carta pra você que ainda não veio

Senhor, hoje gostaria de aproveitar que você ainda não chegou até ela pra lhe dizer algumas coisas importantes, das quais você nunca vai saber exatamente como aconteceram, mas vai entender que tudo estava muito claro desde o início. Para não se assustar depois, gostaria que soubesse que essa rodovia vai acabar naquele café péssimo daquele empório caríssimo. Lá você esbarrar com ela. Ombro com ombro. Exatamente como nos filmes. Ela vai te sujar. Você vai se irritar bastante. Até que ela vai te pedir desculpas loucamente. Quase criando uma palavra só com uma sequência infinita de desculpas. Vai te olhar de baixo pra cima por você ser maior que ela. Você vai tentar responder grosseiramente. Mas seus olhos vão se encontrar nesse momento. É nessa parte que a única resposta que você vai conseguir soltar é um breve suspiro.

Aqueles minutos sequentes desse pequeno acidente, você vai conhecer uma mulher fantástica. Praticamente impossível de se acompanhar e qualquer situação que seja. Repara bem nos olhos dela, em como eles correm por todo o seu rosto enquanto você mal consegue se concentrar no sorriso dela. Você ainda está tentando lembrar o nome dela e nesse pouco tempo ela já sabe cada traço teu. Quando a gente conhece alguém a gente começa a acreditar que o destino é um negócio engraçado. Se colocassem alguém antes na nossa vida a gente tem a sensação de que não aproveitaríamos tanto. Ela entra exatamente no momento certo, pra apagar todas as mágoas que alguém deixou pra gente.

Rolam boatos de que ela é complicada de se lidar. Daquelas que a gente fica tentando decifrar sem que ela perceba. Essas mulheres que parecem que viveram mais do que a idade realmente representa, que passeiam pelo mundo como se já conhecessem cada pedaço desse chão e como quase nada nesse lugar parecesse novo aos olhos dela. E ai meu amigo, você se agarra naquela dúvida desgraçada de: “Como eu vou surpreender alguém que já viu de tudo?”. Daquelas que quase não abraça ninguém pra não dar liberdade, que tem o traço forte e a sobrancelha arqueada quando escuta alguma coisa fútil que não acrescenta em nada na sua vida. Dessas que não choram na sua frente. Que parece ter resposta pra todas as tuas perguntas e que consegue te dar uma bronca sorrindo. Que arranca o seu suspiro apenas te olhando, como fez lá naquele café.

Ainda ouvi algumas conversas, que ela coloca a culpa de tudo no amor. Aquelas mulheres que preferem amar só da porta de casa pra dentro. Essas que no trabalho, pode escolher qualquer um dos homens que trocariam suas horas de almoço por minutos de café ao seu lado. Mas prefere almoçar sozinha e deixa pra eles apenas o perfume doce que faz a engrenagem maliciosa da nossa mente masculina girar. De tantas pessoas que não souberam amar, hoje ela se blindou do amor. Só que tem algumas coisas na vida que ou a gente perde o medo, ou o medo vai fazendo a gente pouco a pouco perder a vida. E o amor é uma delas.

Hoje em dia, atrás de todo esse escudo, ela passa a maquiagem mais leve pra te receber. Mesmo sabendo que você só vai lá pra jantar uma pizza e assistir TV. Que ela corre pelos cantos da casa, com a toalha enrolada e falando com a melhor amiga de como deve se portar quando você chegar. Pergunta pra agir exatamente ao contrário. Por birra mesmo. Ela gosta de contrariar. Também gosta de você. Toda essa frieza foi de amores não cicatrizados. Acontece que a vida é assim. Vem um amor logo depois de outro, pra poder cicatrizar. Até que chega um que não fere. Não machuca. Nem deixa outro existir.

E ainda mancha a nossa roupa de café, querido.

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autor_jorge

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