não faz assim, por favor

Você sabe que você está completamente errado. Sabe também que não era esse o combinado, que você fugiu totalmente do roteiro desse gênero de filme. Você tem que estar totalmente ciente de que tudo isso que está acontecendo é uma completa culpa sua, não minha, totalmente sua. Espero que agora partindo desse princípio, você possa enxergar que esse lado da história está completamente perdido. Que não sabe nem como começar a escrever essa carta, que sente um embrulho enorme por não saber nem como fazer com que ela chegue nas suas mãos. Que esse lado da história começa a rir sozinha quando pensa que o relógio tá quase marcando a hora de você sair do trabalho e responder as mensagens instantaneamente. Que esse lado da história tenta guardar os tipos de chocolates diferentes que você entrega, que todas as vezes se frustra por não conseguir. Que esse lado tá começando a achar que é paixão. Que esse lado da história sou eu.

Espero que você durma com a cabeça bem pesada todos dias quando se deitar. Principalmente por saber que não era pra você realmente ter desaparecido com motivos quatro dias depois da nossa noite. Era pra você ter entrado naquele contexto imbecil que pelo menos uma vez por semana minhas amigas compartilham no Facebook, falando que, quem quer dá um jeito, que segunda vira o caralho de uma sexta e mimimi. Ai poderia te colocar na prateleira de “homens que parecem ser os certos mas não são”. Não era pra eu descobrir que você tinha que passar o domingo com a família, não era pra você ter uma reunião importante na segunda, adoecer na terça e só melhorar no fim da quarta. Era pra você ter sido canalha, ter sumido mesmo, na cara de pau. Não era pra você ter passado por todas essas coisas e depois me contar exatamente como elas aconteceram. Não pense que eu acreditei em ti, pelo fato dos seus olhos ainda estarem cansados ou pela sua cara de dó. Acreditei por ser dessas meninas que vai atrás por conta própria e, descobre até o seu número da camisa no time da faculdade. Fiz figas pra você mentir na minha cara. Não era pra você ser verdadeiro, que saco!

Não era pra você falar que entendia que eu não queria te ver. Por Deus, era para você inventar qualquer desculpa mole e ir atrás de outra menina. Eu não estava com dor de cabeça, só não estava me sentindo segura comigo. Você simplesmente tinha de copiar a mensagem que me chamava pra ir no cinema pra qualquer outra menina que comenta nas tuas fotos do Instagram. Elas moveriam mundos pra ir com você. Não era pra você passar aqui com um potinho daquele seu brigadeiro mágico, deixar na minha portaria com um Post-it escrito: “Come que melhora, juro. Te ligo voltando do bar, melhoras. Beijos”. E juntar três amigos desocupados, escolher um bar porco onde eu não tenho nem como argumentar que tenha alguma outra garota, de tão imundo. Pedir um caminhão de cervejas e assistir dois jogos de futebol, entre quatro times sendo que nenhum deles era o seu. Pelo simples fato de que se não fosse pra terminar o domingo ao meu lado, você não queria outra companhia se não fosse seus amigos. Você tava me dando um espaço de carinho na sua vida, onde as outras pessoas já estavam lá por muito tempo, no mínimo uns dez anos.

Era pra quando você chegasse na balada você me dar um perdido, sumir como se eu nunca estivesse ali. Todo mundo faz isso. Mas não, me pegou pela cintura e me apresentou formalmente pra todos que cruzavam com a gente. Era pra quando chegássemos no bar, cada um fazer o seu pedido. Você perguntou se eu já tinha experimentado uma bebida com nome esquisito, eu respondi que não. Você pediu um copo, me pegou pela mão e disse que eu tinha que conhecer aquilo antes de morrer. Dividiu todos os seus copos comigo durante aquela noite. Até agora eu nem sei se aquela bebida vermelha era boa, mas tinha o gosto do seu drink favorito e, por Deus,  como isso era bom. Era pra você assistir o show do meu lado, você pra manter sua escrita de todo errado, me abraçou e ainda proseava alguns versos no meu ouvido, bem baixinho, quase um sussurro. O suficiente pra me arrepiar e me fazer sorrir, q-u-e-i-n-f-e-r-n-o.

Era pra que no caminho da porta da balada até o carro você ir falando por mensagens com qualquer outra pessoa. Eu ficaria muda, mexeria no meu também. Perguntaria pra milhões de amigas se eu deveria ou não estar com você ali naqueles últimos minutos antes da lua trocar de lugar com o sol. Mas não. Você veio conversando como se fossemos melhores amigos e pior, abriu a porta do carro para que eu pudesse entrar. Seu idiota fofo. Babaca lindo. Antes de resolver entrar na vida de alguém assim, certifique-se se a mesma encontra-se em condições de conviver com essa gentileza toda. Eu não entrei e nem vou entrar em nenhum parâmetro aqui, não gosto nem de lembrar que numa dessas semanas que você viajou a trabalho e mal falava com a sua família, você lembrou de perguntar se eu tinha ido bem na prova da faculdade. Sério, foi tipo um “boa noite, dorme bem querida e penso em você antes de deitar mesmo longe.”

Era pra você ostentar uma felicidade, dessas que todo mundo pode pagar. Essa sua gentileza simples e esse jeito atencioso são caros demais para se comprar nos dias de hoje

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autor_jorge

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