meu oposto

Certo dia, me deparei com um grupo de pessoas falando sobre algo mágico. Parecia realmente ser diferente de tudo que um dia eu já poderia ter visto. Contavam alegres uns aos outros, sobre uma garota que era diferente de todas as outras. Falavam sobre algo que acontecia a todos que a conhecia, de um tal encantamento fora do comum. Uns ousavam dizer que ela não era dessa época, que parecia trazer algo perdido durante esses tempos modernos com ela. Contavam a historia de uma garota linda, de sorriso inocente, de uma pureza apaixonante. Eles falavam de você.

Não precisou muito para que quando você chegasse, ficasse lógico de quem eles tanto falavam. Sem ouvir o seu nome uma vez na mesa, a forma como todos olhavam vidrados para o seu sorriso tímido que cumprimentava todos naquele bar, era uma resposta em alto e muito bom tom. Retirei a minha senha na sua enorme fila de apaixonados e simplesmente aguardei a minha vez para me apaixonar ainda mais. Na hora de me atender, fui recebido por uma simpatia tão envolvente, que por um momento acreditei que palavras que machuquem o coração de alguém simplesmente não faziam parte do seu vocabulário. O problema dessa consulta, é que elas faziam (e muito) parte do meu.

O ruído foi imediato. O atrito foi gritante. Eu estava me deixando encantar pelo meu oposto, mas a proporção com a qual meus olhos brilhavam, nossa distância aumentava. Natural, afinal éramos opostos. Se ela era a parte que apaixona. Eu era a parte que assustava.  Criado na noite e dormindo no sereno, se deixando levar pelas dúvidas em perguntas maliciosas. Pela risada tímida da piada que não entende, mas tem mais vergonha ainda de perguntar o real significado. O oposto chama atenção por ter exatamente tudo que não temos. E se não podemos ter, queremos pelo menos cuidar para que não deixe de existir opostos assim, gestos assim, pessoas assim.

Mas antes o espaço entre nós fosse apenas ocupado por dúvidas, o maior problema das dúvidas é que elas são nossas, mas algumas pessoas sem serem perguntas, se acham no direito de resolver. É nessa hora que o meu cavalheirismo chega aos seus ouvidos em forma de cafajestagem. Que o carinho diferente com o que eu te trato vira um clichê “ele faz isso com todas”.  Somos constantemente cercados de pessoas que acham que conhecem todas as pessoas. Mas não por conversas, atitudes ou tempo. Julgamentos de pessoas que não conhecemos, com base em pessoas que nunca vimos, mas nos julgam iguais. E pronto, tempos um enorme bolo fermentado pelo medo das pessoas se conhecerem.

Desde que te conheci, desejei que você tivesse aparecido antes na minha vida. Não antes de me acostumar em acordar sozinho. De dormir tarde, com dezenas de conversas pela metade antes de deixar o sono me consumir. Queria que fosse antes que eu encontrasse o meu primeiro oposto. Queria que você tivesse sido o meu primeiro amor.

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autor_jorge

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