me perdoa

Tô juntando as minhas coisas e partindo pra sua casa. Não vai ser amanhã nem depois. Vai ser agora. Não me importo que ainda seja noite de terça. Nem ligo se o tempo ainda está em dúvida se chove ou faz nevar. Hoje eu preciso olhar os seus olhos antes de dormir. Preciso fotografar o contorno dos teu lábio na minha memória, pra poder sorrir durante o dia.

Dois corações congelados pelo tempo, se encontrando em mais uma madrugada fria. Conversavam rapidamente sempre que se viam em um abraço. O seu contava, que iguais ao meu já existiram muitos. O meu sorria e respondia que todos os outros corações iguais ao seu, na verdade, tinham medo dele. Frio demais esquenta. E fazia muito tempo que eles não sentiam um pouco de calor.

Os problemas começaram quando o calor vinha por menos. Quando o calor percorria o corpo, sem os corações se encostarem. Quando as mãos se encaixavam naturalmente e não eram mais frias. Quando eu abria a porta do carro e você sorria sem jeito. Você agradecia quando eu entrava no carro, elogiava a minha roupa e até a forma que eu cortei o cabelo. Eu estava gradativamente me enforcando na minha própria língua. E ela estava quase sempre enrolada na tua.

Eu era o exemplo perfeito de todas as tragédias das suas amigas. Você um lindo exemplar de todos os problemas que os meus amigos já choraram no meu ombro. Tragédia anunciada. Uma paixão inesperada. A gente dava sempre um passo pra trás juntos, morrendo de vontade de caminhar de mãos dadas. Então fomos honestos um com o outro, só para poder mentir pro nosso ego todo dia. Ou seja, dois babacas apaixonados, com medo de amar por covardia.

Eu to aqui pra pedir uma chance pra te machucar. Só pra poder tratar a sua ferida. Pra poder te irritar num sábado de manhã e ouvir você reclamar da minha comida numa noite de quinta. Tô com um medo ducaralho de perder você pra vida, sem ter a chance de pelo menos um dia dela te chamando de minha.

Desculpa pelas dores que eu não te dei ou pelos erros que eu não cometi. Me atrapalhei nas folhas de um manual idiota que eu mesmo escrevi. Evitei amores novos por problemas antigos. Criei barreiras enormes e então você apareceu pra me lembrar do detalhe importante que eu esqueci. Que amor é quando a gente consegue gostar do outro com tudo que ele tem de errado, não são só momentos bons que fazem a gente sorrir. Você é o mais perto que eu já toquei de um sonho, agora tô aqui apaixonado, arrependido e assumindo que eu tô errado em ter te deixado partir.

Me perdoa?

12004033_10206105738495582_7999925747990208394_n

autor_jorge

não envergonhe a minha saudade

Ontem eu realmente quase te liguei. Mas foi muito quase. Cheguei a chamar sua melhor amiga, comecei uma conversa boba mas mudei o rumo do papo pra ela não perceber. Eu ia pedir seu número. Em um dos meus surtos de imaturidade eu apaguei e prometi que não iria usar nunca mais. Consegui não te ligar ontem, mas isso só deixou claro uma única coisa. Eu ainda tenho algo entalado na garganta pra pra lhe dizer. Só não sei o que é.

Pode ser muita coisa, afinal eu lembro de cada detalhe do seu sofá. Aonde ele fica na sua sala, quantos palmos ele fica distante da TV e qual é o seu lado preferido dele. Fico com o pensamento quase todo dia lá. Na verdade, coloquei meus pensamentos em qualquer um que possa estar sentado nele na minha ausência. Eu te faço companhia sem que você repare. Aliás, você não reparar a minha presença foi um dos principais motivos que me fez partir, pra te falar a verdade.

