eu posso

Acordei cedinho hoje, 6:00 meu relógio despertou.
Espreguicei, rolei, dormi de novo.
Despertador.
Acordei, sentei na cama, e pensei como estaria o tempo.
Sol, chuva, vento?
Levantei. Pé direito primeiro, vai que minha mãe tinha razão, não se pode brincar com o que dizem nossos pais, aprendi.
Me olhei no espelho.
Não me encaixo em muitos padrões, meu cabelo cresceu tanto que já está metade de cada cor, a sobrancelha grita por uma pinça, tenho algumas marcas de expressão e outras de espinhas que foram cruelmente assassinadas.
Escovei os dentes, joguei água no rosto, e entrei no banho.
Adoro cantar no chuveiro, geralmente de olhos fechados, e fico ali por uns 15 minutos pensando em coisas que pretendo fazer durante o dia, principalmente hoje, feriado nacional.
Ao sair do banho coloco meu uniforme, tranco a porta da casa onde moro sozinha, e rumo para o meu trabalho.
Carteira assinada, duas línguas fluentes, diploma guardado.
Licenciatura e bacharelado.
E se não tivesse um, não me tornaria menor, ou menos inteligente.
O diploma só mostra que eu conquistei uma das coisas que quis.
Eu quis pra mim, você pode não querer.
No trabalho sento na minha mesa, olho pro carimbo com o meu nome, ajudo as estagiárias a aprenderem o que ainda não sabem.
Hoje vou fazer horário corrido, as 14:00, saindo daqui, vou encontrar meus amigos. Combinamos um almoço pra comemorar a vida.
Comemoramos quase todo dia.
No almoço, além da comida, vai ter cerveja, vinho e vodka.
Eu bebo, não pra ficar mais “feliz” ou para curtir melhor o rolê, eu bebo por querer.
Bebo por que pago.
Bebo por que posso.
A noite a festa vai continuar, vamos pro bar.
Vai rolar sertanejo, pop rock, forrózim e samba.
Eu vou colocar um shortinho, uma blusa bonita, vou passar maquiagem e chegando lá vou dançar agarradinho, e também até o chão.
Eu posso.
Tem meninas que não gostam de dançar, que só ficam sentadas na mesa tomando suco de laranja.
Elas podem.
Outras estarão com os namorados abraçadinhas, dando beijinhos e falando besteirinhas no pé do ouvido.
E elas podem.
Eu canto alto, falo alto, sorrio largo e gosto de abraçar.
Quando bebo demais amo todo mundo, quando passo da conta tenho vontade de chorar.
Tenho amigas que saem comigo e só tomam água.
Tenho outras que não falam palavrão em hipótese alguma.
Eu sou a maior desbocada, tudo é porra, caralho, que foda.
Pra outras é que bacana, que legal, que da hora.
Quando vou a praia, ao rio, a cachoeira, uso biquíni pequeno, tiro foto e posto no Instagram.
Tenho amigas que vão nadar de shorts e top, outras de maiô. Algumas usam biquíninho mas jamais postariam uma foto com tal traje, outras já postaram fotos semi nuas.
Todas são minhas amigas, cada uma na sua ideia, cada qual na sua liberdade de ser.
Eu posso nem conhecer você mas te asseguro o direito de ser livre.
Te asseguro lutar por tua causa.
Te confesso respeito e fujo de te julgar.
Acho péssimo mulher xingando a outra de vagabunda, puta, vadia. Como se a vida sexual de alguém nos dissesse respeito.
Ninguém te deve respeito, ele é teu por direito.
Dê pra quem quiser. Beba o quanto quiser. E faça o que achar conveniente.
Só não liga pra opinião pequena e estúpida dessa gente.
Hoje é feriado e eu vou pro bar, depois volto pro lar.
Porque eu sou o que eu quiser, independente do que a Veja disser.

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autor_kamila

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