Amanhece mais um dia cinzento na cidade. Mais um dia em que as pessoas ainda preferem serem meias pessoas durante as madrugadas. De tanto fugirem dos medos e frustrações da vida todas as cores do mundo foram se desbotando pouco a pouco. Banalizaram o amor, resolveram evitar tudo que o rodeia também. Desaprenderam uma das melhores coisas que se pode fazer antes de amar eternamente: Apaixonar-se sem preocupações.
A sociedade deixou de se apaixonar. Transformou entregar flores em alguma coisa fora do normal, ou apenas em pedidos de desculpa. Chocolates deixaram de serem entregues sem sentido ou apenas em datas em que o coelhinho aparece por ai. As músicas pararam de ser de amores eternos e cada vez mais são de boas lembranças que não voltam. Caminhar lentamente e abraçado já não é mais motivo de orgulho. Apagaram o fogo que ardia sem se ver. E então por medo, a sociedade vai caminhando a passos largos para deixar de viver.
Por favor, parem de se dispensar. Parem de passar madrugadas em solidões e silêncios que parecem não ter fim. Passem mais tempo juntos, saiam pra jantar e se conheçam entre umas taças de vinho. Dancem juntos como se não houvesse mais ninguém olhando. Beijem-se como se fosse a última vez. Durmam mais juntos, acordem de frente um com o outro. Se apaixonem pelos olhares matinais. Deixem os dedos percorrem as curvas dos corpos aninhados. Pare de se cobrir com distâncias, mensagens, medos, fugas. Se desarme. Se cubram apenas com lençóis e abraços.
Estão deixando de viver aquela parte da vida onde algumas coisas acontecem sem o nosso controle. Aquela parte da vida, onde os olhos brilham por simplesmente encontrarem alguém. Esqueceram aquela parte onde dar a mão e caminhar pela praia é bonito. Dizem-se tão avançados, tão maduros. Que não ligam, ou não atendem, nos outros dias para não se apegarem. Oras, deixe as pessoas ligarem no outro dia pra dizer um “bom dia” se a noite foi boa. Pare de engrossar a voz quando o telefone tocar e o nome dela aparecer. Orgulho, no dicionário, fica próximo de solidão. E não de amor.
Tanta gente machucada por esse mundo. Tantos bons abraços que deixam de ser dados por medo. Estamos ficando cada vez mais carentes de abraços. Aquele que protege e acalenta. Aquele que é tão bem dado, que junta todos os cacos, que a vida nos fez questão de estilhaçar, e que pensávamos que nunca mais iam se colar. Por favor, não calem os risos frouxos. Role na cama sem sentido enquanto a sua cabeça estiver pensando nele. Acaricie fotos que te fazem bem. E se for possível, avise a pessoa que você estiver apaixonado. Mas não tenha pressa, pois quando essa hora chegar, talvez já seja amor.