É que chegou uma hora que era muito mais do que carne. O teu cheiro já era cereja do bolo do meu perfume. Teu telefone ficava sempre nos meus contatos recentes. Mas do dia pra noite, sua cabeça parecia que não pensava como a minha. O mais assustador disso tudo, é que eu seguia o roteiro que você mesmo tinha proposto. Do dia pra noite, você virou uma pessoa completamente diferente do que já vi. Por mim, se eu soubesse exatamente quando foi, eu voltaria naquela noite e amarrava a lua. Diria que ela não tinha o direito de ir embora e levar aquela pessoa que você fingiu ser.

Honestamente, talvez eu até aprendesse a gostar de quem você se tornou. Ou quem você realmente é. Sei lá. Mas aquele seu último papel era realmente interessante. Você tinha um enorme talento pra atuar naquele enredo que você mesmo criou. Eu nunca pedi aquela alegria que você despejou no meu peito. A gente não machucava ninguém, nem um ao outro. Não entendi até agora em qual lua você se foi.

Eu nunca acreditei em amores. Nem que nesse tal de “pra sempre”. Mas gostava de sentir falta daquilo que você foi. Era diferente de tudo que eu já tinha experimentado nessa vida. Fico parado olhando você caminhando convicta numa na direção errada. Fico perplexo, sem conseguir acreditar que foi você mesmo um dia me mostrou qual era o caminho certo. Parece que você não conhecia metade das coisas que você falava, por tomar as atitudes exatamente opostas do que pregava ao meu lado.

Menina, ninguém precisa voltar. Mas isso está longe de ser um pedido de desculpas ou de regresso. É só um pedido de respeito. Se não for com o teu corpo, que seja com a tua história. A que você mesmo contou para os meus amigos. A que gente rascunhou em quatro mãos. Faz de conta, só que agora longe do meu colo, que você é aquela menina que conhecia o mundo. Que não se prendia na futilidade e que descia pra buscar a pizza de moletom por ser mais confortável.

Angústia é como eu batizei o nó que fica entre a minha garganta e o coração, toda vez que vejo você envergonhando a saudade que eu tenho de ti.

Se ainda houver tempo, por favor, pare que está feio.

Não pra mim.

Pra você.

Mesmo.

12038410_10206065676654061_4622336102335247217_n

 

autor_jorge

tantas mulheres

Lívia não tem namorado, nem ficante, nem amante. Lívia já conheceu muitos homens distintos. Altos, baixos, morenos e ruivos. De olhos verdes, de cabelos encaracolados, de gosto musical duvidoso e de gosto literário compatível.

Lívia já pensou estar apaixonada por um cara que a traiu, já traiu um cara que achava amar e já foi humilhada enquanto chorava pedindo pra voltar.

Lívia cansou de relevar a opinião alheia e aprendeu, a duras penas, que sua felicidade depende única e exclusivamente dela. Lívia passou a apreciar companhias leves, bem humoradas e que a arrancavam sorrisos, não o rímel dos cílios.

Ana sempre foi uma menina segura e feliz, um dia conheceu Luiz.

Luiz era um cara manipulador e fingido, transformou Ana em alguém que ela não reconhecia ao olhar no espelho. Quando errava, Luiz fazia te tudo para sair ileso e, no final da briga, Ana quase implorava desculpas de joelhos. Quase 2 anos se passaram até que ela descobrisse que amor é diferente de dependência.

Mandou Luiz crescer e se afastou do infeliz.

Hoje, Ana sorri como sempre foi antes dele e reafirmou que amor mesmo, de verdade, duplica a felicidade.

Fernanda esbarrou em Marcelo quando saía do banheiro da boate, Marcelo sorriu e se desculpou. Ela também sorriu. Foram até o bar e começaram a se conhecer. Depois de alguns minutos, rolou um beijo pra valer. A química fluía de forma leve e natural, saíram da balada para o motel. Lá foi melhor que o beijo, parecia o encaixe perfeito.
No fim de tudo, depois do prazer, Marcelo levantou e começou a se vestir. Parecia ter pressa de sair logo dali.

