Garota,
Alguém precisava pegar você pela mão para dizer algumas verdades. Minha querida, não sou sua amiga. Confesso até que pelo meio dessas palavras, eu me embolo até mesmo rascunhando cada uma delas. Escrevo pois se um dia eu tentar lhe dizer tudo que eu deveria, provavelmente as palavras engarrafariam na minha boca. Não existe limite de velocidade para elas. Existe simplesmente um lugar onde todas elas querem chegar. Por mais que meu ego rasgue a cada traço desta carta, eu preciso dizer que você me enforcou. E você está de parabéns por isso.
Você silenciou a mesa do bar. Inteira. Que projetava defeitos em ti, sem nem ao menos olhar o brilho dos teus olhos. Ainda sinto a rajada de vento que invadiu o salão quando você subiu de mãos dadas com ele. Eu simplesmente encostei-me à cadeira, cocei a testa e admirava o seu desfile perdido. Irritei-me veementemente com a sua inocência de não saber por onde começava os cumprimentos da mesa. Mesmo que ela fosse triangular, eu seria o final do seu abraço. Seria aquele que aconteceria e todos os convidados ficariam em silêncio aguardando algum ponto fora da curva. O seu cabelo estava lindo, seu perfume era ótimo e você foi simpática. Meu Deus, que ódio de você.
Foi tão grande que não se importou com toda a história que eu tive um dia nos braços dele. Toda a sua confiança era o maior choque de realidade que eu já tinha tomado na vida. Você ignorou todo o meu plano para chamar atenção. Elegante e cordial conversou com todos na mesa armada de um irritante sorriso, chamava-o pelo nome, bebia a mesma bebida que eu e tinha acertado com sobras na escolha da roupa. Você tinha tudo o que eu insisti em fugir. A bebida, o homem e a confiança.
Foi quando eu descobri todos os seus problemas. Enumerei em silêncio todos os seus defeitos, só pra poder me defender. No meio desse mundo que é tão apegado ao passado, eu me sentia completamente descompassada por não saber uma mísera vírgula do teu. Foi nesse momento que eu me senti pequena. Meu escudo quebrado me deixava vulnerável, eu estava indefesa por não saber suas fraquezas. Esqueci complemente das minhas forças. Sozinha, descobri que eu invejo a sua coragem, por ser a forma elegante que eu encontrei de esconder minha covardia. No amor e na vida.
Eu me perdi no momento em que acreditei que precisava saber sempre mais do outro, ao invés de saber mais que o outro. Quando eu achava aceitável ter um caminhão de desculpas ao invés de brigar por soluções. Errei quando perdi o peso do abraço dele e tentei entender o que tinha de tão bom em você, ao invés de entender aonde eu, nas minhas próprias loucuras havia perdido. Uma tragédia unilateral. Mas completamente previsível.
Eu pedi pra perder na vida quando me esqueci de crescer.
A verdade é que eu nunca perdi pra você.
E ainda me dói muito saber.
Odeio lhe entender.