a culpa também é sua

Outra vez você vai voltar pra casa antes do sol aparecer. Mais uma noite em que você mesmo rodeada de todas as suas amigas preferiu ficar em silêncio. Pra poder sorrir amarelado e dizer que estava tudo bem, mesmo carregando consigo uma enorme placa pendurada no pescoço dizendo: “Tô mal. Muito mal”. Saiu de casa usando a roupa que ele mais gostava, pra “caso ele apareça”, automaticamente se sentir prestigiado e dizer que você esta linda. Junto com as suas companhias encostou-se ao balcão do bar, todas pediram vodka. Você pediu tequila. Tomou tentando esquecer. Esquecer o que já tinha vivido e o que ainda ia viver. Só que quando a memória não apaga na terceira tequila, a culpa se acomoda de um jeito que a gente tem que aprender a conviver.

Mesmo assim continuou tudo como mandava o manual: Celular ainda desligado, amigas do lado, copo cheio, sorriso no rosto e cabelo arrumado. Exatamente como manda o roteiro de quem quer esquecer. A mão transpirava e acariciava o aparelho desligado, trocaria todas as amigas para enrolar o braço no dele, ainda preferia uma taça de vinho ao invés do copo de vodka e o que mais lhe tirava o sorriso do rosto ainda era não se preocupar com cabelo. Era só aquela brisa que a gente tem quando descobre que temos que aprender a resolver as nossas coisas do nosso jeito. Usamos as experiências dos outros como uma orientação, mas do nosso jeito é que a gente vai colocando os tijolinhos do jeito que a gente quer enxergar no muro. Deixou as amigas meio de canto e foi ficando cada vez mais em silêncio. Até a hora que se sentou, botando a culpa nos pés que doíam devido ao salto. A dor ficava um pouco mais pra cima. Só que ninguém queria te falar, já que nessas horas, você não quer ouvir ninguém.

É nessa hora que a gente não quer ver ninguém. Hora que a gente até pede pra chorar pelo ouvido, pra não ter que escutar nada que acontece na nossa volta. Mas é nessa hora que você precisa entender que enquanto os seus olhos lacrimejarem, vai parecer que ele ainda te merece. E meu bem, a gente sabe que não é assim. Vejo ainda, que mesmo com essa cicatriz na perna que você teve do tombo de bicicleta, com essa tatuagem que você tem no pé direito e essa queimadura pequena que você tem na mão. Você já aprendeu que tudo tem a sua intensidade de dor. Já aprendeu mais de uma vez que chagas se fecham, que até as feridas que você se programou pra ter cicatrizam e quando isso acontece, a gente até esquece que um dia aquilo lá incomodou tanto.

Você tem espelho em casa, então eu não preciso ficar aqui te bajulando com motivações clichês. Se a sua vida era muito agitada pra ele, sem tempo pra pensar em vocês. Faça o que você sempre fez: Trabalhe e se agite. Curta sua dor abrindo um pote de sorvete, mas abra o seu computador e continue se planejando. O seu ritmo louco não fez você perder o homem da sua vida. Só fez você perder um bom homem, mas que não conseguia te acompanhar. Vejo casais que nunca pensaram num “pra sempre”, querendo sofrer uma dor que não é deles quando o fim bate na porta. Meu bem, comodismo não é amor. O amor te cega. O comodismo te dá preguiça de olhar. As pessoas resolvem mudar da água pro vinho, pra recuperar alguém que quando estava ali, elas nem se importavam.

A gente conquista tudo com as próprias pernas, absolutamente nada cai do céu. A gente carrega tudo nessa vida, mas não sabe carregar culpa mesmo quando ela é nossa. Joga sempre pro outro, cria teorias e faz parecer que tudo desde o começo maravilhoso, caminhava para esse triste final. O ser humano é um bicho tão chucro, que divide os bens, mas não divide culpa. Ela é sempre do outro. S-e-m-p-r-e. Dizer que ele não te merece, não o torna um ser maligno vindo das trevas sem coração. Nem quer dizer que num futuro próximo todas suas somas no Excel vão resultar em outro homem. Só quer dizer que foi bom enquanto durou. Durou enquanto tava sendo bom. Mas acabou.

Quando a gente não quer falar com ninguém, estamos diante de uma das melhores horas em que a gente deveria ouvir. Mas conselhos não são regras e nem leis. Não aplique tudo no sentindo literal nessa vida, adapte-se. Afinal, ninguém transforma ninguém, meu bem.

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autor_jorge

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