– Calma – disse Fernanda. Podemos dormir aqui!

– Não curto mulher fácil, melhor a gente ir!

Fernanda sentiu seu estômago afundar e na mesma hora falou:

– Desculpa amigo, mas aqui não tem mulher fácil não. Sou dona do meu corpo, dos meus instintos e dos meus desejos, se você gosta de mulher que se priva para passar impressão de boa moça, você é só mais um trouxa. Ah, mais uma coisa, mulher, MULHER e não menininha, você pode ter por uma noite, mas na vida você nunca vai ter. Chora mais, bebê!

Giulia se apaixonou por Caio na faculdade. Ela era bixete, ele veterano. Caio era bonito, simpático e romântico. Pediu Giulia em namoro num dia de agosto, com flores, chocolate e cartão. Giulia nunca pensou em dizer não. Ás vezes Caio dizia que ia pro futebol e ia pegar outras meninas. Na faculdade, quando Giulia passava, percebia que as pessoas diminuíam o tom de voz e riam.

Aquilo começou a deixar Giulia intrigada. Por que todos riam quando ela passava?

Um dia, enquanto Caio estava no futebol, resolveu passear com o Brad na praia. Ao passar pela barraca do coco, viu a língua de Caio dentro de uma boca conhecida. Era uma das meninas que quando Giulia passava, ria.

A reação dela foi extremamente sensata, deu as costas e foi com Brad pra casa. Mais tarde, no mesmo dia, Caio foi até a casa da namorada. Ela estava com os olhos cheios de lágrimas e, sem respirar, começou:

– Espero que você seja feliz sem mim, espero que tudo tenha valido a pena. Espero, inclusive, que você nunca sinta o que estou sentindo agora, muito mais do que uma traição emocional, foi uma traição pessoal. Lealdade, já ouviu falar? Ninguém é obrigado a namorar, casar, ter filhos. Ninguém é obrigado a estar ao lado de alguém que não respeita, ou pior, que finge respeitar. Agradeço pelo tempo que me fez feliz mas, agora, tudo parece mentira. Meu amor próprio me impede de relevar tudo isso. Siga seu caminho. Sozinho.

Caio foi embora sem saber o que dizer e chorou ao se dar conta da mulher que acabara de perder.

Gabriele adora vestido curtinho e salto alto. Sempre que sai a noite começa a se arrumar 3 horas antes. Passa maquiagem, batom vermelho, perfume adocicado. O mais difícil sempre é escolher o sapato. Tem mais de 50 pares no seu armário.

Ao chegar na balada era logo separada pelos homens na categoria “pra comer” e pelas mulheres na categoria “puta”. Ninguém queria saber o que existia por trás do decote. Ninguém sabia que Gabriele estudava, trabalhava e cuidava da mãe doente. Era irrelevante saber que Gabriele lia Dante, Foucault e Adélia. Que amava Chico e Los Hermanos e que estava sempre sorrindo e feliz!

Gabriele é mais uma menina julgada pelo que se vê, pelo que se diz. Ninguém tem moral pra chegar junto e bater papo, trocar ideias, enxergar além.

Por isso Gabriele não saía do rolê com ninguém.

Alice, Paula e Isabela se conheceram no banheiro de um open bar. Em 2 minutos começaram a conversar, em 5, já eram amigas de infância. Alice descobriu que já pegou o ex da Paula, Isabela terminou com um cara que já foi apaixonado pela Alice.

– Mas que ovo de cidade – exclamaram as três, e riram.

Riram por saber que homem nenhum merece causar intriga entre pessoas que nem se conhecem, que não tem nenhum motivo pra se odiar.

Marcaram um barzinho pro dia seguinte e descobriram que tinham muito mais que histórias pra contar.

