorando, né?

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começando o nosso pra sempre

Larguei tudo o que eu tinha aprendido nessa vida quando você chegou sorrindo naquela sexta. A gente sempre pensa que o mundo já apresentou todo o tipo de gente.  Quando apareceu naquela noite exatamente pra esfregar na minha cara que o tipo de gente que eu precisava colocar na minha vida, era gente como você. De sorriso fácil, com o coração enorme. Desses que parecem que quanto mais gente entra ao invés de lotar fica mais espaçoso.

Eu tentei não falar muito naquela mesa, pedi diversas vezes para abaixarem o volume do rádio, só pra poder ouvir um pouco mais a sua voz. Até a hora em que você soltou seu cabelo, não sei se um dia te falaram isso, mas você deveria ser proibida de prender teus cachos. Contornam perfeitamente os traços do teu rosto e me fazem acreditar que eu ainda posso aprender a desenhar algo tão bonito quanto você.

Queria entender o motivo de quem escreveu a minha história demorara tantos capítulos pra colocar o seu personagem no caminho do meu. Talvez  já soubesse que todos os versos seguintes daquelas páginas seriam destinados pra ti. Incrível como a cada momento que nossos olhos se cruzam eu fico avermelhado. Você sorri como se tudo fosse proposital, até a hora em que  se levanta e vai dormir. Eu fico sozinho, ouvindo  o teu silêncio em todo lugar.

Amanheço num outro dia já te procurando. Sou assim mesmo, afobado, intenso. Parece que todos os meus livros só tem uma página a mais da que estou lendo. Não quero que ele acabe. Sinto saudades tuas e nem te conheci. Sento na borda da piscina e afundo meus pé, a falta dos óculos me faz contrair os olhos. Até que sua sombra me protege. Seu sorriso me dá bom dia, me oferece teu copo e pergunta se eu dormi bem. Lembra dos capítulos que a gente tinha? Então, nesse eu já estou te amando e você nem sabe.

Minha tarde foi dividindo você com a atenção de todos. Ciúmes das histórias que contavam de ti e da forma que você gargalhava. Apreensivo ouvia suas viagens pelo mundo, olhos brilhando e vidrados numa vontade fantástica de simplesmente viver a vida do seu lado. Você se enrola na toalha enquanto sai da água, diz que vai arrumar suas coisas pois precisar ir embora. A tal saudade do que eu não conheço voltou. O amor ficou confuso e o ciúme quase me cobre de perguntas que eu nem sei como começo a fazer. Você dá tchau pra todos, me cruza no caminho da porta e me abraça. Diz adeus e que foi um prazer me conhecer.

Meu amor, o prazer é todo meu, só vai começar a ser seu, quando eu conseguir te fazer viver metade do “felizes para sempre” que eu já escrevi pra nós dois.

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chovendo dentro dela

Escrevo pra você ao som da chuva, não precisa me conhecer tanto pra saber que eu adoro quando ela chega à minha janela. Lembro-me de quando nos conhecemos naquele fumódromo apertado na Augusta. A gente se escorava quase rente à porta pra chuva não apagar nosso cigarro. Eu sempre falando muito, falei tanto, que acabei me esquecendo de tragar meu cigarro até que ele apagou. Te pedi um isqueiro. Você gentilmente me emprestou. Emprestou também um pouco da tua atenção e direcionou seus olhos castanhos pra dentro dos meus durante o resto daquela noite.

Não tem como não ser clichê, mas você era desde o começo, diferente das outras chamas que já me foram oferecidas. Diferente de outras tempestades que eu já tinha passado. Sem pressa pra ir embora. Sem pressa pra molhar. No meio de todos os trovões que iluminavam brevemente a noite para depois desaparecerem, você simplesmente se manteve ao meu lado constantemente. Foi a luz presente naquela noite escura. Papo gostoso, daqueles de malandro que sabem exatamente onde a água daquela nuvem vai cair. Acendemos mais um cigarro, bebemos outros copos e então esperamos a conversa ter fim quando o uísque fez efeito.

 No caminho até o seu carro, você me cobriu com a blusa que trazia amarrada na cintura. Eu nem ameacei recusar e você já envolvia meus ombros com aquele pano xadrez macio. Correu um pouco na minha frente e abriu a porta do passageiro. Enquanto você corria pela frente do carro até a sua porta eu limpava os pingos de chuva que corriam pela minha perna. Meu pensamento acelerado ainda dúvida do que estava acontecendo. A única coisa que queria era que a aquela chuva não parasse. Que você não saísse do meu lado e que ninguém me atrapalhasse nas próximas horas.

