eu adoro sorvete

Gosto mais dos naturais: banana, jabuticaba, manga, morango.
Mas também gosto dos inventados: tiramisú, kinder ovo, caramelo.
Se for picolé, com casquinha crocante, viajo em cada mordida. Fecho os olhos e sinto cada nuance do sabor, cada pedacinho se fragmentando na minha língua até desaparecer.
Acho os sorvetes parecidos com as relações amorosas.
No começo são tão bonitos, tão exatos, parecem obras de arte, dá medo de colocar a mão e desfazer aquelas reentrâncias esculpidas tão cuidadosamente na massa. Medo de morder e desfazer a simetria perfeita que preenche o potinho, medo do fim.
Depois, passado o momento da admiração e do medo, sentem-se os sabores. Ai é uma viagem a cada pedaço, uma descoberta a cada segundo. Descobrem-se delícias além das cores convidativas, além do cheiro sedutor, além do físico.
Passamos a atribuir significados abstratos àquilo:

– Sorvete tem gosto de sonho!
– Esse sabor me deixa nas nuvens!

O ritmo reduz a medida que o sorvete diminui de tamanho. A cada colherada, a cada mordida, o prazer aumenta e, simultaneamente, chega mais perto do fim.
Não que todos os relacionamentos estejam fadados ao fracasso, mas, de certa forma, todos estão fadados a lembrança.
Se eu pudesse escolher um sabor de namoro, seria chocolate belga: Forte e marcante, tentador e inconfundível. Se eu pudesse inventar um sorvete, seria Girassol: Daqueles que iluminam o dia de quem o escolhe.
Quando como um sorvete permaneço durante aquele tempo como sou quando amo: absorta, indivisível, tua.
Mesmo sabendo que o fim é inevitável, não deixo de amar sorveterias.
Mas sabe, entre casquinhas e paletas mexicanas, eu sou a garota que não está disposta a pagar por algo que dura tão pouco.
Ah, eu deixei um recado num post it com um imã feliz em cima, lá na tua geladeira. Caso não tenha visto, diz assim o bilhete:
– Me paga um sorvete?

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autor_kamila

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