É preciso muita coragem para estourar a bolha e abrir os olhos pro mundo lá fora, para cada pequeno detalhe carregado de significado, para cada atitude repleta de importância.

Separar, ponderar, permitir.

Escolher o que fica, o que vai, e o que não pode nem pensar em existir.

Nós somos todas as mulheres, todas as mulheres ao redor.

Uma mulher. Você. Eu. Nós. Tantas.

Abre mão da segurança da beirada e mergulha.

A superfície atrai, a profundidade encanta e desnuda.

Vai, tô contigo, a vida é tua!

12003928_10206039238593126_6976880552453239678_n

autor_kamila

chame do que quiser

Não sei se você sabe, mas adoro ouvir teus contos. Ainda choro de rir com as suas histórias e me pergunto se a vida não é um filme onde realmente você é atriz principal. Essa maneira de levar o mundo tão leve e de evitar que os problemas façam peso no teu sorriso. Além de uma novela mexicana de um horário fútil, raramente essas coisas acontecem de verdade. No seu mundo o bem nem sempre vence, nem por isso você deixa de acreditar que está no caminho certo. Pode me chamar de platéia, se achar melhor.

Eu falo de ti pra todo mundo, mesmo assim eu sei que você custa a acreditar. Mas pra cada um eu conto de um jeito. É uma forma de vender teu peixe pro mundo, sem que ninguém possa comprar. Conto pra fazer ciúme nos outros. Pra fazer olhos que nunca cruzaram com o teu, terem o direito de se apaixonar. Conto pra deixar com a pulga atrás da orelha, quem diz que já encontrou a felicidade mas nunca te ouviu gargalhar numa mesa de bar. Pode me chamar de fã, se quiser classificar.

Vez ou outra tento entender como corta fundo dentro do meu peito ver você chorar. Como parece  que foi uma perda minha quando a felicidade resolve escapar dos seus dedos. Queria poder te dizer tudo isso, sem que você soubesse que fui eu que disse.  Queria te contar um segredo meu, sem que isso saisse da minha boca. Não que me falte palavras pra secar as  tuas lágrimas. Mas eu morro de medo de não falar o que você quer ouvir. Pode chamar isso de timidez, eu vou entender.

Você me surpreende todo dia. Olho todo o mundo ao meu redor e ainda são seus olhos que me chamam a atenção. O apelido que você me deu é quase meu sobrenome. O seu telefone é o único que eu tenho na ponta da língua. Pra responder de prontidão quando meu coração gritar por algum resgate de emergência. Ainda é a sua voz que eu preciso ouvir, toda vez que me esqueço de acreditar em mim. Pode chamar isso de encanto, se for conveniente.

Você desprende todas as minhas armaduras e me deixa ser leve. Eu te conheço tão bem, que até atravesso suas frase e as completo como se fossem minhas. Caminhamos de mãos dadas sem vergonha do mundo. Assistimos o sol e a lua trocarem de turnos sem deixar o nosso assunto acabar. Mas se ele acabar, não importa. O seu silêncio muitas vezes é exatamente tudo que eu precisava ouvir. Sinto saudades suas todos os dias. E olha que eu acabei de te ver sorrir. Pode chamar isso de amor, pois eu acredito que é.

ttttr

 

autor_jorge

 

eu, você e mais

Quem acha sexo uma coisa simples, normal ou algo assim, nunca te viu em cima de mim.

Nunca puderam olhar-te, olhos fechados, entre suspiros e um movimento de vai-e-vem constante.

Não sentiram o suor pingar quente, salgado, nos lábios, cabelos e testa. Uma fresta da janela aberta, um tanto de ti sob minhas unhas.

Queria ofertar pro mundo esse invadir poético.

Teu sexo, meu sexo, nosso êxtase.

Línguas com sede não de água, ou coisa equivalente, sede daquele líquido que escorre da gente.

Suor, saliva, sêmen.

Minhas pernas tremem, você sorri.

