eu ainda não entendo química

Peguei as minhas malas, arranquei o celular da tomada ainda balançando o carregador, vesti  aquele jeans meio surrado e calcei literalmente o primeiro tênis que encontrei. Entrei no carro e comecei a rota de busca pelos meus companheiros de viagens. Adiantei o meu relógio para que eu pudesse não me atrasar. Abasteci o tanque do carro com gasolina e o meu peito com esperança. Pra ver se dessa vez, eu finalmente consiga encher esse meu tanque com alguma coisa que não seja saudade. Paguei o frentista com os trocados que tinha na carteira e completei com recibos dos teus abraços, que ficavam aonde você deixava seus anéis.

Poucos metros depois, até a janela do meu primeiro amigo, que obviamente não estava pronto. Tempo é uma coisa estranha, tem gente que usa pra calcular a velocidade, tem quem entende ele mas não controla. E tem quem não entende e fica pedindo às vezes pra pensar. Eu sempre fui assustadoramente pontual, diferente dele. E de você, meu bem. Eu adiantei os ponteiros dos nossos horários também, você mal se importava com o tempo atual. Mas vez ou outra nosso ponteiros cruzavam. Nessa hora eu podia ouvir os sinos tocarem. Os pássaros cantarem. Podia ver meus planos acontecerem exatamente no meu tempo. Pra mim era tudo acontecendo como eu queria. Pra você era só viver aquele momento, naquela hora. Mas no meio daquele relógio cético da minha vida, você adiantou as estações. Eu estava começando a entender o inverno, você estava no auge do verão.

Inconsciente é uma coisa engraçada. Tô com todo o final de semana planejado e mesmo assim a cabeça insiste em querer simplesmente te ligar. E o meu maior medo nessa ideia toda, é simplesmente você atender. Se você soubesse metade do efeito da sua voz, entenderia porque eu gostaria de engarrafa-la. Pra que todo mundo pudesse sentir o que eu sinto, quando você diz: Alô ou Olá. Acho que elas despertam alguma incrível reação química no meu corpo. Na verdade acho que essa é a palavra que eu tento desmembrar sempre que me lembro de você. Química, maldita química. Sem conhecer como sentimento eu já odiava você com todas as forças. Com todos os seus princípios reagindo dentro de mim eu odeio mais ainda.

Viajando para lugares que eu nunca estive pra preencher sentimentos que eu conheço bem e não consigo esquecer. Parece uma maluquice tremenda. Mas se visto de outra forma, é a mesma coisa que eu sinto, ao ver as pessoas caminhando de mãos dadas, explodindo em longas gargalhadas e sentir uma saudade de algo que eu nunca tive. Expliquem isso pra mim agora, químicos malditos. Adoraria entender quais as malditas ligações devem ser quebradas para que essa cadeia viciosa e rotineira se acabe de uma vez. Pelo menos dentro de mim, que é onde parece que a coisa realmente vingou.

Além do mais talvez no meio dessas dúvidas, meu mundo tenha realmente começado a girar num sentido certo. Voltei para as minhas corridas e acredite se quiser mês que vem corro minha primeira meia maratona. Nunca estive tão bem no trabalho. Que está bem longe de ser voltado para essas ciências exatas. Ainda que eu realmente entenda soluções dessa matéria ou sentimento. Posso enumerar todas as coisas que eu aprendi nessa minha vida e que não vão mais me servir de nada: Bháskara, Tabela Periódica e todo esse carinho que eu sinto quando me lembro de ti.

Ufa meu amigo, que demora pra você chegar, peguei no sono e lembrei das aulas de química da nossa escola, acredite se quiser…

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autor_jorge

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