Eu tinha certeza que pizza era minha comida preferida. Alguém perguntava “Uma comida?” Na lata, sem pestanejar, eu respondia “Pizza!” E eu tinha certeza que uma companhia não poderia alterar um sabor, um cheiro, uma vontade… Meu celular vibrou.
– Vai fazer algo hoje a noite? O que você acha de dar uma volta por ai? – Oi, claro! O que “cê” acha de uma pizza? – Opa, as 20hs? – Perfeito!
Banho, jeans, camiseta, perfume, chinelo. Desço 5 minutos antes. Espero.
– Oi! – sorriso. – Oi! – brilho no olhar.
– Hey, o que você acha de caminhar? Tudo tão perto, deixa o carro aí, vamos andar! – Só se for agora! – sorriso e brilho no olhar.
O céu estava lindo. Inteiramente pontilhado de estrelas de milhões de tamanhos e formatos e brilhos próprios, singulares. Passos sem pressa. Pizzaria com mesinha na calçada, cadeira estofada forrada com um tecido terracota florido exato. Lindo.
– Boa noite, algo para beber enquanto escolhem o sabor? – Coca com gelo e limão, por favor! – Para mim o mesmo!
Sorriso, conversa, pertencimento. Enquanto a coca invade o copo e faz com que gelo e limão mudem de posição decidimos nossas metades:
-Meio atum especial, meio portuguesa.
Meio timidez, meio saudade. Algum tempo depois:
– Pode por favor embrulhar pra viagem?
Conta paga, metade metade. Depois da pizza, a mais saborosa da minha vida, e do caminho de volta pra casa, um convite pra entrar.
– Quer subir? Podemos ver um filme, fazer brigadeiro. – sorriso tímido. – Claro, tem um ótimo que acabou de estrear. – sorriso extrovertido.
Pode parecer engraçado – bem longe do trágico – mas numa sessão de Netflix podem surgir quantas variações de abraço? E dentro de um abraço, quantas sensações de aconchego? Dentro do aconchego, quantas certezas de lar? Pode parecer engraçado mas, antes de você me deixar usar tua íris como espelho, como eram as imagens que ela concebia? Como você respirava antes de dormir? Como batia teu coração depois de sorrir? Como agiam teus pés diante do fundo, e tuas mãos frente ao profundo? Pode parecer engraçado, sem nenhum resquício de desastre, mas como você acordava antes da minha cama? Você era bonito da mesma maneira, ou os meus olhos te deixaram assim? Você acordava sorrindo, ou foi meu lençol com cheiro de alecrim? Você era o mundo de alguém ou tornou-se o meu de repente? Eu não sei, mas enfim… Deixa ser assim. Silêncio.