Segura com força no meu quadril, isso, assim, agora vem devagarzinho, com cuidado, com jeitinho, repousa teu corpo sobre o meu, é, quero sentir teu peso, cada músculo, cada milímetro, quero perder o ar.

Agora me olha nos olhos, morde minha orelha, meu pescoço, enquanto eu solo nas tuas costas feito guitarra. Travo as pernas, enlaço os pés, te cerco de mim por todos os lados, posso ser o que você quiser.

Imagina, faz cenário.

Me perco no cheiro que teu corpo exala, robusto, amadeirado.

Ainda não inventaram poesia mais bonita que meu corpo colado no teu, despido de roupa, de culpa, de trejeitos sociais.

Eu e você, dois animais.
Amor, orgasmo, e mais…

11990506_10205984110894968_7537400124057242779_n

autor_kamila

parágrafos em verso e prosa

Não foi amor a primeira vista, mas meus olhos encontraram o seu! Prefiro te surpreender daqui um ano com essa confissão, do que no próximo instante. Nunca se sabe quando vai ser! Não é perfeito para você, mas para mim é do nosso jeito, do meu e do seu jeito! Nunca espere ganhar de mim um buquê de flores, mas de mim tenha certeza que te vejo de longe, dou risada com teu riso, suas piadas sem graça. A sua graça de menino!

Não sou boa com as palavras mas sou boa com a palavra escrita, com a palavra certa, concreta! Confuso?! Sim sempre vai ser! Simples em alguns momentos em outros não. Não espero que você compreenda, nem todo mundo quer ser compreendido. Viva que eu te vivo do meu jeito. Você não me vive do seu jeito?! Então estamos combinados. Sem papel assinado e sem hora marcada!

Espere tudo de mim! Tudo vai acontecer para te mostrar para o que vim nesse mundo, de pouquinho em pouquinho! Perder a graça é a coisa mais sem graça que alguém pode achar da vida, de mim, de você. E se não acontecer deixe chover. Mas não deixe o que foi bom, o que foi puro! Sim foi sincero.

Algumas pessoas pedem licença e outras não! Algumas conquistam, outras desistem, outras persistem! Que bom que você existe. Eu sei do hoje. Quero o amanhã sim, mas imagino ele de vários jeitos. Com ou sem você! Pode crer.

A felicidade só acontece quando compartilhada. O essencial é invisível aos olhos, como diria um pequeno príncipe que quase te emocionou com sua sabedoria. Aos ouvidos também. Mas o olhar não! O olhar é essencial, ele mostra a verdade, o medo, o amor, o carinho! Acredite.

O amor não tem forma, ela gosta dele e tá acabado. Ele gosta dela e tá confirmado. Até quando? Até hoje. Amanhã? A gente começa tudo de novo! E se não for…deixe estar!

lenina

baila comigo?

Eu vou te levar comigo, não se preocupe.
Tome o tempo que precisar, coloque a cabeça no lugar e se prepare pra dançar.

Dia desses imaginei nós dois numa sala sem móveis. Havia uma grande janela de madeira por onde entravam alguns tímidos raios de sol. O dia anunciava seu fim em tons de laranja e nuances cor de rosa. Próximo à janela, sobre uma mesinha redonda, repousava um gramofone fúlgido, que como se já estivesse programado, começou a tocar um tango de Gardel.

Nos olhamos e senti sua mão deslizar ao longo da minha cintura, enquanto a outra tocava meus dedos.

Olhos fechados.

Um passo pra direita.
A cada nota nossos corpos se tocavam e se envolviam, abrasados.
A música seguia entre lamentos e confissões: “Acaricia mi ensueño
el suave murmullo de tu suspirar…”

E teus olhos negros me invadiam como se nada fosse desconhecido, adentravam minha íris e desvendavam meus segredos mais intrínsecos.

Tua testa encostada na minha e o som da tua respiração ecoando em meus ouvidos. Mais bonito que a música.

