Parei o carro na frente da sua casa, um pouco antes do horário combinado, afinal, é uma questão óbvia você atrasando alguns minutos. Eu sempre fui pontual, você sempre foi maluca. Eu digo que estou chegando quando na verdade já estou lá embaixo. Você diz que está descendo quando ainda está passando o rímel no olho esquerdo. Eu aproveito o atraso pra me atualizar um pouco. Duas redes sociais, um jornal esportivo e um e-mail do trabalho. No espelho do elevador você pergunta ao seu reflexo se o seu cabelo ficou bom liso. Ele responde que se você tivesse mais dez minutos faria os cachos nas pontas. Eu te recebo no carro abrindo a porta, meu suspiro travado já responde que você é linda de qualquer forma.
Essa semana sem te ver na verdade durou três anos, aconteceram tantas coisas que eu quase não te deixo falar. Com o um sorriso tímido e as bochechas em rubor, você recebe o carinho da minha mão na sua perna. Repousa a sua mão na minha, fazendo o meu coração se acalmar. Eu pergunto como foi a aula dessa semana, enquanto caminho para um lugar diferente aonde vou te levar pra jantar. Olhando você desse lado da mesa, eu tento parecer um bom moço. Nossa conversa sempre flui, mesmo querendo você nos meus braços tento me comportar. Já bebemos nossas ultimas taças de vinho trocando os mais maldosos tipos de olhar. Peço a conta e você concorda com a cabeça. Agora é a minha vez de atrasar.
O caminho do restaurante até a cama, eu percorro devagar. No carro, as músicas românticas são a minha tentativa de trilha sonora do nosso filme. E na verdade, você parece gostar. Afinal, em todo semáforo fechado, o efeito do vinho resolve deixar os nossos lábios se tocarem. Aprecio cada contorno da tua boca, enquanto nossas mãos tentam arrancar do nosso caminho cada pedaço nosso de roupa. Só descolo do teu corpo com a buzina do carro de trás. Nos afastamos sorrindo, corpos arrepiados de quem precisa de um pouco mais. Minha língua inquieta na boca, precisa percorrer cada traço teu. Aviso conversando ao pé do seu ouvido, que seu café da manhã no dia seguinte é meu.
Chegando no meu prédio, preciso te contar que você acabou de tirar o sono do meu vigia. Não sei se foi o seu perfume ou a jogada de cabelo pra poder vestir a minha camisa. O meu elevador, na verdade, parece um campo de batalha. Mas na nossa luta as armas são beijos e o nosso sangue é suor. No canto, entre a parede e o espelho, o vidro esfumaça, bagunço a neblina com os meu dedos. Enquanto os teus escorrem pelo meu ombro e então você me amassa. Num misto de gemido e controle você puxa meu cabelo pra trás. Sufoca o seu arrepio me pedindo que pare, na negativa mais afirmativa do mundo, narrada com a timbre da tua voz.
Porta de casa não precisa de chave, o caminho até o quarto eu percorro com você nos meus braços. Você toma posse da minha cama como se fosse sua e eu te conto que você só vai escapar dali pela manhã. Sinto nossos corpos dançarem, suas unhas cravejarem na minha pele e te prendo rente a minha cintura para não te deixar sair. Meu Deus, se eu pudesse escolher uma forma de eternidade, seria sem dúvida com você aqui. Enrolo seus cabelos nos meus dedos e sufoco seus gemido com um beijo. Arrepiado, me arrumo na cama pra te receber de joelhos. Seus olhos revirados me pedem que essa noite não acabe tão cedo. Coitada, nem faz idéia, de que não te ter pela manhã era o meu principal medo. Desabamos na cama extasiados e satisfeitos. Seu corpo nu, tombado sobre o meu, não dura por muito tempo com olhos abertos, depois dos caminhos percorridos pelo meus dedos vagando pelo seu cabelo. Nada de alma gêmea, pois não acredito que só uma alma preencha a nossa nesse mundo. Mas adormeço sorrindo, sabendo que pelo menos as nossas, são parentes bem próximos.
Ufa.
Bom sonhos.
Até amanhã.