eles são jovens

Mas ele era tão jovem, que nem ele entendia as coisas que ele mesmo dizia. Diferente dos outros, talvez só tivesse a segurança nas palavras. Era tão firme que qualquer balela na boca dele virava fantasia. Prendia. Mas não mantinha. E ele tentava esquecer. Mesmo isso sendo uma triste forma de lembrar um pouco todo dia. Pensava tanto nela, que quando não pensava tinha a sensação de ter esquecido algo no seu dia. Tinha passado o dia tão rápido, tão desatento. Que esqueceu de ter saudade. Seria inconveniente, se não fosse com a gente. Só que ela era jovem também, daquelas que fazem os homens perderem o prumo da conversa quando entram no bar. Tinha largado a casa pra conhecer o mundo. Jurou pra si nunca mais sofrer por ninguém. Juntou as roupas, fez uma mala pequena. Levou saudade e rancor no mesmo frasco, pra poder intercalar as doses dos comprimidos. Diferente das outras, tinha aquele sotaque carregado. Que era quase uma tatuagem na testa, em caixa alta e fonte reforçada dizendo: Não sou daqui, me explica essa tua vida? Ele na correria da capital, com a vida robotizada. Do horário pra entrar até a hora de sair, ele intercalava alguns minutos quando lembrava dela e queria ser feliz. Então ele mexe no celular, dispara alguns saudades tão vazios quanto a sua carteira. Algumas demoram mais que as outras, mas as respostas sempre vêem. Entre mais um abraço oco de amor, ele prefere a própria coberta nessa noite fria. Assiste um filme que ela provavelmente iria gostar. Espera o cansaço do dia vir busca-lo no sofá. Mais um dia dele, sem ouvir o nome dela. Ela sentada em um banco, por alguma praia no litoral. Aperta uma ponta, que em dias atrás não seria uma cena normal. Espera calada, que a fumaça, dessa vez, leve a lembrava dele quando começar a ir embora com o vento. De tudo que ela aprendeu com ele, o mais divertido era o pior lado dele. Lúdico, cheio de fantasias. Fugia do comum, era longe do real. Era diferente de tudo que já tinha passado. Passava longe dele, mas já era tarde pra fingir que ele era tudo que ela queria ser. Pelo menos agora. Foi assim que o destino mudou dois caminhos. Que andavam muito bem até se cruzarem. Tanto é que se embolaram por um tempo. Riscando algumas trilhas lado a lado. Ela queria ver as praias do mundo. Ele queria seu próprio apartamento. Ela cabia no colo dele e ele adorava acariciar os cabelos dela até ela adormecer. Ela queria ser feliz. Ele queria ser respeitado. Ela querendo ser conhecida e ele querendo anonimato. Combinaram que teriam uma vida mais feliz. Cada um do seu jeito. Ele com a suas doses de sumiço que ele vende como coragem. Ela tomando seus comprimidos todos dentro do horário, com suas doses homeopáticas de rancor, que levam o nome dele rotulado no frasco. Mas eles são jovens. Vai passar.

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autor_jorge

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