Não, você não faz ideia

Eu acordava do teu lado e te via apressado recolhendo as roupas como quem tivesse uma entrevista de emprego.  Ficava lá, absorta, pensando estar te beijando numa mesa qualquer em Paris, tomando Moët, ouvindo alguma canção. A noite você vinha, numa quarta feira chuvosa, me beijava com sede, me comia com fome, me tomava com força. Depois ia, como se a mãe tivesse passado mal. E eu ficava lá, suada, nua, imaginando nosso beijo, exposto numa tela, no Louvre. Você ligava sábado e dizia que não podia, que brigou com o pai. Eu permanecia em casa, vidrada, vendo de olhos fechados nosso amor sendo exibido num outdoor em Nova York. Pois é, eu sempre criei situações. Sempre imaginei ações. Sempre esperei atitudes. E o erro foi todo meu. Quando soube que não era você comecei a fazer com que fosse. Eu nunca tive tanta certeza de amar alguém. Nunca estive tão certa de querer passar a vida com uma pessoa. E num passe de mágica depositei toda essa certeza em você. Toda essa responsabilidade pelo meu sorriso. Você era falho, era fraco, era um homem de momento. Comigo na quarta, com ela no sábado, com outra na segunda. Eu sempre que precisava. Elas, sempre que queria aventura. E eu, tola, te colocando nas cenas do meu filme, te tornando o cara do cinema, o mocinho da trama. Quando te vi de fato, entendi, não era você. Não éramos nós. Hoje eu danço em Paris, admiro as obras de arte nos museus e bebo em Nova York. Sozinha. Afinal, mon amour, eu sou a protagonista, a coadjuvante e a diretora da trama. Comigo só quem quer, quem não quer, não faz mal. Só depende de mim o final.

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autor_kamila

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