Teu nariz percorreu minha face e desaguou na minha clavícula nua..
Me respira, se embriaga de mim.

“El día que me quieras no habrá más que armonía…”

Não, no dia que me quiseres, para sempre, serei tua.

Por enquanto dança, só dança!
Nosso corpo vai dizer o que tem que ser. Podemos escolher as palavras, a forma como são ditas e a entonação precisa, mas não podemos controlar nossas sinapses, não podemos controlar o arrepio

.
Sente o suor em minhas mãos, sente meu corpo tenso, sente minha falta de ar.

Sente meu desejo, minha gana pela tua língua, minha ânsia para te amar.

Escuta meu coração, ouviu, ele parou de bater só pra sentir o teu tocar!
Pegue o tempo que precisar, mas agora, deixa a cabeça aqui, nesse lugar!

Vem dançar?

10885328_10205934610177481_6551088786710302086_n

autor_kamila

você nas minhas fotos.

Errei nas fotos.

Na ordem em que eu fui vendo. Começava com umas fotos minhas, meio bobo, cara de quem não dormia muito bem. Olhos fundos e os óculos tentando esconder meu cansaço. Eu vendia uma falsa alegria, aquela que eu ouvi pela primeira vez na vida vindo da tua boca. Você me mostrava como coloria as paredes dos seus finais, quase sempre com um bico, envelopado por uma bonita embalagem sob um salto de tom escuro. Sua incrível habilidade de sofrer sem demonstrar.

Logo depois de algumas paisagens, que guardei tentando esquecer o teu abraço, vinha a nossa última foto. Que me desculpe o fardo de perda, mas nossa recordação final é a nossa mais bonita. Já adormeci várias vezes olhando pra ela. Acalma a alma. A maldade do tempo que desregulou nossas agendas afastou a gente, que tava tão bem. Só queria aproximar o máximo do máximo daquilo que podíamos aproveitar. Se eu soubesse que aquela seria a nossa última foto, eu parava de tirar fotos só pra não chegar nosso final. Que aperto você me dá no peito menina.

Quando eu volto as coisas são piores, a gente não aparece mais um com o outro. Pois tudo que aparece são as coisas que eu quero guardar na mente por, naquele momento, só ter olhos pra você. Uma sequencia de fotos sem você onde, só de olhar, eu sou capaz de lembrar o teu perfume. Era a tua ausência sendo presente. Que nem você tá agora, só que em forma de saudade. Engraçado como eu me lembro de tudo, sem que a gente aparecesse. Fotografamos as nossas paisagens. Nossos olhos. Para que todo mundo pudesse enxergar o mundo como a gente enxergava. Era tudo mais colorido com você. Sem efeito.

Depois de algumas mensagens românticas, fotos de alguns planos que a gente traçou e nunca cumpriu, cheio de gargalhadas eu chegava numa sequência de caretas. Infinitas. Algumas posições escrotas foram passadas pra trás. Algumas músicas. Nossa música. Aliás, a gente nunca dançou a nossa música. Fantasias. Poses. Qualquer idiotice nossa que a gente julgava como digna do nosso sorriso. Sorríamos por coisas lógicas. Você sorria pelo céu ser azul. Eu sorria por ser seu. Simples, né?

Quando você aparece pouco, eu lembro por ser bem o nosso começo, eu queria tirar foto de tudo. Pra poder contar pros meus netos que, aquele dia da minha vida, eu tive a felicidade de passar com você. Mas ainda era tímido de deixar você reparar que eu estava te guardando. Medo de tomar uma bronca no comecinho de um eterno fim que nunca chegou. Imagina que azar eu teria se você resolvesse me proibir de te olhar. Já te falei aqui com outras palavras, tudo era meio sem cor até você aparecer. Você é culpada pela minha melhora.

