Outra vez você desce da minha cama enquanto eu ainda tô lutando contra a minha preguiça. Pra seguir o teu roteiro clichê, você senta quase que no pé da cama e acaricia as minhas pernas bem devagar. Eu ainda meio confusa e um tanto quanto sonolenta, coço meus olhos com o punho cerrado. Quero te admirar pela manhã, mas os raios de sol que ultrapassam a cortina já me incomodam bastante. Você me dispara um sorriso amarelo, que já vem no seu pacote de “palhaço-ao-amanhecer”. Bagunça ainda mais o seu cabelo e levanta pra começar a se trocar.
Ainda é sábado, bem cedinho, mas eu já tenho todo o roteiro desse filme. O final é uma comédia pra você. Um drama pra mim. A voz que a poucas horas balbuciava um “eu te amo”. Agora já é trilha de algumas desculpas tão vagas que nem foram elaboradas ainda. Sua avó adoece pela zilhonésima vez. Seus pneus descartáveis vão furar. Minhas ligações se forem feitas depois das oito, serão atendidas apenas na quarta tentativa. Tô estrelando o meu melhor papel diante da tua apresentação. O de idiota.
Eu faço uma voz de menina indefesa e você me abraça me fazendo acreditar que você é o próprio Hércules. Me sinto totalmente presa, segura. Tento pausar o filme pra poder ficar naquela sempre por toda a minha vida. Mas você esfria e desacelera. Me beija na testa e diz pra eu me cuidar. Eu te acompanho até a porta, você tentando desviar o olhar do celular para responder o seu grupo de amigos e tuas outras pretendentes. Eu me sentindo no corredor da morte. Você saindo pela porta sabendo que pode voltar quando bem entender. Eu desolada sabendo que me deixei levar pela emoção e só vou te ter nos meu lençóis quando for tua única opção.
Você diz que quase falamos a mesma língua. E que nossos sentimentos são os mesmo, só mudamos algumas formas de falar. Pois é, são sim. Eu te chamo de apoio. Você me chama de encosto. No final é tudo a mesma coisa, só depende da perspectiva de quem fala. Nessa receita roteirizada, você invade a minha sala com o cabelo molhado da chuva. Me abraça me pedindo uma toalha só pra eu poder reviver todas as minhas memórias com você em dias assim. Mistura teu perfume com o meu e depois desaparece. Como você é burro de me destruir todo dia um pouco. Como eu sou tola de amar ser destruída por você.
Acontece que ótimas trilogias, por melhores que sejam, uma hora chegam ao fim. Blockbusters e vencedores do Oscar também. Séries acabam um dia. Cada um do seu jeito. Algumas por falta de expectadores. Outros por problemas entre os atores com a direção. Alguns simplesmente terminam pra não manchar a imagem. Então diferente das outras vezes minhas cortinas se fecham, como outros palcos já fizeram pra ti. Agora só me resta aguardar o tempo dizer se abrirei pra você um dia outra vez. Talvez por falta de outros espetáculos. Mas talvez eu crie vergonha no meu palco e procuro algum show que seja digno dos meus espectadores.
O seu é excelente, mas já assisti milhões de vezes.
E eu sempre choro no final.
Cansei.