o dele e o dela

Bom dia para o chefe. Para os colegas de sala. Senta na sua mesa. Ele iniciando o computador.  Abre o navegador e em sequência suas abas são: notícias do seu time, bolsa de valores, caderno de ações e rede social dela. A musa dele. Já não se falam mais. Mas ele continua ali de longe como se tomasse conta de algo. Não faz nada. Não interage. Apenas observa. Maravilhado com as palavras dela, com a mudança no corte de cabelo, simplesmente ele a vislumbrava, mesmo que a distância. Já havia mandado flores, se declarado, mudado a sua forma de ver o mundo, tudo por ela. Mesmo que ela não soubesse que era. Vira o celular contra a mesa e brinca com ele, a capinha usada ainda é aquela que um dia ela pediu para ele guardar. Ela nunca mais pediu. Ele nunca devolveu. Era uma forma de ele a ter por perto o tempo todo.

Num outro canto. Junto com as amigas no salão. Ela falava sem parar ao telefone com ele. O motivo daquele sorriso bobo dela. Já havia marcado todos os seus passos durante o dia para que quando o encontrasse naquela noite. Saindo dali ainda passaria na drenagem, depois shopping para escolher o salto que combinasse com o vestido que também era novo. A noite era só deles. O que ela não sabia era que o telefonema era para desmarcar o encontro da noite. Que ela seria tomada pela vontade de ficar em casa. E que ele sairia sem ela. Se fosse com outra garota ou com os amigos já não importava mais. A lágrima já escorria rapidamente pelo canto do olho, sem que ela tivesse controle algum.

Dadas as suas devidas proporções, eles sofriam com as suas intensidades. Suas fantasias de união e felicidade sem que seus motivos soubessem. Era mágico e intenso. Só não era recíproco. No meio desse monólogo de sofrimento, as pessoas que os rodeavam sabiam das suas frustrações sentimentais. E quis o destino que naquela noite, o acaso os cruzasse. A solidão dos intensos. Com a prepotência dos admirados. Cada um no seu cenário. Cada um com a quantidade de raios da lua merecido. Em alguns lugares, colaborados pelas luzes do globo de luz que iluminava a pista. E foi lá que as solidões se esbarraram.

Ao pedirem ao mesmo tempo, a mesma bebida, ao mesmo barman. Pareciam estar querendo esquecer a mesma coisa. E estavam. Riram. O sorriso dela durou mais que o dele. O dele foi interrompido pelo nome dele perguntando o dela. Saíram de lá e foram apresentar os amigos, dançar, repetir os respectivos drinks iguais. Até que o inevitável encontro dos lábios aconteceu. Era intenso. Como se tivessem guardado esse momento especial para alguém. Os corpos encostados um ao outro conversavam pelo tempo desperdiçado entre eles. Como era bom o dançar das mãos dele nas costas dela. A delicada mão dela que brincava com o rosto dele. Poderiam ficar ali pra sempre. Se o pra sempre deles não tivesse sido prometido para alguém quem não os merecesse (…)

Ela então saiu de perto dele, encontrou com as amigas que a procuravam. Sorriu apenas. Respondeu todas as perguntas delas. Foi embora e antes de dormir, viu o horário que a razão de seus sorrisos havia visto as mensagens pela última vez. Pensou em mandar algo, mas preferiu não incomodar. Enquanto ele, saia da balada ainda, indo embora na carona de um amigo brincando com a capinha da sua musa, com a cabeça encostada no vidro e sorrindo. Tentando fazer com o que acabava de acontecer substituir a vontade de estar com a dona da capa.

Não muito longe dali, a razão do sorriso dela e a musa dele se encontraram. Se esbarraram umas duas vezes, uma na saída do bar outra na saída do banheiro. Pediram desculpas um ao outro apenas uma vez. Mas eram tão desatentos para dar atenção para as intensidades que já desperdiçavam neles, que a desatenção deles só se fez mais desatenta. O acaso fez só questão do óbvio. Os dispostos se atraem, os opostos se distraem. Como já dizia o mágico poeta.

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autor_jorge

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