tantas mulheres

Lívia não tem namorado, nem ficante, nem amante. Lívia já conheceu muitos homens distintos. Altos, baixos, morenos e ruivos. De olhos verdes, de cabelos encaracolados, de gosto musical duvidoso e de gosto literário compatível.

Lívia já pensou estar apaixonada por um cara que a traiu, já traiu um cara que achava amar e já foi humilhada enquanto chorava pedindo pra voltar.

Lívia cansou de relevar a opinião alheia e aprendeu, a duras penas, que sua felicidade depende única e exclusivamente dela. Lívia passou a apreciar companhias leves, bem humoradas e que a arrancavam sorrisos, não o rímel dos cílios.

Ana sempre foi uma menina segura e feliz, um dia conheceu Luiz.

Luiz era um cara manipulador e fingido, transformou Ana em alguém que ela não reconhecia ao olhar no espelho. Quando errava, Luiz fazia te tudo para sair ileso e, no final da briga, Ana quase implorava desculpas de joelhos. Quase 2 anos se passaram até que ela descobrisse que amor é diferente de dependência.

Mandou Luiz crescer e se afastou do infeliz.

Hoje, Ana sorri como sempre foi antes dele e reafirmou que amor mesmo, de verdade, duplica a felicidade.

Fernanda esbarrou em Marcelo quando saía do banheiro da boate, Marcelo sorriu e se desculpou. Ela também sorriu. Foram até o bar e começaram a se conhecer. Depois de alguns minutos, rolou um beijo pra valer. A química fluía de forma leve e natural, saíram da balada para o motel. Lá foi melhor que o beijo, parecia o encaixe perfeito.
No fim de tudo, depois do prazer, Marcelo levantou e começou a se vestir. Parecia ter pressa de sair logo dali.

– Calma – disse Fernanda. Podemos dormir aqui!

– Não curto mulher fácil, melhor a gente ir!

Fernanda sentiu seu estômago afundar e na mesma hora falou:

– Desculpa amigo, mas aqui não tem mulher fácil não. Sou dona do meu corpo, dos meus instintos e dos meus desejos, se você gosta de mulher que se priva para passar impressão de boa moça, você é só mais um trouxa. Ah, mais uma coisa, mulher, MULHER e não menininha, você pode ter por uma noite, mas na vida você nunca vai ter. Chora mais, bebê!

Giulia se apaixonou por Caio na faculdade. Ela era bixete, ele veterano. Caio era bonito, simpático e romântico. Pediu Giulia em namoro num dia de agosto, com flores, chocolate e cartão. Giulia nunca pensou em dizer não. Ás vezes Caio dizia que ia pro futebol e ia pegar outras meninas. Na faculdade, quando Giulia passava, percebia que as pessoas diminuíam o tom de voz e riam.

Aquilo começou a deixar Giulia intrigada. Por que todos riam quando ela passava?

Um dia, enquanto Caio estava no futebol, resolveu passear com o Brad na praia. Ao passar pela barraca do coco, viu a língua de Caio dentro de uma boca conhecida. Era uma das meninas que quando Giulia passava, ria.

A reação dela foi extremamente sensata, deu as costas e foi com Brad pra casa. Mais tarde, no mesmo dia, Caio foi até a casa da namorada. Ela estava com os olhos cheios de lágrimas e, sem respirar, começou:

– Espero que você seja feliz sem mim, espero que tudo tenha valido a pena. Espero, inclusive, que você nunca sinta o que estou sentindo agora, muito mais do que uma traição emocional, foi uma traição pessoal. Lealdade, já ouviu falar? Ninguém é obrigado a namorar, casar, ter filhos. Ninguém é obrigado a estar ao lado de alguém que não respeita, ou pior, que finge respeitar. Agradeço pelo tempo que me fez feliz mas, agora, tudo parece mentira. Meu amor próprio me impede de relevar tudo isso. Siga seu caminho. Sozinho.

Caio foi embora sem saber o que dizer e chorou ao se dar conta da mulher que acabara de perder.

Gabriele adora vestido curtinho e salto alto. Sempre que sai a noite começa a se arrumar 3 horas antes. Passa maquiagem, batom vermelho, perfume adocicado. O mais difícil sempre é escolher o sapato. Tem mais de 50 pares no seu armário.

Ao chegar na balada era logo separada pelos homens na categoria “pra comer” e pelas mulheres na categoria “puta”. Ninguém queria saber o que existia por trás do decote. Ninguém sabia que Gabriele estudava, trabalhava e cuidava da mãe doente. Era irrelevante saber que Gabriele lia Dante, Foucault e Adélia. Que amava Chico e Los Hermanos e que estava sempre sorrindo e feliz!

Gabriele é mais uma menina julgada pelo que se vê, pelo que se diz. Ninguém tem moral pra chegar junto e bater papo, trocar ideias, enxergar além.

Por isso Gabriele não saía do rolê com ninguém.

Alice, Paula e Isabela se conheceram no banheiro de um open bar. Em 2 minutos começaram a conversar, em 5, já eram amigas de infância. Alice descobriu que já pegou o ex da Paula, Isabela terminou com um cara que já foi apaixonado pela Alice.

– Mas que ovo de cidade – exclamaram as três, e riram.

Riram por saber que homem nenhum merece causar intriga entre pessoas que nem se conhecem, que não tem nenhum motivo pra se odiar.

Marcaram um barzinho pro dia seguinte e descobriram que tinham muito mais que histórias pra contar.

É preciso muita coragem para estourar a bolha e abrir os olhos pro mundo lá fora, para cada pequeno detalhe carregado de significado, para cada atitude repleta de importância.

Separar, ponderar, permitir.

Escolher o que fica, o que vai, e o que não pode nem pensar em existir.

Nós somos todas as mulheres, todas as mulheres ao redor.

Uma mulher. Você. Eu. Nós. Tantas.

Abre mão da segurança da beirada e mergulha.

A superfície atrai, a profundidade encanta e desnuda.

Vai, tô contigo, a vida é tua!

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autor_kamila

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