Eu acho que foi quando eu acordei naquela manhã fria e meu primeiro pensamento já era você. Mesmo passando quase toda a madrugada anterior ouvindo a sua voz, me sentia como se precisasse do tom dela para acompanhar a minha manhã. Acho que foi quando eu comecei a criar um hábito bobo de sorrir sempre que escuto o seu nome. Talvez tenha sido quando você disse que nós não saberíamos o risco que estávamos correndo, por talvez nos conhecermos demais. Sei lá, vai saber, tenha sido quando eu vi meus olhos simplesmente pularem de alegria quando você sorriu de alguma coisa sem sentido que eu tenha dito. Eu não tenho certeza. Mas isso é o que eu acho.
Em alguns momentos, acho que foi quando eu perguntei se você gostava de cinema e você apenas concordou com a cabeça. Depois, acho que foi quando eu perguntei se você gostava de pipoca, você respondeu que preferia cerveja. Fizemos um pequeno esquenta para o cinema, compramos algumas garrafas e fomos para a sala. Quase certeza de que foi ali, eu acho. Talvez tenha sido aquele filme péssimo que você escolheu para vermos. Mesmo o final não condizendo com a sinopse, minha vontade era simplesmente de dizer para todos nesse mundo, que foram de exatos cento e vinte três minutos ininterruptos da sua mão entrelaçada com a minha. E por Deus, como isso era bom.
Algumas vezes me paro pensando que sem dúvida deve ter sido quando sentamos e desembestamos em falar sobre livros. Ou quando eu te emprestei um dos meus favoritos e você o devorou em um dia. Me pego pensativo achando que foi na noite que sua cachorra, resolveu ver se meu óculos preferido era resistente a mordidas. Ela comeu e o quebrou. Isso é lógica. Eu me irritei, bufei, te abracei e sorri por dentro. Acho que isso não é. Talvez tenha sido numa noite que parecia perdida, que meu telefone tocou com você dizendo que queria me ver, mesmo que fosse por cinco minutos. Acho que pode ter sido naquela noite abafada e sem estrelas em que tomamos sorvete e falamos sobre todos os lugares que sonhávamos em visitar um dia. Eu só acho.
Acho que também que pode ter sido quando teu santo bateu com o meu. Quando eu sugeri algo totalmente sem cabimento e você apenas me puxou pelo braço e falou: vamos. Talvez tenha sido naquele dia em que eu tenha tomado todas as doses de coragem do mundo enquanto deitado no seu colo desabafando todas as tragédias da minha vida, você conseguia me fazer enxergar o lado bom disso tudo. Talvez tenha sido aquela pizza de sabor diferente, ou então, tenha sido aquele copo de drink borrado com o seu batom. Quem sabe, é aquele seu vinho que escorreu pela parede do meu quarto. Talvez seja aquele meu último cigarro que você me fez apagar enquanto me beijava. Acho que a culpa seja do seu cobertor que se molda tão perfeitamente ao meu corpo. Acho que é o seu maldito abraço que me faz querer que o tempo parasse imediatamente a minha volta.
Meu coração que é costumeiramente acelerado se acalenta quando você chega, acho que isso é bom. Ainda não perdi a voz quando te vejo. Não acho que isso seja ruim. Acho que foi quando a distância me fez contar gradativamente cada dia enquanto você não voltava. Acho que tive você tão emocionalmente longe e distantemente perto, que não consigo mais lidar com a sua distância física se te tenho emocionalmente tão próxima. E olha que eu acho que você sempre esteve aqui pertinho. Que tolice a minha, desculpe a desatenção, acho que te achei. E estou assustadoramente feliz com tudo isso. E eu não ligo se você não está. Eu vou te fazer feliz também. Só que isso eu não acho. Eu tenho toda certeza do mundo. Assim como eu tenho a certeza que te achei.