Andei ouvindo por essas bandas, que disseram pra você ter cuidado comigo. Que eu tenho um papo bom e um bom gosto para misturar bebidas. Que eu costumo desaparecer sempre nos melhores momentos e que as suas amigas tem uma lista de motivos pró para aquele menino que sempre quis ter uma chance de te fazer sorrir. Que essa mesma lista na mão delas é de possíveis corações que dizem que eu desmanchei na estrada. Disseram que você está cavando a própria cova. E que as pessoas depois de tomarem algumas doses de mim, mudam. Não sei se demorei pra te dizer isso, meu bem. Mas tudo isso é verdade.
Cresci cercado do amor de uma mãe e de uma avó. Desde pequeno a minha casa tinha mais sapatos altos do que brinquedos. Desenvolvi uma queda natural por perfumes adocicados. Amadureci ouvindo o gosto musical das mulheres mais espetaculares que já pisaram nesse planeta. Demorei mais de uma década para ter irmãos. E olha só, vieram mais mulheres. Quis o destino que eu fosse cercado por elas, que eu aprendesse com elas. Aprendi tanto com elas que viciei. Cobro-me e não aceito menos do que elas. Mulheres, não meninas.
Aprendi com elas que nem todo humor precisa ser ácido. Que nem toda piada tem que ter dois sentidos. Que uma gargalhada me dá condições muito inferiores se comparada com um sorriso tímido, de canto da boca, que avermelha as bochechas. Desses que você adora dar. Li e reli manuais durante toda a minha vida, nenhum deles me dizia que machucar um coração era o caminho mais inteligente para ser lembrado por uma garota. Por isso os deixo quase sempre melhores do que os encontrei. Mas aprendi também, que quando os olhos não brilham é mais difícil de se esquentar um coração.
Então eu resolvi construir uma vida em resolver problemas que os outros não solucionaram. Encontrei amores despedaçados, sorrisos tristes e abraços de medo. Pessoas que não contentes em sair de casa, reviraram tudo. Vi amores injustos e homens covardes, que reviram a cama, bagunçam o cabelo depois destroem a casa. Só que quando saem resolvem deixar a porta aberta, para poder entrar e sair daquele apartamento cor de rosa chamado coração a hora que bem entender. Pois bem, eu conserto portas. Principalmente as que foram esquecidas abertas.
Não que eu implore por amadurecimento, mas me sinto feliz em fazer parte deles. Em poder quebrar alguns mitos de que podemos nos abraçar por todo um final de semana e bagunçar o teu lençol, sem espalhar para os amigos. Tenho um vício por bons jantares acompanhados de taças de vinhos e companhia nesses momentos são sempre muito bem vindas. Durmo pouco e dou atenção. Abro a porta do carro e tenho um gosto musical parecido com o seu. Gosto de quem vive o comum e deixa as diferenças de lado. Você gosta de dormir e eu gosto de ler. Quando eu terminar esse capítulo, te acordo pra irmos ao cinema juntos tá?
Não enterro sentimentos. Só prefiro preservá-los num mundo que a cada dia que passa se acostuma muito mais em destruí-los. Prefiro secar lágrimas do que ser o motivo delas. Prefiro você sorrindo ao invés desse bico. Gosto do seu abraço e parece que você gosta do meu também. Gosto da forma como você arrumou a bagunça que alguém deixou, enquanto eu ia dobrando tuas roupas que alguém amassou quando eu não estava por aqui. Gosto de quando você não pensa no final. Se isso é gostar de você, talvez eu esteja gostando.Ou então só gostaria de gostar de você pra sempre, mesmo que não seja junto.
Então é isso.
Eu conserto portas abertas, enxugo lágrimas e arrumo bagunças.
Pode me ligar quando quiser, tá?