não é preciso morrer

Eu estava disposta a deixar meu coração ser pra sempre teu.
Eu queria te dar o meu amor todos os dias, até o último dia.

Sonhava em segurar tua mão por todos os caminhos e, quando não houvesse caminho, aceitaria construí-lo com você.

Eu me disporia a entender teus defeitos, teus dramas, teus traumas.
Me dedicaria para que nossa relação fosse sempre leve, sempre intensa, sempre sempre.

Poucas coisas são tão bonitas quanto ter coragem de assumir um erro, uma falha, uma imperfeição.

E essa tua busca por algo inexistente empurrou o nosso amor precipício abaixo. Ele caiu! Ainda tentou sobreviver e buscar ajuda mas, infelizmente, não resistiu aos ferimentos.

Mortes são sempre dolorosas.

E necessárias.
Tirei aquele vestido preto do fundo do armário e fui, os olhos embotados de lágrimas, fui.

No velório eu chorei, chorei quando cobriram o buraco com terra, chorei no caminho até minha casa, chorei por dias, semanas, meses.
Minhas glândulas lacrimais entraram em greve e pediram aumento de salário. Como eu não podia pagar tive que reduzir a jornada, elas gostaram e passaram a trabalhar menos. Menos vezes por dia, menos dias por semana, menos semanas por mês.

Comecei a me sentir bem e decretei que elas só trabalhariam em datas especiais como casamentos e formaturas e, às vezes, em momentos inesperados, como finais de livros e filmes bons.

Todos ficaram satisfeitos.

Eu sorri!
Quando fecho os olhos hoje, ouvindo alguma música bonita ou refletindo sobre algo que li, me esforço pra te rebuscar.

Não sei precisar um dia, um momento na escala do tempo. Só sei que agora, depois de incontáveis lágrimas, soluços e dores, você se transformou em sombra. Ás vezes ainda vejo, mas sem perceber você se dissipa no vazio feito a fumaça dos cigarros que fumei tentando te sufocar dentro de mim.

Nem sempre é preciso morrer pelo fim.

Ainda lamento algumas coisas como o fato de que não lembro mais qual era a cor dos teus olhos…

Engraçado, logo esses olhos que me desarmavam, me derretiam.
Olhos que despertavam os sentimentos mais bonitos que devem existir.

E quando eu achava que sabia tudo, você vinha cauteloso e vertia em meu ouvido palavras que despontavam novas sensações.

Era grata!

Era bom.

Era, verbo no passado, pretérito imperfeito do indicativo.
Imperfeito como eu, como você, como todo mundo é ou, pelo menos, como todos deveriam ser.

Então, desejo que um dia você enxergue que a perfeição reside exatamente em sua inexistência.

Só é perfeito o que não pode ser palpável. Como o amor, que existe independente de nossa vontade.

Ele nasce sem querer e morre quando tem que morrer.

Mas o detalhe mais incrível dessa história é que o amor sabe renascer.

Por isso o luto é válido. Para tornar o espaço livre, passível de novo uso.

Depois dessa concessão, depois de respeitar sua dor, segue.
Segue adiante.

Diante do fim, há sempre uma escolha primordial: Perceber que a diferença entre viver e morrer é bem sutil, muito tênue.

O que define o caminho é uma decisão bem pessoal.
De vez em quando vale a pena ser racional!

 

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autor_kamila

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