E como se fosse alguém que nunca tivesse visto chuva na vida, eu simplesmente me deixe molhar. Deixei a chuva lavar aquela minha alma cansada. A água bater pra revigorar, pra limpar as feridas passadas que sempre fizeram com que eu evitasse outros banhos e outras gotas. Molhei-me muito tempo com a água da mesma nuvem, molhei tanto que me acostumei. Sem esforço cada gota tua percorreu um vazio dentro de mim. São algumas palavras molhadas para agradecer a chuva que caiu dentro de mim.

Por pelo menos naquela noite ter me transbordado e me mostrado no sentido literal que eu posso me completar sozinha. Mas que uma companhia com essa barba por fazer e esse ótimo gosto pra vinhos, sempre são bem vindas. De coração, mesmo. Obrigado por esse teu temporal ter passado por aqui.

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crianças e cicatrizes

A gente não se falou nos últimos dias. Aliás, os muitos últimos dias pra falar a verdade, foram tantos intensos que se juntarmos, já podemos chamar de meses nessa distância batizada de saudade. Dia desses, achei alguns trechos das cartas que eu nunca lhe enviei. Juntei todos eles e tentei formar uma coisa só, para que eu pudesse te enviar. Foi impossível. Cada parágrafo era um conto diferente. Li contos de fadas e histórias de terror. Em todos eles, a gente era feliz junto e nos separávamos no final.

Dos presentes que já me enviou, a bola de cristal e seu manual de instruções nunca chegaram. Nenhum dos dois. Nem qualquer coisa que me desse uma direção das tuas vontades. Aceitei sua imaturidade fantasiada de silêncio, enquanto minha paciência apostava corrida com a internet do meu celular. De qualquer forma querido, antes você tivesse me dado um kit de primeiro socorros, ao invés destas pelúcias. Depois do adeus eles só juntam ácaros pelo meu quarto e lembranças do brilho dos teus olhos. É cruel.

Andei usando coisas que usei em outros casos parecidos com o seu. Eu acreditava que essas histórias só aconteciam com as minhas amigas. Tolice da minha parte, claro. Tem certas coisas nessa vida, que a gente só entende de verdade quando sente na pele. Essas coisas que pegam a gente pelos braços e chacoalham. Coisas que vem sem que a gente perceba e nos desregulam completamente. Tiram a gente do trilho, pra colocar no eixo. No eixo deles. Mistura a tua bagunça na minha, desova teus problemas em meu colo e some. Nunca fui boa com adivinhações nessa vida, mas querido, você merece ser estudo.

Deveria para que soubessem que as pessoas carregam feridas. E que feridas, sejam elas qual for, podem ser abertas. Que existem pessoas que gostam de se machucar. Que fique claro, esse não é o meu caso. Portanto respeite minha opinião como eu ouço a tua. Seu ponto de vista unilateral, ainda acredita que as marcas do meu corpo mostram o quão frágil eu sou. Querido,  cicatrizes são as lembranças das minhas dores mais intensas, cravadas na minha pela para que seus olhos enxerguem o quanto eu ainda posso suportar. Respeite minha coluna reta mesmo depois de me curvar tantas vezes sem motivo para ti.

Meu bem, seja lá onde você estiver eu apenas desejo que você pare de machucar pessoas sem necessidade alguma. Não sei se essa tua mania ainda lhe acompanha, mas ela sempre foi péssima. Sua arrogância é sua maior ferida, mas sua prepotência não deixa enxergar. Como conselho, peço que deixe sua barba crescer, ligue nas noites frias tentando esquentar com a voz, é realmente fofo . Você tem um ótimo coração, só é infantil. Uma pena, mas acontece. Crianças não conseguem entender quando suas brincadeiras machucam. Até a hora em que se cortam. Fere. Formam cicatrizes. Para então não brincarem mais com aquilo que um dia a machucou.

Se cuida (mesmo)

Beijo

autor_jorge

menina do coração valioso

Ela é só uma garota em busca da sua essência. E eles não conseguem entender o quanto seu coração é valioso e confuso. Seus sentimentos se confundem com suas vontades nebulosas de desejo e insegurança.

Ela faz o possível para evitar que erros passados assombrem o futuro de seu pobre coração. Mas eles perseguem o aroma doce que sai dele como se fosse um doce veneno que vicia.

Não corra atrás porque cansa e a sola do seu sapato irá se desgastar. Descanse seus pés descalços em uma bacia de flores ou na água salgada do mar. Que Iemanjá e seus orixás tragam através das ondas e do vento o que for seu de merecimento! Tenha calma que um dia ele te encontra.

autor_helena