Eu vou te levar comigo, não se preocupe.
Tome o tempo que precisar, coloque a cabeça no lugar e se prepare pra dançar.
Dia desses imaginei nós dois numa sala sem móveis. Havia uma grande janela de madeira por onde entravam alguns tímidos raios de sol. O dia anunciava seu fim em tons de laranja e nuances cor de rosa. Próximo à janela, sobre uma mesinha redonda, repousava um gramofone fúlgido, que como se já estivesse programado, começou a tocar um tango de Gardel.
Nos olhamos e senti sua mão deslizar ao longo da minha cintura, enquanto a outra tocava meus dedos.
Olhos fechados.
Um passo pra direita.
A cada nota nossos corpos se tocavam e se envolviam, abrasados.
A música seguia entre lamentos e confissões: “Acaricia mi ensueño
el suave murmullo de tu suspirar…”
E teus olhos negros me invadiam como se nada fosse desconhecido, adentravam minha íris e desvendavam meus segredos mais intrínsecos.
Tua testa encostada na minha e o som da tua respiração ecoando em meus ouvidos. Mais bonito que a música.
Teu nariz percorreu minha face e desaguou na minha clavícula nua..
Me respira, se embriaga de mim.
“El día que me quieras no habrá más que armonía…”
Não, no dia que me quiseres, para sempre, serei tua.
Por enquanto dança, só dança!
Nosso corpo vai dizer o que tem que ser. Podemos escolher as palavras, a forma como são ditas e a entonação precisa, mas não podemos controlar nossas sinapses, não podemos controlar o arrepio
.
Sente o suor em minhas mãos, sente meu corpo tenso, sente minha falta de ar.
Sente meu desejo, minha gana pela tua língua, minha ânsia para te amar.
Escuta meu coração, ouviu, ele parou de bater só pra sentir o teu tocar!
Pegue o tempo que precisar, mas agora, deixa a cabeça aqui, nesse lugar!
Vem dançar?