minha última prece.

Eu pensei seriamente em fazer milhões de promessas. Fiz calado, sem que ninguém soubesse ou opinasse, minhas simpatias para tentar fazer com que tudo que estava acontecendo fizesse algum sentido. Juro que tentei aprender a me despedir em pelo menos uns três idiomas novos. Ajustei as minhas músicas românticas que eu já havia batizada como nossa, para músicas de adeus. Fiz tudo como manda o maldito roteiro da vida quando falámos de despedidas e términos. Mas diferente de como vinha escrito na bula, ao final do tratamento, mesmo depois de náuseas e alguns desconfortos, você ainda estava lá. E eu ali sem saber o que era real e o que não era, fiquei mais perdido do que eu já sou.

Enganei-me no momento em que resolvi que todo aquele universo paralelo em que você me transportava seria só nosso pra todo o sempre. Se eu já tinha o sentimento de posse de algo que não era meu. Tente imaginar o quão agoniante é sentir a falta do que eu nunca tive. Sempre te incluí em assuntos que você nem ao menos era citada. Encontrava nas coisas mais tolas um motivo de liga-las a você. Mas a tolice não estava nas coisas. Estava em mim. No seu caminho, umas vezes ou outra, você acabava junto com o meu. Eu, cego, fazia com que todo o meu roteiro cruzasse o seu em um ziguezague sem rumo, assim como era todo o meu caminhar.

Eu queria te ter por todos os dias, você só me desejava naqueles mesmos horários. Eu continuei me enganando de que aquilo era uma forma de você criar coragem de encarar, quando na verdade eu só era a forma mais agradável de você se esconder. Aprendi com você, que quem repousa a cabeça no coração no momento do abraço, é quem normalmente precisa de mais carinho. E seu peito se encaixava melhor ao meu rosto do que todos os meus travesseiros. E gradativamente você foi me moldando e eu fui me viciando nos seus enxertos. Sua mão simplesmente encaixa perfeitamente na minha. Assim como o seu abraço. Talvez você encaixe exatamente em todos os meus vazios. Eu que ainda insisto nesses buracos.

Agora, eu desisto de todas as premonições e tragédias anunciadas que viveríamos. Ajoelho e entrelaço as minhas mãos, como em todas as orações, eu me abraço. Eu me preencho. Ocupo todos os meus vazios sem você. Apenas com o meu amor próprio. Viciei-me em você, aconteceu e sei que a culpa não é integralmente sua. Afinal, de todas as vocações ou talentos que eu gostaria de aflorar nessa idade, comecei a desenvolver o mais vexatório de todos: O de ser a sua sombra. Então peço que você siga o mesmo caminho que eu, só que em direções opostas. Para que cada passo que eu der para a direita, você possa dar dois para esquerda. Nunca recuando e nunca olhando pra trás. Que você ilumine todos que te cercarem. E que eu esteja sempre longe o suficiente para nunca mais ser sua sombra. Amém.

autor_jorge

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