Outra vez a gente ta voltando em carros separados. Eu sozinho, guiando o meu no caminho de casa e você aceitou a carona da sua amiga. Outra vez a gente chega de mãos dadas e vai embora querendo deletar o celular do outro da agenda. Mais uma noite que vai embora onde eu queria ter você do meu lado e você não quer me ver nem pintado de ouro. O sol vai invadir minha janela mais um dia e do lado da minha cama você não vai estar. O que me assusta é que dessa vez eu realmente prefiro que seja assim.
Não é dramatizar tudo, mas o seu descaso tem me cansado também. Eu não estou cansado de você. Só cansei dessa mão mole que você me entrega quando a gente sai pra ir ao cinema. Eu não sei o que você está se tornando, não sei se isso é ausência de choque, ausência de susto ou só a minha ausência mesmo. Eu vou estacionar meu carro na minha garagem, você não vai precisar descer antes e ficar no sereno enquanto eu estaciono, já que a porta do passageiro não abre aqui em casa. Não vai precisar sair apertada. Não vai ter o que apertar. Não vai me ter pra te apertar. Não hoje.
Talvez amanhã a gente nem se fale, eu sei como vai ser a tua rotina. Você sabe como vai ser a minha. No final do dia eu vou estar agoniado pra te contar que aquele casal de amigos meu vão fazer aquele cruzeiro que fizemos no ano passado, só porque a gente contava com o olho brilhando de como foi bom pra nós. Que todo mundo implora pra ter uma felicidade como a nossa e você insiste em tropeçar nessa tua maturidade forçada morena. Não sei se te contaram, mas lasanha todo mundo sabe fazer. Igual a da minha avó não tem igual. Da pra comer o mesmo prato gostar de um e do outro não. Dá pra viver a mesma história e ela ser boa ou ruim. Dá pra ser feliz comigo sem julgar o que já passou. Dá também pra só me dar uma chance.
Uma chance pra que você olhe pra mim com os olhos que eu te enxergo toda manhã. Eu sou moleque e ainda tenho muita coisa pra aprender. Já vi muita coisa bonita nesse mundo, mas você sabe que igual a você eu nunca vi igual. Já fiquei te olhando dormindo milhares de vezes. Corpo encolhido, mãos fechadas para o rosto repousar. Cabelos bagunçados tentando esconder estas sardas do teu rosto, que eu detalharia perfeitamente quantas elas são.
Outra vez a gente brigou. Outra vez eu que vou correr atrás de você, não nego e nem me envergonho. Mas cada vez eu vou perdendo a força na perna. Cada vez eu to cansando mais rápido. Opostos se atraem, mas não combinam. Eles se completam, mas só quando se esforçam. Eu não sou exatamente quem você sempre sonhou, mas se você me disser tudo certinho eu realizo todos os teus sonhos como se eles fossem meus. Juro. Até pelo fato do meu sonho atual ser simplesmente te ver feliz.