Pois saiba, que a minha casa ficou toda rabiscada essa noite, no meio dos meus trabalhos, no meio dos meus traços. Eu finalmente segui um conselho de uma amiga de não bloquear nada que viesse na minha mente. Comecei a anotar em absolutamente qualquer lugar tudo que viesse na minha cabeça e eu nunca consegui dizer pra você. Meus desenhos se amontoavam na mesa. Os papeis dos meus croquis, o guardanapo, o espelho esfumaçado do banheiro. Absolutamente tudo que me deixasse espaço para escrever, eu escrevia. E meu amor, eu preciso te avisar, era tudo sobre você.
Aliás, era tudo sobre a forma como você veio e apareceu na minha vida, esse jeitão de quem sabe exatamente tudo o que quer e o quanto quer. Esse jeito despreocupado e organizado. Esse jeito de quem bota o sol pra dormir e o acorda antes de ir descansar. É esse seu jeitinho mesmo, que eu tento explicar pras minhas amigas, mas nunca acho uma forma exata de te definir. Acho que me encantei por todas as suas formas de tal maneira, que se eu for juntar todas as minhas amigas, elas devem achar que eu estou apaixonada por uns oito homens diferentes.
Linha por linha procurando uma forma de te agradecer por todo esse peso que você tirou das minhas costas por puro cavalheirismo, sem que eu lhe dissesse uma palavra. Tirou o que me acumulava por comparar todos os novos rostos com um antigo. Assim tão tranquilo, com a voz mansa me contando as mesmas histórias, só que com outras pontuações. Sem que eu pedisse você simplesmente veio, adicionou algumas doses bem contadas do teu ego e me completou perfeitamente. Se você soubesse o quanto eu esperei pra que alguém sentasse ao meu lado e me ajudasse a entender todos os pontos sem nó que eu deixei pelo caminho, você teria aparecido bem antes.
Olha, eu acredito em algumas coisas irônicas da vida. Essas pessoas que aparecem na nossa vida apenas para ajeitar alguns serviços que não foram feitos tão bem por outras pessoas. Você entrou sem ser convidado, deu prazo de validade e deu dia e horário da despedida. Exatamente no seu tempo você me mostrou todas as pequenas coisas que eu havia esquecido. Foi categoricamente diferente de todos. Essa mesmice deliciosa, que a gente busca toda sexta feira quando a lua chega e sentamos com as amigas numa mesa de bar. Você ao invés de ser mais do mesmo, resolveu ser o que me faltava. Como se fosse uma última tarefa que você devesse cumprir antes de seguir completando os serviços mal acabados desse mundo.
Só agradeço muito, por melhorar a imagem errada que eu resolvi carregar comigo. Por mostrar quase sem fazer esforço que antes de dar errado, deu certo. Deu certo por muito tempo. Só que eu, toda boba, que resolvi guardar comigo só aquele final ruim. Que quanto mais eu falava, mais eu lembrava aquele erro, mais longe eu ficava das boas memórias. Você foi essencial em mostrar o quanto todos nós somos essenciais nas vidas dos outros. Que por pouco tempo, podemos ser marcantes e memoráveis. Que nos últimos anos eu só acrescentei amigos ao meu ciclo de amizade. Afastei-me de alguns, parei de falar com poucos, mas sei o quão importante cada um foi graças a ti. Melhores amigos virando estranhos, estranhos se tornando melhores amigos.
Tudo acontece e tudo tem seu tempo. Mas por enquanto eu vou aproveitar o pouco que você ainda está aqui.