Ela sempre foi mais “na dela”, falava pouco, sempre mais reservada. De todas as coisas que ela amava no mundo, os momentos em que vocês ficavam em silencio, aninhados no sofá da sala, assistindo qualquer besteira com a televisão baixinha eram os favoritos dela. Ele já era falastrão, não ficava em silêncio nem ao menos sozinho, falava por ele e por ela. Você tão na sua que se acomodava em curtir o frio. Ele sempre preferiu esquentá-la.
Ela era atleta de alto nível. Adorava corridas matinais, transpirar a preguiça pelos parques da cidade. Um exemplo de como viver bem. Você quase sempre a acompanhava, mas deixava tão claro que era por falta de opção. Não precisava disso. Algumas vezes dava o melhor parar deixá-la para trás e mostrar o quão vigoroso você era. Ele era o futuro de um jovem atleta sem rumo. Jogou a vida toda, hoje vive das histórias dos seus feitos em campo quando são contadas na mesa de bar. Nos parques, ele cansava com metade dos piques dela. Você esnobava quando ela dava o melhor. Ele dava o máximo para no final apenas aplaudir todo o vigor físico dela. Você sempre quis o lugar mais alto do pódio. Ele só queria ela ao lado dele quando ele subisse.
O seu abraço parecia não ter fim. Ela se prendia, se sentia a pessoa mais segura do mundo. Ele a confortava. Ela queria ficar no seu abraço pra sempre. Você apenas o tempo suficiente de um longo suspiro. Ele queria ser o “pra sempre”do seu abraço. E quando você se cansava, sem nem pensar, você adormecia. Ela mesmo assim te admirava dormindo. Ele não conseguia pegar no sono, se ela não estivesse dentro do seu abraço.
Ela gostava de filmes de romance. Você dos de ação e de guerra. Ele simplesmente gostava de qualquer coisa que passasse se estivesse sentado de mãos dadas com ela. Ela lhe apresentou o teatro. Você sempre tentou negociar um cinema. Ele avisava dia e horário que os musicais favoritos dela estariam no Brasil. Você queria sempre saber mais do que ela sobre as coisas. Ela até achava isso legal. Ele preferia que ela soubesse das coisas assim como ele sabia também. Vocês se pareciam muito. Eles se completavam bem.
Quando a chuva caia, ela sempre ficava meio perdida. Você corria pra um lugar coberto com ela pelo braço. Ele corria pro meio da chuva com ela no colo para poder beijá-la. Ela sempre gostou de homens altos. E você era maior do que ele. Ela se derretia com homens de costas largas. E sua envergadura era quase duas da dele. Mas você se preocupava só em acelerar o carro nas curvas da estrada. Ele só queria manter a curva do sorriso dela. Quando você a atropelava contando do seu dia. Ele com olhos vidrados escutava cada detalhe do dia dela. Realmente ele não era o melhor pra ela. Você que o fez ser. Uma pena.