Volto um pouco mais, paro de enxergar o teu sorriso. O meu continuava firme lá. Era antes de tua chegada. Eu sabia ser feliz antes de ti. Você só me ensinou a ser mais feliz ainda. Eu gostaria de lhe agradecer por isso. Por ser a cereja do bolo de um momento tão bom. Por nem sonhar que você é um pontinho de equilíbrio que eu tenho. Um espelho, pra respirar e ter paciência. Que loucuras acontecem e, mesmo assim, uma hora vai passar. Antes de reclamar ou ter preguiça, lembrar quanta gente queria estar no nosso lugar.

Aprendi muito com você, pequenina.

Se cuida.

essas fotos

 

autor_jorge

sede ao pote

Você entrou pela cozinha toda apressada. Numa confusão que só te deixava mais bonita. O cabelo caindo sobre o rosto, que você tentava tirar com um sopro. As mãos não largavam o celular. Dava pra ouvir as batidas do seu coração sem precisar me aproximar de você. Uma luta interna acontecia no seu corpo. Você não sabia se falava, se pulava ou se respirava. Criou coragem. Ou impulso. E cuspiu de uma vez: Consegui, vou embora!

A notícia que não te fazia parar de sorrir, entrou no meu organismo com a mesma delicadeza de um soco. Acompanhada de um perfume triste e um gosto amargo. Completamente irrelevante, sua alegria era realmente contagiante. Engoliu a minha tristeza. Ou só a cobriu com uma máscara. Me abraçou, me deu um dos seus últimos beijos molhados e me olhou sorrindo. Que inferno, como você é linda. Quase automaticamente eu sorri pra ti, também.

Olha como o mundo é curioso, você chegou aqui na porta da minha casa cheia de desconfianças. Eu, hipócrita que sempre fui, caminhava quase como um pavão. Peito estufado e olhar firme no horizonte. O que estava acima eu iria alcançar. Abaixo não me interessava. Só queria sua mão entrelaçada na minha e sua visão olhando sempre pra frente ao meu lado. Por falar na sua mão, deveria ter segurado ela mais vezes antes de te soltar pra sempre.

Foi nesse momento, que o mundo começou a girar. Bem mais depressa do que o comum, verdade seja dita. Você confiou tanto na minha sombra, que em poucos dias chamava de sua. Que seus programas chamava de nosso. Parecia que você me conhecia de outras vidas. Ou que a gente só tinha esse restinho nessa vida pra poder aproveitar um ao outro. Eu passei um pouco dessa minha confiança pra você. Misturei no teu café, até virar hábito. Tentei tirar tuas reclamações e transformar em suspiros. Tentei tirar seus medos e transformar em sorriso. Sem querer, consegui os dois.

Foi naquela última taça de vinho, que me despedi de nós dois. Com um sorriso irônico, aproveitava cada gole, sem pressa. Sem querer me importar com o amanhã. Curtindo cada gota. Você bebeu tudo, gole atrás de gole. Quase engasgou. Nem sentiu o gosto. Mas matou a vontade. Beber é uma forma da gente enxergar a vida. Quem costuma degustar rápido, raramente sente o gosto de verdade. Nem sempre mata a sede. Devagar demais, a gente aproveita cada gostinho, mas se demorar muito a gente vai sentindo o sabor mudar. Você me tomou num gole só, eu degustei devagarinho, até você esquentar. Quando a taça acabou você tinha matado a sua vontade. Eu ainda queria me deliciar. Não importa quantas taças a gente tome. Elas sempre vão acabar, mas nem sempre vamos ter outra garrafa pra não parar.

Você voltou pra sala pulando. Cantando sua música tema, pra variar. Eu voltei pra minha louça. Pras minhas taças. Que a vida me ensinou a não parar de lavar.

Um brinde pra tua saudade. Que eu vou beber pra esquecer. Que vou beber pra lembrar.

Que foram do jeito que tinham que ser. Pra gente não começar a trincar.

