tô com falta

Tô com falta de tempo. Resolvi dedicar todo aquele pouco que me restava totalmente comigo. Foi então que eu me fechei. Parei de olhar por toda a minha volta e comecei a olhar pra dentro. Só que eu acho que eu olhei demais. Arrumei toda a minha bagunça, acho que deixei as coisas tão do jeito que eu sempre quis, que hoje não quero absolutamente ninguém para desarrumar, ou pra dar palpite. Fui juntando os cacos de pratos quebrados no passado. Não varri nada pra baixo do tapete e joguei absolutamente tudo fora. Coloquei pratos novos, louça de qualidade. O problema todo é que algo intacto não tem história. Sem histórias as coisas vão ficando vazias. E se nem pessoas prendem por muito tempo apenas pela beleza, o que dirá pratos e louças.

Tô com falta de ar. Parece que alguma coisa não deixa com que tudo que eu inspirasse chegasse da forma correta aos meus pulmões. Eu precisava desobstruir o que não me deixava respirar. Mas não sabia exatamente se eu queria tirar esse obstáculo do caminho. Toda aquela fumaça dentro do meu peito, era apenas resultado de um antigo vício. Mas como qualquer vício, de alguma forma aquilo já tinha me dado alguma satisfação. Triste mesmo, era sentir que toda aquela névoa negra que arranhava minha respiração era como o motivo dos meus sorrisos tinha acabado.

Tô com falta de coragem. Principalmente de ir atrás de algumas coisas que fui deixando pra trás sem nem ao mesmo tentar manter. Resolvi ir deixando tudo que pudesse me chamar um pouco de atenção de lado. Hoje estou aqui praticamente suplicando por alguma coisa que me tire dessa rotina acomodada. Alguma coisa que me coloque fora desses velhos trilhos, talvez porque eu já não aguento mais fazer o mesmo caminho por tanto tempo. Já sei todas as estações que me aguardam sem nem ao menos pestanejar. Só me entristece o fato de que nenhuma estação me faz ter vontade de descer e ficar.

Tô com falta de juventude. Meu rosto ainda engana as outras pessoas passando uma coisa que já não sou. Envelheço a cada mês, não a cada ano. Fico me cobrando de saber mais que os outros, de estar sempre ciente de tudo que é colocado em pauta. Nessa busca incessante da vitória, perdi a glória de chorar. Deixei a inocência em alguma brincadeira que não sei mais como se brinca. Tirei todas as minhas dúvidas por conta própria e não perguntei pra ninguém. Quis provar que era possível saber tudo sozinho, que fiquei sem ninguém do meu lado, para que eu pudesse contar tudo o que eu sabia.

Tô com falta de amor. Rezo todo dia para que eu não tenha gastado o meu todo de uma vez. Mas não o vejo em nenhuma prateleira para vender. Não acho nenhum bar que me venda doses dele. Faço pesquisas, faço inúmeras perguntas quase todas elas sem respostas que realmente possam me ajudar a responder essa dúvida. E fico com a sensação, de que pelo menos pra mim, ele possa ter acabado. Essa sensação agonizante de uma atenção que o mundo insiste em não me dar. É mais assustador ainda quando fica fácil de ver que o amor não esta faltando só pra mim. E então me desespero, machucando o coração, tirando dele uma das suas funções básicas: amar.

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autor_jorge

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