Errei nas fotos.
Na ordem em que eu fui vendo. Começava com umas fotos minhas, meio bobo, cara de quem não dormia muito bem. Olhos fundos e os óculos tentando esconder meu cansaço. Eu vendia uma falsa alegria, aquela que eu ouvi pela primeira vez na vida vindo da tua boca. Você me mostrava como coloria as paredes dos seus finais, quase sempre com um bico, envelopado por uma bonita embalagem sob um salto de tom escuro. Sua incrível habilidade de sofrer sem demonstrar.
Logo depois de algumas paisagens, que guardei tentando esquecer o teu abraço, vinha a nossa última foto. Que me desculpe o fardo de perda, mas nossa recordação final é a nossa mais bonita. Já adormeci várias vezes olhando pra ela. Acalma a alma. A maldade do tempo que desregulou nossas agendas afastou a gente, que tava tão bem. Só queria aproximar o máximo do máximo daquilo que podíamos aproveitar. Se eu soubesse que aquela seria a nossa última foto, eu parava de tirar fotos só pra não chegar nosso final. Que aperto você me dá no peito menina.
Quando eu volto as coisas são piores, a gente não aparece mais um com o outro. Pois tudo que aparece são as coisas que eu quero guardar na mente por, naquele momento, só ter olhos pra você. Uma sequencia de fotos sem você onde, só de olhar, eu sou capaz de lembrar o teu perfume. Era a tua ausência sendo presente. Que nem você tá agora, só que em forma de saudade. Engraçado como eu me lembro de tudo, sem que a gente aparecesse. Fotografamos as nossas paisagens. Nossos olhos. Para que todo mundo pudesse enxergar o mundo como a gente enxergava. Era tudo mais colorido com você. Sem efeito.
Depois de algumas mensagens românticas, fotos de alguns planos que a gente traçou e nunca cumpriu, cheio de gargalhadas eu chegava numa sequência de caretas. Infinitas. Algumas posições escrotas foram passadas pra trás. Algumas músicas. Nossa música. Aliás, a gente nunca dançou a nossa música. Fantasias. Poses. Qualquer idiotice nossa que a gente julgava como digna do nosso sorriso. Sorríamos por coisas lógicas. Você sorria pelo céu ser azul. Eu sorria por ser seu. Simples, né?
Quando você aparece pouco, eu lembro por ser bem o nosso começo, eu queria tirar foto de tudo. Pra poder contar pros meus netos que, aquele dia da minha vida, eu tive a felicidade de passar com você. Mas ainda era tímido de deixar você reparar que eu estava te guardando. Medo de tomar uma bronca no comecinho de um eterno fim que nunca chegou. Imagina que azar eu teria se você resolvesse me proibir de te olhar. Já te falei aqui com outras palavras, tudo era meio sem cor até você aparecer. Você é culpada pela minha melhora.
Volto um pouco mais, paro de enxergar o teu sorriso. O meu continuava firme lá. Era antes de tua chegada. Eu sabia ser feliz antes de ti. Você só me ensinou a ser mais feliz ainda. Eu gostaria de lhe agradecer por isso. Por ser a cereja do bolo de um momento tão bom. Por nem sonhar que você é um pontinho de equilíbrio que eu tenho. Um espelho, pra respirar e ter paciência. Que loucuras acontecem e, mesmo assim, uma hora vai passar. Antes de reclamar ou ter preguiça, lembrar quanta gente queria estar no nosso lugar.
Aprendi muito com você, pequenina.
Se cuida.