Todo mundo falando o que eu deveria fazer, toda as outras vozes do mundo me cantando exatamente como eu não deveria me portar. Só que eu, birrento como você conhece muito bem, preferi contrariar a todos. Preferi alimentar meu ego ao invés dos meus ouvidos. Separei todos os seus ingredientes preferidos, cozinhei exatamente da forma como você sempre gostou. Arrumei a sala daquele jeito que a sua mãe deixava quando passava uns dias em casa, por saber que era a forma que você adora. Abri aquela louça que ganhamos da sua amiga e nunca usamos. Postei a mesa exatamente igual aquele filme, botei seu prato, ajustei o relógio arrumei o meu cabelo. Sentei do outro lado da mesa, acendi a vela no centro e esperei o seu prato esfriar.
Degustei amargamente cada garfada daquela noite sozinho, batizei cada taça de vinho que eu enchia com o seu nome, pra que eu lembrasse muito bem quando tivesse uma ressaca de “você” na manhã seguinte. A vela apagou sem que eu precisasse ter dado um sopro. Joguei o seu prato no lixo e ainda tentei olhar mais uma vez no celular se existia algum rastro teu. Sem avisos, sem companhia e sem sinal. Paguei cada centavo da minha teimosia, segui a minha intuição e ignorei a maioria dos conselhos. Seguir o coração não deveria cegar nossos olhos e tampar nossos ouvidos. Enxergamos com dois olhos, ouvimos com dois ouvidos e amamos com um coração só. Olhos e ouvidos além de ser maioria diante do coração, são pares. São dupla desde o início da vida e sempre se entenderam muito bem.
Eu nunca soube lidar com problemas pequenos, minhas turbulências sempre foram intensas. Talvez esse seja o tal buraco que eu não sei lidar, qualquer brisa que bate no meu rosto é ventania. Ao invés de superar problemas pequenos com sorriso no rosto, eu prefiro agigantar todo o mimimi até que ele consuma todo meu bom humor. Eu te aumentei até quando você se tornou um problema na minha vida. Consegue entender, que eu te faço grande até quando você me faz mal?
Não tenho esses corações modernos, que são acostumados com abraços congelados. Esses que qualquer requentada satisfaz. Cresci com os pés descalços e brincando na rua. Quase não parava de almoçar, mas sempre tive um bom paladar. A comida feita naquela panela de barro da minha avó sempre foi muito mais saborosa do que esses congelados que aquele teu velho microondas esquentava pra te agradar. É uma visão diferente, mas o prato são iguais. O preparo é que faz a diferença no sabor. Só que pra ter amor no prato, tem que preparar com carinho e não com ausência.
O segredo está em todos os pontos, em todos os processos. A receita que eu segui foi a dos filmes, do jantar apenas com a chama de uma vela e você linda na outra ponta da mesa. Você o clichê do mundo de ignorar quem queria cuidar de você. Preparei como no meu sonho, de abrir a porta do carro. Você abriu a garrafa e preparou o seu copo, junto ao das tuas amigas. Eu esperei o seu prato esfriar e lentamente degustei o meu também. Ficou na temperatura das pedras de gelo do teu drink. Comi sozinho enquanto você bebia acompanhada. Então se existe algum prato que se come frio, talvez você goste muito dele, só que não é pra mim. Mas ainda prefiro amor e carinho servidos bem quente. Requentado não é igual, não tem o mesmo sabor.
Nem fui eu que fiz.
Bom apetite.