Eu lembro de cada detalhe daquela noite do nosso reencontro. Mais do que um aniversário, seria a primeira vez que nossos olhares cruzariam desde o nosso fim. Pior, nós tentamos seguir, mas nossos companheiros ruíram diante da sombra que ainda pairava sobre eles. Naquela noite, eu encontraria o meu maior sonho do passado, caminhando no meu presente. Mais do que a chance de esclarecer o nosso fim, talvez fosse o primeiro passo para o nosso recomeço. Nossos caminhos até tentaram seguir rumos diferentes, mas por respeito com a nossa história, o destino decidiu por um último esbarrão.
Nosso reencontro roubou a atenção do ambiente, o aniversário não passava por uma enorme fachada. Em cantos afastados, escapavamos de olhares curiosos, sentíamos as perguntas entalarem nas gargantas dos convidados. Sentia os olhares masculinos flamejarem, tudo culpa da fenda que rasgava as costas do teu vestido. Um convite tentador ao labirinto da sua tatuagem. Suspirava em silêncio, lembrando quantas madrugadas assisti você dormir, enquanto cortornava suas tatuagens com as pontas do meus dedos.
Na minha época você ainda não usava essa maquiagem no olho. Ainda não conhecia esse traço fino que foge das laterais, deixando seu olhar bem mais letal do que o normal. A forma como você prende o cabelo ainda é a mesma. Você ainda conserva esse olhar sob os ombros, que pega de calça curta todos os cortejos direcionados ao teu corpo. A boca quase sem batom pelos copos de caipirinha, sorri contida. Era você me convidando para conversar, da forma mais mágica possível. Exatamente como você fazia quando eu cometia alguma estripulia. Apertava os olhos e prendia um sorriso, depois dos espinhos, era o teu corpo pedindo um pouco do meu carinho.
Caminho até a sua direção e posso sentir o mar abrir no meio, você educamente me aguarda e sua companhia misteriosamente desaparece. Sorrimos olhando pra baixo e erguemos nossos copos aos céus, num sinal de respeito. Bebemos trocando olhares que conversam de sexo e casamento em milésimos de segundo. O gole dessa vez é doce, só para amansar as palavras que borbulham no meu coração. Nossos copos brindam, tenho que ser discreto para você não reparar no arrepio do meu cabelo, nem no tremor da minha mão.
Caminhamos para fora da festa, uso a desculpa de um cigarro, mas na verdade tudo isso é pra fugir de toda essa atenção. Caminho com você do meu lado, tentando segurar meu instinto de te segurar pela mão. Antes da nossa despedida era como se o seu corpo fosse a minha extensão. Você pergunta quando eu vou parar de fumar e então respondo que o meu último trago foi quando você decidiu ficar. Abaixamos nossos copos e nossas guardas. Atualizamos o nosso tempo, pois os últimos verões passaram devagar sem a companhia do outro.
Conto que o meu curso foi realmente espetacular, mesmo com a minha dificuldade com a nova língua. Você conta que perdeu um pouco daquela ambição do trabalho e sonha cada dia que passa com um negócio só seu. Te conto que a neve é realmente linda e que batizei meu primeiro boneco com seu nome. Você conta que quase nomeeou seu cachorro com meu nome, sinto um beliscão na alma, mas o alívio é imediato quando descubro que seu filhote era uma fêmea. Nessas atualizações, conto sobre o namoro com a menina da mesma classe e você sobre seu noivado apressado. Contamos todas as receitas usadas para podermos esquecer um ao outro, todas em vão.
Foram perdidas pois meus olhos ainda vibram ao encontrar com os teus. Pois eu aprendi a viver longe de tudo que te fazia mal, só pra que você não encontrasse defeitos na hora de voltar. Larguei meus vícios antes de partir desse país: o cigarro e você. Agonizei sozinho e calado quando descobri que haviam colado um anel no teu dedo e o nome que você diria no altar não seria o meu. Mas algo dentro do meu peito dizia que eu não deveria sofrer. Pois ter encontrado algúem, nunca foi motivo pra você se perder. E eu ainda acreditava que tinha um pedaço da mim que vivia aos berros dentro de você. Era uma forma de terminar tudo que eu fui conquistar lá fora, só pra quando eu te encontrasse eu pudesse te dizer:
“Você já sabe o meu nome, então de qualquer forma, muito prazer.
Não é sobre diploma, sobre conquistas, trabalho ou lazer.
Voltei pra dizer que o mundo é do jeito que luta pra ter.
O problema, é que nenhuma vitória tem graça
Se eu não posso comemorar com você.
Menina linda, muito prazer.
Quer tentar ser feliz?
Mas, só eu e você?”