Quase te amei.

Obrigado por me lembrar o que é isso.

11872044_10205881914740128_

autor_jorge

é a minha vida

Você é realmente mais do que eu havia pensado.
Desculpa, mas depois de tantos tropeços passei a não confiar em pedras.

A verdade é que durante a noite, sentada á sua frente na mesa, tomando aquele vinho exato, só conseguia fantasiar teu corpo despido.

Sentia leves arrepios quando, olhando teus lábios, imaginava-os dançado sobre meu corpo…

Enquanto esperávamos pelo prato principal eu me perguntava se você desconfiava que eu estava de lingerie nova. Será?
Parece desesperador, mas não era.

Era cuidado. Cuidado para que fosse assim, irretocável.
Quem sabe eu nunca mais te veja.

Quem sabe um dia eu acorde ao seu lado todos os dias.
Na verdade, nenhuma das duas opções me enrubesce ou me brilha os olhos.

O que me excita é esse momento, o agora.
Sobremesa.

Nota sobre mim: Não ligo para doces tipo chocolate e chicletes. Ligo para doces do tipo petit gateau e banoffee.

Depois do delicioso jantar minha imaginação criou asas – não expectativas – apenas rasantes mais abstratos.

Você abriu a porta do carro e minha vontade de abrir teu zíper aumentou consideravelmente.

Aquele momento em que chegamos na porta da minha casa e ficamos sem saber o que dizer enquanto nos olhamos se aproximava. E eu esperava que você me agarrasse e me beijasse como se fosse morrer amanhã.

Chegamos.

– Obrigada pelo jantar e pela companhia, foi incrível! – Silêncio. Você é incrível! – Ele disse com os olhos brilhando.

– Foi incrível mesmo! Eu que agr…. – minha frase ficou perdida no tempo para sempre, nunca mais será dita, nunca mais terá o mesmo timer, o mesmo efeito.

Mas aquele beijo…

Por um momento eu esqueci quem era e onde estava. Só conseguia sentir o movimento daqueles lábios sobre os meus, aquela língua desbravando minha boca, do céu ao fundo, a barba percorrendo meu pescoço e nuca e minha respiração perdendo o controle.

Abri a porta do carro sentindo um leve desespero para chegar o mais rápido possível em algum lugar abrigado de olhos alheios.

Você veio imediatamente atrás de mim e, enquanto eu procurava a chave na bolsa, tuas mãos invadiam meu vestido por baixo e por cima. Mal conseguia abrir os olhos quando senti a textura do meu chaveiro entre os dedos, rapidamente abri a porta e você a fechou com o pé enquanto soltava meu cabelo.

Caímos no sofá e ao mesmo tempo que eu desabotoava tua camisa você tirava minha sandália. Te segurei nos ombros e te virei no sofá, tirei teu cinto e abri o zíper.

Cueca boxer preta, perfeitamente discreta e infiel, já mostrava que você me queria. Estava firme, rijo, forte. E eu estava faminta. Queria você.

Foi a noite mais bonita e incrível e liberta da minha vida.
Como se tudo que nos recobre e esconde tivesse deixado de existir.
E permanecemos acordados até o dia amanhecer.

Eu poderia ter feito jogo, ter escondido minhas vontades e preservado meu desejo. Eu poderia ter perdido isso, não ter vivido essa noite, não ter corrido o risco…

Sim, eu poderia, mas é a minha vida.

Nada me permite maior liberdade do que meu poder determinante de escolher pra onde ir.

Para quem me entregar.

Com quem dormir.

No dia seguinte você me ligou e me convidou para outro jantar.

Obrigada por não me deixar em dúvida sobre nada e, mais que isso, por reafirmar minha fé.

Só precisamos parar de enfeitar quem não tem cor.

A gente só precisa se encontrar.

A gente só precisa de amor!

11880403_10205862721100299_4906564681336008574_n

autor_kamila