Explica essa foto. Não a sua última, que se tornou a nossa saideira. Essa aqui, perdida no meu celular. É você capotado na minha perna. Dormindo como se fosse um bebê que não quer sair do berço. Dormindo e suspirando devagar, quase que dizendo que não quer parar de sonhar. Controlo você com uma mão. Que acaricia o teu cabelo devagar. Você ronrona que nem um gato manhoso. Que gato. Maldito gato. Se você miasse talvez eu ainda pudesse cuidar de você, querido.
Pode explicar essa talvez, essa que eu odiei na época. Dessa foto que com tão pouco, falava tanto sobre nós. Eu falei que estava péssima e você soltou uma gargalhada. Me deu um beijo na testa e me agarrou com um braço só. Disse que não existia lente em nenhuma câmera desse mundo que tire a minha luz. Que a sorte era dele de ter um ponto focal na foto que nem eu. Postou. Apertou o afago e me beijou devagar. Eu quase sinto o teu gosto toda vez que eu olho essa foto outra vez.
Tive que trocar essa foto nossa que a gente decidiu deixar em preto e branco. Era uma das minhas favoritas. Aliás, era tão nossa que ela nem queria sair do porta retrato quando fui trocar. Colada. Que nem a gente era. Mas de uma forma natural, como se o tempo fosse fazendo questão de a gente se parecer uma coisa só. Daqueles que não se importam em começar uma frase sentido por saber que o outro vai completar. Mas pouco a pouco ela foi se desgarrando. Naturalmente. Igual nós dois.
Tem a foto do fim de tarde que a gente ficou assistindo naquele feriado. De uma tarde tão boa juntos, que dava vontade se ela durava um pouco mais. Pra ela continuar assim, verdadeira na luz do sol. Verdadeiramente parecido com a gente. Daquelas tardes onde a gente concordava em tudo sem dizer uma palavra. Quando o andar fica igual. A direção é a mesma quando a gente quer a mesma coisa. Que a gente fica até meio sem rumo quando não tem outra sombra do lado da nossa. A foto só tinha a nossa sombra. Como me fez feliz aquela sombra. Mas aquela tarde foi embora, como todas as outras. A sombra também.
Minha última fotos sem explicação, era só minha. Mas tirada da tua mão. Confiante e corajosa eu encaro o outro lado da paisagem de quem me olha. Eu tinha uma paisagem linda sem você no meu campo de visão. Eu já era mais do a sua paisagem. Tanto que você quase me enquadrou. Um pouco além daquela foto. Foto linda. Como você fazia isso bem. Como me viu bem. Como me fez tão bem meu bem.
Foto faz a gente lembrar do que a gente viveu num momento que a gente não quer esquecer. Foto é uma forma todo dia pra gente, como eu queria poder encostar nela outra vez. Se eu não fizesse tudo diferente. Sei que a única coisa que eu pudesse guardar eu guardaria. Como eu guardei essa foto. Como eu guardei você.
E como eu ainda não sei explicar.
Explica?