encantadoramente ao contrário

Tudo conforme o nosso combinado. Tudo do jeito que a gente sempre acreditou que fosse ser pra gente. Tudo como era esperado. No meio da semana, numa noite quente no meio da cidade que não dorme. A pergunta vindo do meu lado, ansioso e intenso. Que quer abraçar o mundo mas que não consegue abraçar você. Do teu lado, o mesmo sorriso apaixonante, o cabelo preso no descaso, aquele teu rabo de cavalo meio de lado, você no seu pijama e rolando de lá pra cá na cama do seu quarto. Recebe a minha pergunta já rindo e que não esperava. Nem te chamo pra sair e já recebo um não. Tudo como sempre foi, tudo de cabeça pra baixo.

Você é a aquela nota musical que eu ainda não alcancei. Nota que eu talvez morra sem alcançar. Que eu desisto de buscar, mudo o timbre. Mudo os instrumentos, as letras e os tons. Tudo diferente pra não ter que te buscar nunca mais. Mas vez ou outra, me pego sozinho no meu quarto. Sem folia mas também sem o teu retrato. Os acordes naturalmente se encaminham pedindo que eu depois de tanto tempo volte a te buscar. Eu tento, dessa vez quase consigo. Cantei como nunca, não te alcancei como sempre. Normal.

Fiquei fuçando os bares da cidade, os amigos e os casais. As casas noturnas e os restaurantes. São Paulo tem dessas coisas, na mesma rua, cortando ela de ponta a ponta, a gente atravessa todo tipo de sentimento. Tudo que é tipo de intensidade. Tem gente pedindo carinho, gente pedindo dinheiro. Tudo isso no mesmo semáforo. E eu só queria você, um banquinho embaixo de uma árvore e a madrugada toda pra poder te abraçar. É pedir muito?

Te procurei do nada, com um caminhão de mudanças quase estacionado na garagem da tua casa. Prontinho pra descarregar. Toda a minha mudança que eu juntei nesse tempo que a gente não abraçou, sabe? Aquele nosso abraço, que parece que a gente ensaia a cada dia junto com a saudade. Encaixa tão bem. Tive muito problema na minha vida que eu nem te contei e você já me respondia me abraçando. E era exatamente o que eu precisa ouvir.

Então meu bem, desculpe o horário ou o efeito dos baldes de cerveja. Desculpa pelo corretor que nem corrige e nem desembaralha minhas palavras pra você quando eu ainda insisto em te procurar. Eu queria que você soubesse que a tua ausência me fez um bem enorme e me fez crescer muito. Que depois desse tempo todo eu ainda te pego pela mão e te levo pra ver o sol nascendo numa praia que você não conhecesse só pra gente poder chamar de nossa. E que se tem uma ligação perdida no meu telefone que eu me amargo de nunca ter atendido, foi aquela que vinha com teu nome.  Prometo que um dia eu alcanço a tua nota, nem que seja do avesso.

Mas tudo sempre foi assim, pelo menos com a gente, encantadoramente ao contrário.

 

0bdfca19771a6587d4b11c350e3a2cb3

autor_jorge

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *