não envergonhe a minha saudade

Ontem eu realmente quase te liguei. Mas foi muito quase. Cheguei a chamar sua melhor amiga, comecei uma conversa boba mas mudei o rumo do papo pra ela não perceber. Eu ia pedir seu número. Em um dos meus surtos de imaturidade eu apaguei e prometi que não iria usar nunca mais. Consegui não te ligar ontem, mas isso só deixou claro uma única coisa. Eu ainda tenho algo entalado na garganta pra pra lhe dizer. Só não sei o que é.

Pode ser muita coisa, afinal eu lembro de cada detalhe do seu sofá. Aonde ele fica na sua sala, quantos palmos ele fica distante da TV e qual é o seu lado preferido dele. Fico com o pensamento quase todo dia lá. Na verdade, coloquei meus pensamentos em qualquer um que possa estar sentado nele na minha ausência. Eu te faço companhia sem que você repare. Aliás, você não reparar a minha presença foi um dos principais motivos que me fez partir, pra te falar a verdade.

É que chegou uma hora que era muito mais do que carne. O teu cheiro já era cereja do bolo do meu perfume. Teu telefone ficava sempre nos meus contatos recentes. Mas do dia pra noite, sua cabeça parecia que não pensava como a minha. O mais assustador disso tudo, é que eu seguia o roteiro que você mesmo tinha proposto. Do dia pra noite, você virou uma pessoa completamente diferente do que já vi. Por mim, se eu soubesse exatamente quando foi, eu voltaria naquela noite e amarrava a lua. Diria que ela não tinha o direito de ir embora e levar aquela pessoa que você fingiu ser.

Honestamente, talvez eu até aprendesse a gostar de quem você se tornou. Ou quem você realmente é. Sei lá. Mas aquele seu último papel era realmente interessante. Você tinha um enorme talento pra atuar naquele enredo que você mesmo criou. Eu nunca pedi aquela alegria que você despejou no meu peito. A gente não machucava ninguém, nem um ao outro. Não entendi até agora em qual lua você se foi.

Eu nunca acreditei em amores. Nem que nesse tal de “pra sempre”. Mas gostava de sentir falta daquilo que você foi. Era diferente de tudo que eu já tinha experimentado nessa vida. Fico parado olhando você caminhando convicta numa na direção errada. Fico perplexo, sem conseguir acreditar que foi você mesmo um dia me mostrou qual era o caminho certo. Parece que você não conhecia metade das coisas que você falava, por tomar as atitudes exatamente opostas do que pregava ao meu lado.

Menina, ninguém precisa voltar. Mas isso está longe de ser um pedido de desculpas ou de regresso. É só um pedido de respeito. Se não for com o teu corpo, que seja com a tua história. A que você mesmo contou para os meus amigos. A que gente rascunhou em quatro mãos. Faz de conta, só que agora longe do meu colo, que você é aquela menina que conhecia o mundo. Que não se prendia na futilidade e que descia pra buscar a pizza de moletom por ser mais confortável.

Angústia é como eu batizei o nó que fica entre a minha garganta e o coração, toda vez que vejo você envergonhando a saudade que eu tenho de ti.

Se ainda houver tempo, por favor, pare que está feio.

Não pra mim.

Pra você.

Mesmo.

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autor_jorge

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