Primeiramente queria dizer que sou criado à moda antiga. E aprendi com a minha senhora, que para que as coisas realmente fossem fixadas na memória deveriam ser escritas. Então me sento sozinho em uma noite de verão, apenas com a luz da lua para iluminar, uma taça do seu vinho preferido para me acompanhar, um pequeno bloco de anotações e caneta que não sai do meu bolso, para que eu possa seguir obediente o ensinamento de quem me trouxe ao mundo. Vou lhe escrever para que eu possa realmente gravar. Vou escrever para não me esquecer de te esquecer.
Quero que antes de tudo, fique claro que está é uma carta de pedido para você sumir. E não para voltar. Que eu aprendi totalmente o recado que você um dia quis dar. E que não se fazem mais necessárias as suas aulas de saudade. Quero que saiba que por mais que pareça eu lhe quero bem. O mundo precisa se apaixonar por você, então peço que já que não foi por mim, que pelo menos você se apaixone pelo mundo. Cansei do telefone que me enchia de esperanças, que tocava quando você bem entendia, que eu atendia orando para um ouvir “saudades”, nem que fosse camuflado em outras palavras, ou até mesmo embargado por um copo de bebida, mas que nunca passavam de assunto sereno e tranquilo, no qual eu fantasiava para depositar os trocados de fé que eu ainda me restavam para aquela prece que nunca foi atendida.
Nunca quis aceitar. Muito menos concordar. Mas não falávamos a mesma língua, nunca falamos. O que sempre impossibilitou uma possível conversa. Você me entendia perfeitamente, eu só entendia o que queria ouvir. Nem sempre é bom ouvir o que queremos e nos fechamos para o que realmente deveria ser dito. Encantei-me por você aos pedaços. Pelo sorriso preso, pelo olho claro que brilhava como uma estrela que não queria se apagar, pela desatenção das conversas, pela saudade que eu não tive, mas que você carregava tanto nas palavras que eu poderia sentir como se fosse minha. Que bom que foi assim. Talvez se tivesse conhecido você completa, com o toque das mãos quando se entrelaçam, com o abraço que acalenta e protege, com o beijo que unifica dois corpos. Talvez estivesse fadado a nunca esquecer teus detalhes, que me já me perduram sem nunca ter vivido.
Você só simplesmente sentia falta do mundo que eu entreguei pra você. Que do alto do trono que eu mesmo construí você apenas assistia todo o reino se ajoelhar. Mas muito tempo na mesma posição cansa, mesmo que de joelhos seja para agradecer. Hoje sinto que aprendi a digerir sua ausência, mesmo com ela fazendo silêncio em todo lugar. Eu queria povoar a sua mente pelo menos um dia da forma como você passeia pela minha. É lindo e trágico. Sem que você queira ou controle, todas as coisas que cercam o dia a dia me fazem lembrar você. Parece que as floriculturas decidem por expor apenas as suas flores favoritas, um festival de arranjos dedicados a você então presenteia a cidade. Sem contar desse seu poder fabuloso de encaixar em absolutamente todas as musicas que a rádio toca, de amores até saudades. Você combina harmonicamente com todas, de lá a sol, me arrepio com algumas estrofes que me fazem até sentir o cheiro do seu perfume. São memórias tão boas que eu desejo que você sinta isso por alguém também. E o mais breve possível.
Ainda ouço de longe sua voz. Como se guiasse ou orientasse cada movimento que faço sentado em uma mesa de bar. Como se soubesse que todos os passos dados na noite, são para esquecer as noites com você. Sou complemente dominado por vontades que você não tem. Vontades que eu sonhei que você tivesse. Querendo me livrar do sentimento bom que hoje me faz tão mal. Desejei tanto não sentir mais aquela falta de ar, que quando me dei conta já estava completamente sufocado. E para que eu pudesse respirar melhor apenas deixei de consumir essa droga viciante e bela que batizei com seu nome. Desintoxiquei-me da alma mais bonita que um dia pude conhecer. E assim como veio, se foi. Não deu não, nem tchau. Eu não entendi perfeitamente como funciona esse tratamento. Só sei que cada dia que passa, vou aprendendo lentamente como tirar você da minha vida. Para que eu volte a respirar, para que eu volte a preencher minha mente com outras coisas. Para que sobre um pouco de mim para que eu mesmo possa aproveitar. Então vai. E não volta.