o show que a gente não foi

Esses dias quando cheguei em casa, meu porteiro me entregou um envelope marrom. Era um par de ingressos para um coquetel. Uma marca de roupas vai lançar a coleção da próxima estação, vou ouvir algumas horas de papagaiadas e tentar dobrar o meu número de contatos distribuindo cartões a cada aperto de mão. O típico evento em que eu adorava ficar o mínimo possível. Afinal eu odeio moda, diferente de você. Eles vão encerrar o desfile com uma apresentação de um show que a gente nunca foi. O problema que esse cara cantando me lembra muito você. E isso me preocupa.

Me preocupa pois eu não preciso de uma música com o seu nome pra lembrar do seu cheiro. Pois ele seria a trilha perfeita pra todas as viagens que a gente sempre mirabolou mas nunca fez. Me arrepia pois hoje ele toca no som do meu carro entre as músicas principais e provavelmente é o mesmo álbum que você ouvia sem parar na época da faculdade. Mesmo gosto, mesma vontade sintonizada em tempos diferentes. Até parece um pouco familiar, né?

Quando você foi embora, eu escutava de todo mundo que “cabeça vazia é oficina do diabo”. Então só pra te esquecer, eu resolvi abraçar o mundo, morrendo de vontade de abraçar você. Lotei os meus dias com afazeres sortidos, só pra não ter tempo de pensar nos seus olhos. Inventei de aprender a tocar violão. Queria aprender a tocar uma música desse cara, só pra você ficar me namorando de longe em algum luau. Em resumo, não aprendi a porra da música, não te esqueci e ainda virei mais fã desse cara.

Virei fã, pois ele conseguia falar por mim. Mesmo eu querendo que ele ouvisse por você. Virei fã, pois quando cantarolava as suas letras eu sentia você encostando no meu ombro e dormindo gostoso enquanto eu dirigia pra casa. Virei fã, pois eu tento odiar você todo dia e a única coisa que eu adoraria fazer era mandar meio mundo pro inferno e te colocar dentro do meu abraço outra vez.

Então hoje eu escrevo com um arrependimento de nunca ter deixado você ouvir que toda música de amor que toca me lembra você. De nunca ter te apresentado pra minha família, só pra ver você ficar vermelha e sem graça. Aquele jeito que você fica tão linda que eu tenho vontade de te guardar em um pote. Que me arrependo de não cantar nenhuma música dessas abraçado com você, só pra sentir seu corpo arrepiar enquanto eu falava ao teu ouvido. Triste, pois a sua saudade era linda e eu queria preencher com amor. Alimento até hoje com orgulho. Virou rancor. E agora, como eu te explico a minha dor?

Seja ela pra sempre.
Ou só por um momento.

Saudades.

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autor_jorge

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