teu frio

Hoje quando eu acordei, pensei em alguma maneira de negociar com os deuses para não ter que sair da cama. Pelas frestas da minha janela, o vento soprava bem frio. Quase sussurrava o nome dela. Eu, dentro das minhas cobertas, continuava quente.  Protegido do frio. Protegido de você. Talvez protegido do teu frio. Hoje a última coisa que eu queria era encontrar com teu rosto pela rua. Não por ti. Por mim. Então, do meu jeito atrapalhado, eu fujo do teu frio.

Complicado e bem cômico. Eu adorava o frio, até o dia em que eu resolvi adorar você. Eu sempre muito quente. Você gelada que chegava a doer. Oposto e vivíamos em perfeita harmonia. Juntos, éramos a temperatura ideal pra consumo. Daqueles que se completavam. Que combinavam em tudo. Nunca fui muito bom de química, mas tenho certeza que combustão era algo parecido com o que acontecia quando nossos corpos se tocavam durante a madrugada.

E deu certo. Você acalmou e congelou todos os meus fantasmas. Eu fervi todos os teus medos. Fiz de você exatamente tudo que eu sempre sonhei. E no teu semblante sempre frio, eu esquentei o teu sorriso. Aliás, menina, como era bom te fazer sorrir.  Como era bom saber que meu calor era o motivo do teu sorriso. Consegui derreter teus olhos pra que eles despejassem lágrimas de emoção. Eu consegui.

Consegui ser tão feliz na tua temperatura, que quase me esqueci do meu próprio calor. Mas a gente é assim. Quando não entende alguma coisa, prefere procurar um culpado ao invés de uma solução. Fica perdido, confuso. Gela demais. Ferve demais. Não consegue entender o que aconteceu, mas não consegue esquecer que viveu. Desdenha do peixe que colocava na mesa todo santo dia. Cospe no prato que comeu, pra mais tarde contar pras paredes do quarto o quanto queria comer no prato que cuspiu.

Então eu cubro o meu corpo todo. Dos pés até a cabeça. Entrelaço minhas mãos quentes e faço uma simples oração. Peço proteção pro teu frio. Pra tua cara de brava. Pro meu calor exagerado. Peço paz pro teu coração e peço delicadamente para que você vá embora do meu. Pra gente poder se encontrar lá na frente com o mesmo espaço e carinho de quando a gente se conheceu. Pra que eu possa intensamente esquentar outros corpos e ser feliz. Pra você esfriar caldeiras borbulhando e gozar em paz. Pra que a gente possa parar de querer se odiar, por puro medo de amar.

Amém, meu bem.

Nosso bem.

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autor_jorge

 

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